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A hora de estadista do presidente FHC
ALOYSIO BIONDI
As vendas da Volkswagen
caem 40%, e ela anuncia demissões em massa. Outras montadoras seguirão o mesmo caminho, já trilhado por diferentes
setores industriais, como eletroeletrônicos, às voltas com gigantescos estoques.
Ninguém deseja aproveitar-se
desse quadro para meramente
criticar o governo FHC e sua
política econômica. É hora de
defender uma proposta, muito
mais profunda, para ser examinada pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso. É hora de
debater se a crise da economia
brasileira é apenas conjuntural,
passageira, ou se, na verdade,
chegou o momento de questionar toda a política neoliberal
imposta ao Brasil e ao mundo
por um desses modismos periodicamente espalhados pelos
economistas (e, obviamente,
apoiados por poderosos grupos
de interesse).
A questão que se coloca aos
brasileiros e ao presidente FHC
é simples: o que está fazendo
água, neste momento: é a economia brasileira e de outros
países em desenvolvimento? Ou
é a própria política neoliberal
que revela suas características
suicidas, por basear-se em uma
gigantesca concentração da
renda e da produção, de um
lado, e contração violenta do
nível de emprego, de outro, destruindo o mercado que deveria
consumir a produção das moderníssimas fábricas espalhadas pelo mundo? (Não se alegue
que os EUA vêm apresentando
taxas magníficas de crescimento econômico e nível de emprego: só um cego não vê que a
economia norte-americana e
suas multinacionais estão sendo as únicas a lucrarem com a
abertura indiscriminada do
mercado de países como o Brasil. Os EUA estão inundando o
mundo com suas exportações,
roubando emprego e renda dos
demais países. Esta, a verdade
óbvia).
Mundo sem saída
Há alguns meses, a revista
"The Economist" lançou um
dos primeiros sinais de alerta
contra os caminhos suicidas do
chamado "neoliberalismo". Por
meio de amplo levantamento,
mostrou que as empresas automobilísticas estavam instalando fábricas aos montes, no
mundo todo, caminhando para
a superprodução, num futuro
próximo.
A análise pode ser ampliada
-como esta coluna já registrava, na ocasião: não é apenas a
indústria automobilística, as
suas multinacionais, que se
lançaram a uma corrida. Antes
do "neoliberalismo", aceitava-se que os governos (o Estado) deveriam traçar diretrizes
para a economia levando sempre em conta todos os interesses
da sociedade. Ou, mais especificamente: se em determinado
país, com excesso de mão-de-obra, precisassem criar empregos
em grande escala, era papel do
governo criar incentivos (como
o perdão de impostos) para as
empresas que fizessem investimentos, criassem fábricas ou
serviços, com essa propriedade
de ampliar fortemente o mercado de trabalho.
Ou, em outro exemplo: se determinado país gastasse milhões de dólares com a importação de um bem qualquer,
alumínio por exemplo, caberia
ao governo oferecer vantagens
aos empresários que se dispusessem a investir na produção
desse bem -resolvendo, assim,
um problema do país.
Fim do Estado?
Em outras palavras, antes da
"onda neoliberal", aceitava-se
que ao Estado, ao governo, cabia avaliar as necessidades do
país -criação de empregos,
criação de renda, criação de
tecnologia, substituição de importações- e estabelecer políticas que estimulassem as empresas privadas a investir nessas áreas. Cabia ao Estado, enfim, identificar as prioridades
nacionais e fixar vantagens para que elas fossem atendidas.
Com a "onda neoliberal",
prevaleceu a tese de que o Estado deveria renunciar a esse papel, orientador dos investimentos e da economia. Segundo
seus defensores, cabe ao "mercado" determinar as prioridades, isto é, parte-se da teoria de
que, se a economia ficar "livre"
da influência do Estado, as empresas realizarão investimentos
racionais, para atender às necessidades e desejos do mercado, isto é, do consumidor.
O que o mundo presenciou
até agora foi exatamente o contrário. Qual um bando de vacas
loucas, as multinacionais de todos os setores desembestaram
uma corrida de investimentos
em todo o mundo. Rumo certo
à superprodução. E, como se
não bastasse, com a destruição
irracional de milhões de empregos, que leva à redução no mercado consumidor.
Não é hora de limitar a discussão a "pacotes", taxas de juros, FMI. É hora de o presidente
FHC começar a livrar o Brasil
da loucura neoliberal, com um
projeto nacional.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha. É diretor-geral do grupo Visão. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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