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Estagnação gera instabilidade política, afirma professor de Harvard
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Num momento em que o governo brasileiro culpa a crise política
pela atual queda no crescimento,
um professor da Universidade
Harvard aponta em outra direção: é o histórico de crescimento
pífio, ligado a uma intenção equivocada de estabilidade financeira,
que causa um espiral de instabilidade política e regressos cívicos.
Em seu livro recém-lançado nos
Estados Unidos, "As Conseqüências Morais do Crescimento Econômico", Benjamin Friedman defende a supremacia do crescimento econômico em território
geralmente não-navegado por
macroeconomistas: o avanço social e a felicidade da sociedade.
Sua tese parece intuitiva: o aumento de renda sustentado e bem
distribuído cria as bases para uma
sociedade mais tolerante, generosa, aberta e democrática.
É uma resposta indireta, e por
vezes arrogante, à geração de desenvolvimentistas e cientistas políticos que pregam políticas diretas de liberdade, inclusão, trabalho digno, segurança e sustentabilidade ambiental -apesar de
possíveis impactos negativos no
PIB (Produto Interno Bruto).
Em entrevista à Folha, Friedman afirmou, com serenidade
professoral, que não há um "dilema cruel" entre crescimento e desenvolvimento. Desde que, claro,
o desenvolvimento não prejudique diretamente o crescimento,
este, sim, o motor sustentável para o avanço de ideais liberais.
"Não sou especialista em Brasil,
mas a lição da história é bastante
clara. Para países nessa faixa de
renda, o resultado da estagnação
de longo prazo é a instabilidade
política. Pensar que se está perseguindo estabilidade por meios
que geram estagnação é simplesmente equivocado. Esse não é o
caminho", disse.
Não caiu na provocação da resenha do jornal "The New York Times" que chamou seu livro de
"manifesto capitalista". De fato,
Friedman não prega uma visão
puramente mercadista. Ele vai
além. Para ele, o governo deve estimular, com investimentos sociais, os patamares de crescimento estabelecidos pelo mercado,
que não contabiliza os benefícios
morais de longo prazo.
"Não é crescer só por crescer.
Depois de muitos anos estudando
como maximizar a produção e
aumentar a capacidade, quis explicar por que isso importa. E daí
se a economia funciona a plena
potência? Quando o país é pobre,
a reposta é óbvia. Mas até quando
o país é rico isso é importante",
disse o professor, que leciona em
Harvard desde 1972 e já foi chefe
do departamento de economia.
Friedman se calça em estudos
psicológicos sobre a felicidade. "A
felicidade é um conceito absolutamente relativo, com dois fatores.
A comparação com a nossa situação anterior e a comparação com
os demais", disse.
"Queremos avançar em ambas
medidas, mas melhorar em uma
dimensão tira a ansiedade em melhorar na outra. Com crescimento
econômico amplo, há menos urgência em nos comparar com os
demais."
Desigualdade
Friedman escapa da polêmica
do aprofundamento da desigualdade, armadilha recorrente do
crescimento setorializado. "Temos mais evidência para a queda
na curva de Kuznets do que para a
escalada", disse, em referência à
relação primeiro positiva e depois
negativa entre crescimento e concentração de renda.
Friedman se recusa a chamar de
crescimento o aumento de renda
nacional que beneficia apenas os
ricos. "Eu não considero isso crescimento econômico. Tem que ser
amplo", protesta.
No entanto, ele também acha
difícil considerar ruim, em termos absolutos, um aumento da
desigualdade. "Se todos estão
com renda melhor, mas há mais
desigualdade, a metade de baixo
se incomoda, mas a metade de cima acha bom", relativizou.
Em seu livro, rejeita com apenas
uma frase a tese de Amartya Sen,
Prêmio Nobel de Economia. Para
Sen, apenas o desenvolvimento
econômico não garante ideais de
liberdades fundamentais. Para
Friedman, a história indica que o
avanço econômico propicia essas
liberdades humanas melhor que
as políticas focadas de Sen.
Friedman defende investimentos sociais para propulsionar o
crescimento. Mas, na prática, não
há fórmula fácil. O que fazer
quando o orçamento é apertado e
o governo tem que fazer escolhas?
"Mas sempre há restrições orçamentárias. Essa é a primeira lição
no primeiro dia de estudo de economia. A minha mensagem é
apenas que o crescimento deve
ser promovido, aqui ou em países
em desenvolvimento", disse.
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