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SISTEMA FINANCEIRO
Crime só teria sido descoberto porque instituição desconfiou de sinais de riqueza dos funcionários
Fraude no Santander não é caso isolado, diz delegado
ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A fraude de US$ 1,9 milhão no
Santander, que veio a público há
cerca de 15 dias, expôs uma ferida
do mercado financeiro. Oficialmente, as instituições afirmam
que seus controles são rígidos e
imunes a fraudes.
Extra-oficialmente, quando os
gravadores estão desligados, a
conversa é outra: a fraude no Santander não seria um caso isolado,
mas mais um entre os vários que
ocorrem no cotidiano do mercado financeiro. O próprio delegado
que dirigiu o inquérito, Ruy Ferraz Fontes, titular da Delegacia de
Roubo a Bancos de São Paulo,
constatou esse fato.
Nos dias 20 e 21 de fevereiro, foram presos três ex-operadores de
mesa do Santander. Conforme
Fontes, os três, aliados a um diretor da corretora Ipanema, teriam
desviado US$ 1,9 milhão em 18
operações de "swap".
"Swap" é uma operação de troca de indexador. Se uma empresa
tem uma dívida, por exemplo, indexada ao dólar, mas teme que a
cotação dessa moeda venha a subir muito, ela pode procurar uma
instituição financeira e solicitar
um "swap", isto é, que a variação
cambial do seu contrato seja trocada por outro indexador.
A negociação é feita caso a caso,
e, de acordo com normas do Banco Central, todas devem ser registradas na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) ou na Cetip
(Central de Custódia e Liquidação
Financeira de Títulos).
No caso Santander, conforme
Fontes, foi constatada fraude em
18 operações de "swap" realizadas
entre abril e agosto de 2001, sendo
todas de dólar contra DI. A corretora envolvida entrava na operação, negociando para clientes
com dívida em dólar que queriam
trocar a variação cambial pela do
CDI (Certificado de Depósito Interbancário, título utilizado como
referência na renda fixa).
Já o Santander, por meio dos ex-operadores, atuava na outra ponta, assumindo o risco da variação
cambial e possibilitando que a dívida do cliente da corretora passasse a ser corrigida pelo CDI.
Seguindo o procedimento padrão, a operação era fechada, por
telefone, entre um representante
da corretora e um operador de
mesa do Santander e registrada
no final do dia na BM&F.
Esse tipo de operação resulta
em uma taxa de juro por determinado prazo. No caso da fraude,
explica Fontes, os acusados estariam fechando as operações, por
telefone, por uma taxa e as registrando na BM&F por outra mais
baixa. Por exemplo: se a taxa, ao
telefone, tivesse sido de 10%, no
registro ela aparecia como 9%.
A corretora cobrava os 10% do
seu cliente, mas repassava 9% ao
Santander. A diferença de um
ponto percentual, informalmente, era dividida entre a corretora e
os operadores de mesa do Santander. Fontes diz que a fraude teria
sido comprovada pelo banco ao
checar se os valores acordados
por telefone conferiam com os registrados na Bolsa.
Segundo o que o delegado apurou durante as investigações, a
fraude cometida seria comum no
mercado financeiro. Uma das suposições é que ela só teria vindo à
tona porque os ex-operadores e a
corretora envolvidos estariam
sendo muito gananciosos.
Enquanto os acusados ficavam
com 0,6 a um ponto percentual
dos juros acordados, no dia-a-dia
do mercado financeiro, as "comissões" estariam na casa de 0,01
ponto percentual -bem menores e mais difíceis de serem flagradas, principalmente porque os
contratos costumam ser de valores muito altos.
Segundo a Folha apurou no
Santander, os valores surrupiados
não estariam fora da praxe de
mercado. O que teria chamado a
atenção da direção do banco e deflagrado a investigação seriam os
sinais exteriores de riqueza dos
acusados, acima de suas posses.
Os envolvidos
Os acusados no caso Santander
são os ex-operadores do banco
Marcos Aylon Leão Luz, 32, Roberto Cantoni Rosa, 27, e Lincoln
Dias Miranda, 28, além de Alcyr
Duarte Collaço Filho, diretor da
corretora Ipanema.
Rosa e Luz estão em prisão preventiva e afirmam que são inocentes. Miranda está em liberdade, pois a Justiça entendeu que
não há provas contra ele.
Collaço também deveria estar
em prisão preventiva, mas encontra-se foragido.
O banco Santander tem evitado
falar no caso para não atrapalhar
as investigações.
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