São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARCHA A RÉ

Presidente terá reunião com Palocci, Meirelles e diretoria do BC, que prometeram crescimento do PIB de até 4% neste ano

Lula vai cobrar redução maior dos juros

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai mudar a política econômica de rigor fiscal e monetário, mas pretende cobrar do Banco Central uma redução maior e mais célere da taxa básica de juros por avaliar que o presidente da instituição, Henrique Meirelles, e seus diretores não entregarão o prometido: um crescimento econômico em 2005 de 4% do PIB (Produto Interno Bruto).
Oficialmente, o governo já trabalhava com crescimento próximo de 3,4% neste ano. Em conversas com Lula, Meirelles citou 4%. Na sexta-feira, após o mercado revisar para baixo suas previsões, com os mais pessimistas falando em alta de 2,1%, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) afirmou em Londres, onde participava de reunião do G7, que o resultado poderia ficar menor que o previsto pela equipe econômica.
A cobrança deverá ser feita em reunião que o presidente deseja realizar em breve com Meirelles, Palocci, membros do Banco Central e ministros importantes, como Dilma Rousseff (Casa Civil). Não seria uma inflexão do paloccismo, mas uma maior e mais rápida redução da taxa básica (Selic), hoje em 18,5% ao ano.
Lula ficou contrariado com a queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre na comparação com o segundo trimestre. Já havia sido avisado de que o resultado seria ruim, mas não esperava tão ruim, como antecipou a Folha na quinta-feira e ele próprio admitiu de público no dia seguinte.
De acordo com um ministro da cúpula do governo, Lula disse que Meirelles, pela primeira vez, não entregou o que prometera ao presidente. Até há pouco, nos debates internos do governo em que era cobrado, Meirelles tinha um argumento imbatível ao discutir juros. "Não tenho dogma, meço a política monetária pelos resultados", costumava dizer, segundo relato à Folha de quem compareceu a esses encontros.

Crescimento duradouro
Trocando em miúdos: Meirelles dizia que, apesar de o BC ter adotado processos de elevação de juros em 2003 e 2004, os resultados da economia real eram positivos e sustentavam um crescimento duradouro. O crescimento de 4,9% do PIB em 2004, contra 0,5% em 2003, ano do ajuste petista ao chegar ao governo, era mencionado por ele como prova disso. Ele citava ainda a alta das exportações e o aumento do emprego.
Nesses embates, Meirelles sempre contou com o apoio de Palocci, até mesmo quando o ministro e auxiliares discordavam das decisões do Banco Central. O ministro da Fazenda sempre argumentou internamente que admitir pressões ou contestações à autonomia operacional prática da autoridade monetária traria prejuízo à economia.
Palocci sempre defendeu debates muito reservados e negativas públicas de qualquer divergência que pudesse colocar em risco a percepção do mercado financeiro e dos investidores internacionais de que o Brasil seguiria firme com sua política econômica austera.
Apesar de ter convivido mal com a política econômica nestes quase três anos de governo, Lula bancou Palocci e Meirelles por causa dos resultados práticos positivos no "contexto brasileiro", para usar expressão do presidente do Banco Central. Há um acordo entre Lula e Meirelles, segundo o qual o BC tem autonomia na prática. Isso não impediu o presidente de fazer cobranças e pressões.
Lula já disse que será mantido o forte ajuste fiscal -superávit primário de 4,25% do PIB em 2006, que é a economia para pagar juros da dívida. Ele deseja é mais velocidade da queda dos juros. Palocci, porém, tem sido hábil em contornar situações assim.
Na sexta-feira, após falar com Palocci, o presidente corrigiu um discurso do dia anterior no qual sugeriu "reparo" e "ajustes" na política econômica. O presidente disse que a política econômica não mudaria e que acreditava num forte crescimento do PIB no ano que vem.

Desconfiança presidencial
De acordo com um auxiliar direto, Lula está desconfiado de que tenha sido escondido dele de propósito o dado tão ruim do PIB. De outras vezes, quando a notícia era boa, soube com antecedência. Dessa vez, ele teve ciência na manhã de quarta-feira, quando saiu o dado oficial. Palocci também se disse surpreso.


Texto Anterior: Casal mora em esgoto há quatro anos em SP
Próximo Texto: Marcha a ré: Revisão do PIB pode reforçar efeito Selic
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.