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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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PÉ NO FREIO

Conselho dos diretores da instituição se reúne hoje, e a expectativa é que a taxa caia de 2,5% ao ano para 2%

Sob pressão, BC Europeu deve cortar juros

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O BCE (Banco Central Europeu) deverá reduzir hoje sua taxa básica de juros. Assim, os países que adotam o euro teriam os menores juros dos últimos 50 anos.
A taxa está em 2,5% ao ano- um nível que já é historicamente baixo.
A pressão exercida pelo fraco desempenho da economia da eurolândia -o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 0,8% no primeiro trimestre deste ano- e a inflação em queda sustentam a confiança de que o BCE seja compelido a reduzir a taxa de juros.
Sinais que endossam essa previsão partem do próprio banco. "As pressões inflacionárias caíram significativamente nos últimos meses. Isso se refletirá nas nossas deliberações a respeito da política monetária", disse Wim Duisenberg, presidente do BCE, em documento oficial divulgado nesta semana pelo banco.
A declaração de Duisenberg alimentou a convicção do mercado na redução dos juros. As previsões apontam que a taxa pode recuar para 2% ou -num cenário conservador- para 2,25%.
Analistas ouvidos pela Folha calculam que a taxa deve recuar para 2% ao ano.
"Não vejo razão para que o BCE espere mais. As nossas mais recentes projeções prevêem um corte de 0,5 ponto percentual ", diz Vicent Koen, economista sênior da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A mesma opinião é partilhada por Katinka Barysh, economista-chefe do CER (Centro para a Reforma da Europa), sediado em Londres. "Um corte de 0,25 não seria suficiente. Os indicadores estão muito fracos. A atividade industrial -especialmente na Alemanha, que está à beira da recessão- está em declínio, o índice de confiança dos consumidores está em queda. Se o BCE não fizer nada, esse quadro pode ser agravado", diz.

Indicadores "anêmicos"
"Não há sinal de retomada do crescimento", diz estudo da OEF (Oxford Economic Forecast) com relação à economia da União Européia. Os motivos são claros.
Na França, a taxa de desemprego de abril continuou estacionada em 9,3%. Na Holanda, o ministro das Finanças anunciou que o déficit orçamentário vai chegar a 1,6% do PIB, contra 1,2% em 2002.
Dados da Eurostat (braço estatístico da Comissão Européia) mostram que as vendas do varejo caíram 1,2% em março em comparação com o mês anterior. Além disso, o setor de serviços na Itália, na França e na Alemanha também está em declínio.
Nesse contexto, o corte da taxa de juros tem sido vista o único remédio possível a curto prazo. "Como os países da zona do euro estão amarrados pelo pacto de estabilidade [que limita o déficit público a no máximo 3% do PIB] há pouco espaço para manobras individuais. Por isso, o corte na taxa de juros é crucial. É o único instrumento que pode dar um ânimo para a economia nesse momento", avalia Christophe Duval-Kieffer, economista do Crédit Suisse First Boston, em Londres.
Holger Fahrinkrug, economista sênior do UBS Warburg, em Frankfurt, também reitera o papel de destaque da política monetária do BCE nos rumos da economia da UE, mas é mais cauteloso a respeito dos benefícios do corte.
"Um corte de 0,5 sozinho não vai mudar as coisas dramaticamente. Mas é necessário fazê-lo. Aliás, prevemos que, mais tarde, será preciso fazer mais outro corte de 0,5, para contrabalançar a deterioração monetária causada pela apreciação do euro", afirma Fahrinkrug.
Para potencializar os efeitos da redução dos juros a médio e longo prazos, os economistas também recomendam reformas estruturais algo amargas.
No caso da Alemanha, elas passam pela flexibilização das leis trabalhistas e redução dos benefícios sociais concedidos pelo Estado. Porém, a economista do CER destaca que essa medida pode ter um efeito recessivo. "Essas reformas podem levar a uma queda da demanda doméstica a curto prazo", pondera Barysh.

Impacto do euro forte
O discurso oficial dos dirigentes da UE expressa tranquilidade com relação à elevação do euro.
Porém, para boa parte dos analistas, é mais um fator no quadro de deterioração dos indicadores econômicos. A razão é que o comércio exterior da região, que poderia ser a via mais rápida para sair da estagnação, é prejudicado.
Com a permanência do euro forte em relação ao dólar, os produtos europeus tornam-se mais caros e, por isso, menos atraentes. "A apreciação do euro espreme a margem de lucro dos exportadores e pode, com o tempo, reduzir a sua fatia de participação no mercado internacional", diz Koen.


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