São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2000

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NYT
Para analista, ainda há ações caras em algumas áreas
Estrategista da Merrill Lynch prevê mais queda no setor de tecnologia


KENNETH N. GILPIN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Um ano atrás, os investidores mal podiam acreditar com que rapidez os preços das ações de tecnologia estavam subindo. Doze meses mais tarde, parece que elas não vão parar de se desvalorizar. O índice Nasdaq caiu cerca de 35% este ano, até agora. Mas vale a pena lembrar que esse mesmo índice havia subido mais de 85% em 1999, depois de ganhar 39,6% em 1998.
Para muitos dos investidores que decidiram entrar com tudo no mercado de ações de tecnologia este ano, isso não serve de grande consolo. E a história significa pouco para as pessoas mais preocupadas em saber que benefício elas obtiveram recentemente. A questão que se apresenta às pessoas que pagaram por investimentos com os quais se sustentar no futuro é por quanto tempo mais vai durar esse desastre do setor de alta tecnologia e quem sobreviverá a ele.
Steven Milunovich, estrategista de tecnologia na Merrill Lynch, concedeu uma entrevista na semana passada em que falou sobre esse setor e suas perspectivas. Leia abaixo trechos da conversa.
 

Pergunta - No começo do ano, as pessoas diziam que as vendas eram saudáveis porque as avaliações de mercado de muitas empresas não faziam sentido. As vendas que estamos vendo agora estão acontecendo porque as condições de negócios são menos saudáveis agora. A demanda se reduziu de maneira acentuada?
Steven Milunovich
- O ímpeto nos embarques de semicondutores está se reduzindo, de um crescimento de 69% para algo em torno de 49%. O crescimento nas vendas de computadores pessoais está caindo de cerca de 18% para pouco mais de 10%. As expectativas de venda de aparelhos de telefonia celular caíram, em relação a seu ponto na metade do ano. E os orçamentos de investimentos de capital para as empresas de telecomunicação devem ficar mais ou menos estagnados em 2001.
Com a queda da demanda, parece que passaremos por uma correção de dois trimestres de duração nos estoques das empresas. Mas chegamos agora ao ponto de imaginar se teremos uma aterrissagem suave ou dura, tanto para a economia em geral quanto para as ações de tecnologia.

Pergunta - Quanto mais os preços podem cair?
Milunovich
- As pessoas lembram o ponto a que chegamos, vindos das alturas, mas elas também precisam se lembrar de até que ponto subimos. O índice de ações do setor de tecnologia da Merrill Lynch subiu em mais de 400% entre outubro de 1998 e o seu pico, atingido em 1º de setembro. De lá para cá, a queda registrada foi de 44%.
A capitalização de mercado das empresas de Internet subiu de zero em 1995 para um pico de US$ 1,4 trilhão no começo do ano. Agora, ela está em cerca de US$ 600 bilhões. As relações entre preços e lucros das ações desse setor foram reduzidas a praticamente à metade. Mas ainda se pode observar o mercado e encontrar ações caras, particularmente no setor de software, armazenagem de dados e equipamentos de comunicação. É difícil alegar que chegamos ao fundo do poço, em se tratando dessas companhias. Mas outras áreas, como os produtores de equipamento de capital para o setor de semicondutores, caíram muito e estão se tornando baratas sob os padrões históricos.

Pergunta - Até certo ponto, os problemas da semana ficaram concentrados no anúncio da Gateway de que houve sérias quedas em suas vendas. O crescimento do mercado de computadores pessoais terá chegado a um pico?
Milunovich
- O mercado de PCs chegou a um pico já há algum tempo. Ainda vendemos uma grande quantidade desse tipo de equipamento, mas não tanto quanto no passado.
Um dos problemas com os fabricantes das "caixas cinzentas" é a falta de aplicativos novos e excitantes para melhorar as máquinas existentes. Ao mesmo tempo, surgiram outros aparelhos, como o Palm Pilot, que competem com os computadores pessoais.

Pergunta - Que conselho o senhor daria aos investidores?
Milunovich
- Que eles procurem os nomes de alta qualidade. Algumas das ações monstro, como a Intel, Texas Instruments e Motorola, parecem bem atraentes. Mas eu não investiria em tecnologia dinheiro que eu não pudesse perder. As coisas provavelmente piorarão antes de melhorar, pois os fundamentos estão se agravando.

Pergunta - O último período de queda no setor de tecnologia durou muito. É provável que isso aconteça de novo?
Milunovich
- Uma das diferenças desta vez é que estamos em uma economia do conhecimento, não em uma nova economia. Trata-se de uma economia que depende do conhecimento e de ativos intangíveis, e a tecnologia desempenha papel crucial para isso. Uma queda no setor de tecnologia pode durar mais que os nove meses que já tivemos. Mas é provável que não dure cinco anos.


Tradução de Paulo Migliacci



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