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NYT
Para analista, ainda há ações caras em algumas áreas
Estrategista da Merrill Lynch prevê mais queda no setor de tecnologia
KENNETH N. GILPIN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Um ano atrás, os investidores
mal podiam acreditar com que
rapidez os preços das ações de
tecnologia estavam subindo. Doze meses mais tarde, parece que
elas não vão parar de se desvalorizar. O índice Nasdaq caiu cerca de
35% este ano, até agora. Mas vale
a pena lembrar que esse mesmo
índice havia subido mais de 85%
em 1999, depois de ganhar 39,6%
em 1998.
Para muitos dos investidores
que decidiram entrar com tudo
no mercado de ações de tecnologia este ano, isso não serve de
grande consolo. E a história significa pouco para as pessoas mais
preocupadas em saber que benefício elas obtiveram recentemente. A questão que se apresenta às
pessoas que pagaram por investimentos com os quais se sustentar
no futuro é por quanto tempo
mais vai durar esse desastre do setor de alta tecnologia e quem sobreviverá a ele.
Steven Milunovich, estrategista
de tecnologia na Merrill Lynch,
concedeu uma entrevista na semana passada em que falou sobre
esse setor e suas perspectivas. Leia
abaixo trechos da conversa.
Pergunta - No começo do ano, as
pessoas diziam que as vendas eram
saudáveis porque as avaliações de
mercado de muitas empresas não
faziam sentido. As vendas que estamos vendo agora estão acontecendo porque as condições de negócios são menos saudáveis agora.
A demanda se reduziu de maneira
acentuada?
Steven Milunovich - O ímpeto
nos embarques de semicondutores está se reduzindo, de um crescimento de 69% para algo em torno de 49%. O crescimento nas
vendas de computadores pessoais
está caindo de cerca de 18% para
pouco mais de 10%. As expectativas de venda de aparelhos de telefonia celular caíram, em relação a
seu ponto na metade do ano. E os
orçamentos de investimentos de
capital para as empresas de telecomunicação devem ficar mais
ou menos estagnados em 2001.
Com a queda da demanda, parece que passaremos por uma
correção de dois trimestres de duração nos estoques das empresas.
Mas chegamos agora ao ponto de
imaginar se teremos uma aterrissagem suave ou dura, tanto para a
economia em geral quanto para
as ações de tecnologia.
Pergunta - Quanto mais os preços
podem cair?
Milunovich - As pessoas lembram o ponto a que chegamos,
vindos das alturas, mas elas também precisam se lembrar de até
que ponto subimos. O índice de
ações do setor de tecnologia da
Merrill Lynch subiu em mais de
400% entre outubro de 1998 e o
seu pico, atingido em 1º de setembro. De lá para cá, a queda registrada foi de 44%.
A capitalização de mercado das
empresas de Internet subiu de zero em 1995 para um pico de US$
1,4 trilhão no começo do ano.
Agora, ela está em cerca de US$
600 bilhões. As relações entre preços e lucros das ações desse setor
foram reduzidas a praticamente à
metade. Mas ainda se pode observar o mercado e encontrar ações
caras, particularmente no setor de
software, armazenagem de dados
e equipamentos de comunicação.
É difícil alegar que chegamos ao
fundo do poço, em se tratando
dessas companhias. Mas outras
áreas, como os produtores de
equipamento de capital para o setor de semicondutores, caíram
muito e estão se tornando baratas
sob os padrões históricos.
Pergunta - Até certo ponto, os
problemas da semana ficaram concentrados no anúncio da Gateway
de que houve sérias quedas em
suas vendas. O crescimento do
mercado de computadores pessoais terá chegado a um pico?
Milunovich - O mercado de PCs
chegou a um pico já há algum
tempo. Ainda vendemos uma
grande quantidade desse tipo de
equipamento, mas não tanto
quanto no passado.
Um dos problemas com os fabricantes das "caixas cinzentas" é
a falta de aplicativos novos e excitantes para melhorar as máquinas
existentes. Ao mesmo tempo, surgiram outros aparelhos, como o
Palm Pilot, que competem com os
computadores pessoais.
Pergunta - Que conselho o senhor
daria aos investidores?
Milunovich - Que eles procurem
os nomes de alta qualidade. Algumas das ações monstro, como a
Intel, Texas Instruments e Motorola, parecem bem atraentes. Mas
eu não investiria em tecnologia
dinheiro que eu não pudesse perder. As coisas provavelmente piorarão antes de melhorar, pois os
fundamentos estão se agravando.
Pergunta - O último período de
queda no setor de tecnologia durou muito. É provável que isso
aconteça de novo?
Milunovich - Uma das diferenças
desta vez é que estamos em uma
economia do conhecimento, não
em uma nova economia. Trata-se
de uma economia que depende
do conhecimento e de ativos intangíveis, e a tecnologia desempenha papel crucial para isso. Uma
queda no setor de tecnologia pode durar mais que os nove meses
que já tivemos. Mas é provável
que não dure cinco anos.
Tradução de Paulo Migliacci
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