São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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PREÇOS

Estimativa para a taxa em SP em 2002, que era de 4,5%, sobe para 5,5%

Dólar e comida fazem Fipe prever inflação anual maior

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O cenário inflacionário mudou nas últimas semanas. A forte desvalorização do real, a quebra das safras agrícolas nos principais países produtores -como Estados Unidos e Canadá- e a elevação dos preços dos alimentos, tanto no mercado interno como no externo, imprimiram novo ritmo à taxa.
A soma desses fatores fez com que a inflação do mês passado no município de São Paulo contrariasse a tendência dos últimos anos, quando a taxa de setembro sempre ficava bem abaixo da de agosto.
Essa mudança de cenário fez com que o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Heron do Carmo, reavaliasse a previsão de inflação para este ano.
A Fipe, que trabalhava com a previsão de 4,5% para 2002, mudou as estimativas para 5,5%.
A Fipe refez a previsão porque Heron prevê novos reajustes de preços para os combustíveis e para o gás de cozinha após as eleições. Os reajustes desses dois itens podem ser ainda mais elevados se os Estados Unidos atacarem o Iraque.
Heron acredita que os reajustes nos preços dos combustíveis e do gás virão aos poucos. Quando a Petrobras terminar o repasse dos 30% estimados de defasagem, a inflação estará 0,9% mais elevada só por conta desses itens.

Em setembro
A inflação do mês passado, prevista inicialmente em 0,30% pela Fipe, foi de 0,76%. Em agosto, os preços tinham subido 1,01%. Em 2001, a inflação recuou de 1,15% em agosto para 0,32% no mês seguinte.
Heron diz que a taxa de inflação só ficou fora das previsões devido aos alimentos. Apenas cinco itens do setor de alimentos foram responsáveis por 25% da taxa de inflação do mês passado. Os maiores aumentos foram para frango (8%), arroz (6%) e óleo de soja (11%).
Os preços dos alimentos não devem ceder nos próximos meses. Tradicionalmente, o Brasil vive um período de entressafra no segundo semestre, mas a pressão nos preços neste ano foi agravada pelos problemas no abastecimento externo.
A quebra de safra de trigo nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália provocou alta de 80% nos preços em dólares no mercado externo. O consumidor sentiu essa alta no bolso porque os preços do pãozinho acumulam alta de 21%.
Outro item que vem pesando no bolso dos consumidores é o óleo de soja. A alta acumulada neste ano é de 31%, apesar da safra recorde no Brasil.
A quebra de produção nos Estados Unidos e a forte demanda pelo produto nos demais países não-produtores forçaram a elevação também nos preços internos. Os preços do trigo e da soja foram esquentados, ainda, pela alta do dólar.
A desvalorização do real tornou as importações de trigo mais caras, mas favoreceu também as exportações de soja. A queda do real favoreceu também as exportações de milho, elevando os preços internos e pressionando os custos na produção de carnes.
A alta do dólar foi responsável, ainda, pela elevação dos preços dos artigos de higiene e de beleza, que ficaram 0,90% mais caros no mês passado. No mesmo período, os produtos de limpeza, que contêm componentes importados, subiram 1%.
A inflação só não foi mais aquecida porque as tarifas públicas estão deixando de pressionar o índice. Em agosto, os custos com a manutenção do domicílio subiram 2,94%, devido à alta das tarifas públicas a partir de julho. Em setembro, o aumento no setor de manutenção do domicílio recuou para 1,59%.
As tarifas públicas subiram, em média, 2,23% no mês passado, com destaque para a alta de 6,19% de água e esgoto.

Política
Heron acredita que, independentemente do candidato a presidente que for eleito, as taxas de inflação não devem sofrer grandes mudanças. Os programas dos candidatos são semelhantes, diz o economista.
Para este mês a Fipe prevê de inflação de 0,60%. Em novembro e dezembro, a taxa ficará em 0,50% por mês. Neste ano, a inflação acumulada é de 3,82% e, nos últimos 12 meses, de 5,49%. Desde o início do Real, a Fipe registra inflação de 108% -taxa média mensal de 0,75%.


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