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TERRA EM TRANSE
Especialistas temem ressurgimento de políticas inadequadas na região, que terá 12 eleições no próximo ano
Novo populismo na AL preocupa economistas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dezembro inaugura o ano das
eleições presidenciais na América
Latina. Serão nove a partir de agora e, se incluídas as eleições legislativas, 12, nada menos do que
uma por mês, em média.
Com as mudanças políticas,
surge o risco de mudanças econômicas, o que faz os economistas,
ou pelo menos parte importante
deles, preocuparem-se com o que
tem sido chamado de nascimento
do "novo populismo" na região.
"O macropopulismo está morto" diz Sebastian Edwards, ex-economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, hoje
economista da Universidade da
Califórnia. Edwards, com Rudiger
Dornbusch, é autor de "A Macroeconomia do Populismo na
América Latina", em que ele explica: "A macroeconomia do populismo enfatiza o crescimento e
a distribuição de renda, mas não
leva em conta os riscos da inflação, do déficit público, das restrições externas e da reação dos
agentes econômicos a políticas
agressivas".
No Brasil para participar do Seminário Interamericano de Economia, realizado na PUC-RJ pelo
NBER (ONG norte-americana
que reúne pesquisadores da área
de economia), ele debateu o suposto ressurgimento do populismo com o ex-ministro Pedro Malan (Fazenda), o brasilianista Albert Fishlow e o economista Dionísio Carneiro, da PUC.
Em maior ou menor grau, todos
concordam que há uma espécie
de "novo populismo" espreitando a região. Para Edwards, ele é
novo porque não traz de volta o
mesmo tipo de abordagem dos
anos 60 e 70. Ao invés de política
macroeconômica alternativa, surgiu, na avaliação dele, o "micropopulismo". Ou seja, há pouca
dúvida a respeito da necessidade
de se preocupar com o controle
de inflação e gastos públicos, mas
há uma série de políticas microeconômicas, como proteção à indústria, que ele considera fazer
parte de um novo populismo.
Fishlow concorda que o que era
chamado de populismo no campo econômico há 20 anos perdeu
praticamente todo o espaço. O
novo populismo, diz ele, não propõe um novo modelo econômico.
"O Equador está dolarizado, a Venezuela sobrevaloriza moeda e a
Argentina tem modelo econômico com câmbio desvalorizado e
controlado", exemplifica, com
países que ele considera como focos do novo populismo.
O que ele chama de novo populismo é basicamente o que Edwards chama de micropopulismo. "Política de elevação irresponsável de salários, proteção à
indústria, incerteza em relação às
regras", diz.
Há motivo para se preocupar
com o surgimento de um novo
populismo? Para a Fitch Ratings,
o risco é pequeno. A maioria dos
países deve manter políticas similares à brasileira, em menor ou
maior grau. De qualquer maneira,
o risco sempre existe e há indícios
de que a população da região não
está muito satisfeita com os resultados da política adotada até agora. Em 2002, nada menos do que
45% dos latino-americanos disseram ao Latinobarômetro que eles
apoiariam um governo não-democrático se ele resolvesse os
"problemas econômicos". É verdade que, desde então, os países
da região pegaram carona na onda de crescimento mundial, mas
continuam andando mais devagar que outros países emergentes.
A agência de classificação de risco chega a dividir os países pelo
grau de risco político. Brasil e México estão no grupo de médio risco, Chile, no de risco baixo. Entre
os mais arriscados, estão Venezuela e Bolívia. O risco político,
nesse caso, é entendido como a
possibilidade de mudanças drásticas na política econômica.
Dionísio Carneiro, mais pessimista, vê uma espécie de "janela
de oportunidade" para o ressurgimento do populismo. Ele lembra
a boa conjuntura internacional,
com preços de commodities em
alta, dinheiro sobrando nos mercados e investidores mais tolerantes. O que tudo isso tem a ver com
o renascimento de políticas econômicas inadequadas?
Os países, apesar de relativamente mais abertos, estão menos
dependentes do mercado financeiro internacional e menos vulneráveis. Com isso, ficam também menos sujeitos à vigilância
do mercado. Por outro lado, diz
Carneiro, "o desempenho medíocre do crescimento aumenta a intolerância com as políticas monetárias conservadoras".
Fishlow lembra que não é à toa
que cresce a insatisfação dos latino-americanos com a "boa política econômica", já que, depois de
quase duas décadas de abertura,
privatização e reformas, o crescimento não apareceu.
Malan também diz duvidar da
"morte do macropopulismo",
mas diz que há um processo de
aprendizagem pelo qual a própria
população acaba descobrindo
que "não há mágicas".
"A saída é aprofundar o debate
público para mostrar que algumas promessas não são viáveis,
possíveis", diz.
Claro, o que Malan, Edwards,
Carneiro e Fishlow consideram
populismo é visto por economistas de outras linhas teóricas como
política adequada para emergentes, que inclui política industrial,
controle de capitais e adoção de
câmbio desvalorizado.
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