São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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LUÍS NASSIF

Cenários para 2003

Dos principais especialistas brasileiros em cenários estratégicos, a Macroplan Prospectivas e Estratégia traçou quatro possibilidades para o caso da vitória de Lula.
Os cenários partem de algumas "invariantes" (ou seja, fatos ou fenômenos que acontecerão independentemente dos cenários) para 2002 e 2003:
1) o Brasil convivendo com um contexto econômico externo pouco favorável (situação geopolítica mundial turbulenta e retração dos investimentos externos);
2) transição civilizada e transparente deste para o novo governo;
3) a equipe econômica de Lula definida rapidamente, logo após as eleições;
4) as demandas e reivindicações sociais recrudescendo;
5) o governo Lula com estilo e forma bastante diferentes de Fernando Henrique.
No campo das incertezas, a Macroplan define duas variáveis críticas:
1) como evoluirá o contexto externo em relação ao Brasil. No contexto favorável, a guerra EUA x Iraque evolui sem grandes complicações, e o quadro de dificuldades mundiais e desconfiança em relação ao Brasil vai se dissipando. No contexto desfavorável, ocorreu o oposto;
2) quais serão as condições de governabilidade e a qualidade da governança do presidente Lula? No cenário favorável, Lula muda a retórica, mas não é irresponsável na política econômica, conseguindo estabelecer uma sólida base de alianças e contornar o crescimento das demandas sociais. No cenário desfavorável, não consegue montar um governo operacional, sucumbe às demandas sociais, adota posturas populistas, reduz juros sem haver condições para tal.
Com a combinação dessas incertezas, a Macroplan traça quatro cenários para um futuro governo Lula em 2003.
Cenário 1: travessia para um porto seguro.
Quadro externo favorável, e, internamente, o governo Lula operando dentro das pequenas margens de manobra permitidas pelo acordo com o FMI. Em dezembro de 2003, após muita apreensão no primeiro semestre, a comunidade internacional e os investidores internos começam a recuperar a confiança no Brasil.
Cenário 2: difícil navegação.
O conflito EUA x Iraque evolui sem grandes complicações, e o quadro de dificuldades econômicas mundiais se dissipa aos poucos. Internamente, o governo Lula tem dificuldade de constituir uma base parlamentar consistente e de operar o dia-a-dia da administração. A transição é tensa e desafiante, sob pressão de demandas sociais e conflitos intragoverno, com lentidão decisória, aumento da desconfiança externa e interna, elevação do risco Brasil, pressões inflacionárias e cambiais e retração dos investimentos externos. Medidas distributivas e a intensificação de políticas sociais comprometem o superávit primário, e a tentativa de redução dos juros provoca retração dos investimentos, dificuldades na rolagem da dívida e acentuação da pressão inflacionária.
Cenário 3: recuo para mudança de rumo.
Cenário externo pessimista. Internamente, o governo Lula, mesmo com boas condições de governança e governabilidade, não consegue fazer face às pressões e é forçado a reestruturar (alongar) pelo menos parte da dívida pública, ao mesmo tempo em que intensifica programas de caráter social e medidas econômicas visando a substituição de importações e estímulo às exportações.
Cenário 4: naufrágio à vista.
Quadro externo pessimista. Internamente, o governo Lula não consegue constituir uma base de apoio parlamentar consistente e operar o dia-a-dia da administração, com lentidão decisória; o governo sucumbe às imensas expectativas e demandas sociais e toma várias medidas que ampliam o gasto público e comprometem o equilíbrio fiscal.
Embora todos os cenários acima sejam plausíveis, a avaliação da Macroplan é que para 2003 o cenário "travessia" é o mais provável, com gestão austera da economia e baixo crescimento econômico (juros com viés de baixa), manutenção do superávit primário das contas públicas, declínio da taxa de câmbio (em torno dos R$ 3), aumento das exportações e inflação controlada.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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