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LUÍS NASSIF
Cenários para 2003
Dos principais especialistas brasileiros em cenários
estratégicos, a Macroplan Prospectivas e Estratégia traçou
quatro possibilidades para o caso da vitória de Lula.
Os cenários partem de algumas "invariantes" (ou seja, fatos ou fenômenos que acontecerão independentemente dos cenários) para 2002 e 2003:
1) o Brasil convivendo com um
contexto econômico externo
pouco favorável (situação geopolítica mundial turbulenta e
retração dos investimentos externos);
2) transição civilizada e transparente deste para o novo governo;
3) a equipe econômica de Lula
definida rapidamente, logo
após as eleições;
4) as demandas e reivindicações sociais recrudescendo;
5) o governo Lula com estilo e
forma bastante diferentes de
Fernando Henrique.
No campo das incertezas, a
Macroplan define duas variáveis críticas:
1) como evoluirá o contexto
externo em relação ao Brasil.
No contexto favorável, a guerra
EUA x Iraque evolui sem grandes complicações, e o quadro de
dificuldades mundiais e desconfiança em relação ao Brasil vai
se dissipando. No contexto desfavorável, ocorreu o oposto;
2) quais serão as condições de
governabilidade e a qualidade
da governança do presidente
Lula? No cenário favorável, Lula muda a retórica, mas não é
irresponsável na política econômica, conseguindo estabelecer
uma sólida base de alianças e
contornar o crescimento das demandas sociais. No cenário desfavorável, não consegue montar
um governo operacional, sucumbe às demandas sociais,
adota posturas populistas, reduz juros sem haver condições
para tal.
Com a combinação dessas incertezas, a Macroplan traça
quatro cenários para um futuro
governo Lula em 2003.
Cenário 1: travessia para um
porto seguro.
Quadro externo favorável, e,
internamente, o governo Lula
operando dentro das pequenas
margens de manobra permitidas pelo acordo com o FMI. Em
dezembro de 2003, após muita
apreensão no primeiro semestre, a comunidade internacional e os investidores internos começam a recuperar a confiança
no Brasil.
Cenário 2: difícil navegação.
O conflito EUA x Iraque evolui sem grandes complicações, e
o quadro de dificuldades econômicas mundiais se dissipa aos
poucos. Internamente, o governo Lula tem dificuldade de
constituir uma base parlamentar consistente e de operar o dia-a-dia da administração. A transição é tensa e desafiante, sob
pressão de demandas sociais e
conflitos intragoverno, com lentidão decisória, aumento da
desconfiança externa e interna,
elevação do risco Brasil, pressões
inflacionárias e cambiais e retração dos investimentos externos. Medidas distributivas e a
intensificação de políticas sociais comprometem o superávit
primário, e a tentativa de redução dos juros provoca retração
dos investimentos, dificuldades
na rolagem da dívida e acentuação da pressão inflacionária.
Cenário 3: recuo para mudança de rumo.
Cenário externo pessimista.
Internamente, o governo Lula,
mesmo com boas condições de
governança e governabilidade,
não consegue fazer face às pressões e é forçado a reestruturar
(alongar) pelo menos parte da
dívida pública, ao mesmo tempo em que intensifica programas de caráter social e medidas
econômicas visando a substituição de importações e estímulo
às exportações.
Cenário 4: naufrágio à vista.
Quadro externo pessimista.
Internamente, o governo Lula
não consegue constituir uma
base de apoio parlamentar consistente e operar o dia-a-dia da
administração, com lentidão
decisória; o governo sucumbe às
imensas expectativas e demandas sociais e toma várias medidas que ampliam o gasto público e comprometem o equilíbrio
fiscal.
Embora todos os cenários acima sejam plausíveis, a avaliação da Macroplan é que para 2003 o cenário "travessia" é o mais provável, com gestão austera da economia e baixo crescimento econômico (juros com viés de baixa), manutenção do
superávit primário das contas públicas, declínio da taxa de câmbio (em torno dos R$ 3), aumento das exportações e inflação controlada.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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