São Paulo, terça-feira, 05 de março de 2002

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Problema ocorre em diversas operações

DA REPORTAGEM LOCAL

Os ex-operadores acusados no caso Santander alegam inocência. Se são culpados ou não, a Justiça dirá. O fato, porém, é que fraudes como essa são comuns e dificilmente chegam ao conhecimento das autoridades e do público.
Como explica o dono de uma conceituada corretora, essas fraudes permeiam não só as operações de "swap" como várias outras negociações, "principalmente as realizadas nas mesas de câmbio dos bancos". Não é incomum, diz ele, ver demissões de equipes inteiras de câmbio de uma só vez.
Como diariamente o mercado financeiro brasileiro negocia centenas de milhares de reais em títulos e contratos financeiros e os preços deles oscilam durante o dia, uma "mordidinha" ali e outra lá tornaram-se prática comum.
Tudo acontece de forma muito natural. Vamos supor uma corretora que precise comprar dólares para o seu cliente. Ela liga para um banco e diz: preciso de US$ 50 milhões. O banco responde: vendo pela cotação de R$ 2,43. A corretora argumenta: meu cliente aceita pagar R$ 2,44. Fecha-se a operação por R$ 2,43, mas cobra-se do cliente R$ 2,44. A diferença vai para os "negociadores".
Essas operações não vêm a público porque, além de ser difícil o rastreamento, não raramente envolvem gente de primeiro escalão.
Outro motivo para o acobertamento, explica um consultor, é que a direção das instituições financeiras teme que o caso, tornando-se público, manche a sua imagem e afugente os clientes. "A instituição prefere demitir os funcionários e deixar o caso no esquecimento. Embora não conheça os detalhes da fraude do Santander, a atitude do banco me parece bastante corajosa e louvável", diz esse consultor. Um ex-operador de mercado concorda: "Casos como esse tornam-se conhecidos entre as instituições, mas nunca perante ao público."
Resta saber se essa coragem vai resultar em alguma coisa. Como diz o diretor de uma instituição financeira: "Ninguém no mercado tem interesse de que uma fraude desse tipo seja divulgada. Acredito que o caso Santander não será elucidado. Vão abafar tudo." (IC)

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