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OPINIÃO ECONÔMICA
Concorrência ajuda a reduzir os juros
GESNER OLIVEIRA
O debate acerca do alto custo do dinheiro no Brasil praticamente se restringe à determinação da taxa básica de juros, a
Selic, mensalmente fixada nas
reuniões do Copom (Comitê de
Política Monetária). Há, contudo,
vários outros pontos a merecer a
devida atenção.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) manifestou nesta
semana a intenção do governo de
acelerar vários projetos que já se
encontram em tramitação no
Congresso e podem ajudar no barateamento do crédito, incluindo
uma nova Lei de Falências.
Um conjunto sistemático de
medidas poderia impulsionar a
oferta de crédito, que se encontra
em níveis muito baixos para um
país que deseja crescer. Segundo
dados do FMI, o crédito representa menos de 30% do PIB brasileiro, contra percentuais de 191%,
126% e 62% no Japão, Alemanha
e EUA, respectivamente.
Na última quinta-feira, a Comissão de Defesa da Concorrência da OAB lançou uma proposta
de como garantir a aplicação da
legislação de defesa da concorrência no setor bancário.
Como se sabe, diferentemente
dos outros segmentos regulados
da economia, como energia elétrica e telecomunicações, persistem dúvidas quanto ao órgão
competente para fazer valer as regras da concorrência para os bancos. Banco Central e Cade se consideram competentes para apreciar fusões bancárias e casos de
conduta anticompetitiva.
Independentemente de quem
vai atuar, uma rápida inspeção
nos dados sobre custo do crédito
no site do Baco Central
(www.bcb.gov.br) mostra que há
muito a ser feito.
Não é nenhuma novidade que o
nível dos juros para o tomador final no Brasil são muito elevados,
algo em torno de 46% ao ano em
agosto de 2002. A taxa de captação para a instituição financeira
naquele mês foi de 15% ao ano. A
diferença entre as duas taxas
constitui o chamado "spread"
bancário, de 31% ao ano.
Embora tais dados tivessem de
ser mais bem depurados, a desagregação do "spread" bancário
para este mês é reveladora. Os impostos, diretos e indiretos, representaram cerca de 29% do
"spread". A inadimplência e despesas administrativas responderam, por sua vez, por 17% e 14%,
respectivamente. Por fim, a margem do banco liderou com 40%.
Tais números sugerem um caminho a ser percorrido para baixar o custo do dinheiro, para
além naturalmente de uma política macroeconômica consistente
que permita uma redução gradual da taxa básica de juros.
Será preciso reformar a economia de forma a permitir uma menor carga fiscal sobre as transações financeiras, diminuir o risco
envolvido nas operações de crédito e aumentar a concorrência entre os bancos, especialmente em
alguns segmentos, como no fornecimento de crédito a médios e pequenos empreendimentos.
As propostas em pauta no Congresso, bem como as sugestões de
implementação da lei de defesa
da concorrência no setor bancário, contêm decerto inúmeros
pontos polêmicos. Mas os elevados encargos financeiros e os magros resultados de crescimento da
economia mostram que não há
tempo a perder.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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