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PÉ NO FREIO
Conselho dos diretores da instituição se reúne hoje, e a expectativa é que a taxa caia de 2,5% ao ano para 2%
Sob pressão, BC Europeu deve cortar juros
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O BCE (Banco Central Europeu) deverá reduzir hoje sua taxa
básica de juros. Assim, os países
que adotam o euro teriam os menores juros dos últimos 50 anos.
A taxa está em 2,5% ao ano-
um nível que já é historicamente
baixo.
A pressão exercida pelo fraco
desempenho da economia da eurolândia -o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 0,8% no
primeiro trimestre deste ano- e
a inflação em queda sustentam a
confiança de que o BCE seja compelido a reduzir a taxa de juros.
Sinais que endossam essa previsão partem do próprio banco. "As
pressões inflacionárias caíram
significativamente nos últimos
meses. Isso se refletirá nas nossas
deliberações a respeito da política
monetária", disse Wim Duisenberg, presidente do BCE, em documento oficial divulgado nesta
semana pelo banco.
A declaração de Duisenberg alimentou a convicção do mercado
na redução dos juros. As previsões apontam que a taxa pode recuar para 2% ou -num cenário
conservador- para 2,25%.
Analistas ouvidos pela Folha
calculam que a taxa deve recuar
para 2% ao ano.
"Não vejo razão para que o BCE
espere mais. As nossas mais recentes projeções prevêem um
corte de 0,5 ponto percentual ",
diz Vicent Koen, economista sênior da OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento
Econômico).
A mesma opinião é partilhada
por Katinka Barysh, economista-chefe do CER (Centro para a Reforma da Europa), sediado em
Londres. "Um corte de 0,25 não
seria suficiente. Os indicadores
estão muito fracos. A atividade industrial -especialmente na Alemanha, que está à beira da recessão- está em declínio, o índice
de confiança dos consumidores
está em queda. Se o BCE não fizer
nada, esse quadro pode ser agravado", diz.
Indicadores "anêmicos"
"Não há sinal de retomada do
crescimento", diz estudo da OEF
(Oxford Economic Forecast) com
relação à economia da União Européia. Os motivos são claros.
Na França, a taxa de desemprego de abril continuou estacionada
em 9,3%. Na Holanda, o ministro
das Finanças anunciou que o déficit orçamentário vai chegar a 1,6%
do PIB, contra 1,2% em 2002.
Dados da Eurostat (braço estatístico da Comissão Européia)
mostram que as vendas do varejo
caíram 1,2% em março em comparação com o mês anterior.
Além disso, o setor de serviços na
Itália, na França e na Alemanha
também está em declínio.
Nesse contexto, o corte da taxa
de juros tem sido vista o único remédio possível a curto prazo.
"Como os países da zona do euro
estão amarrados pelo pacto de estabilidade [que limita o déficit público a no máximo 3% do PIB] há
pouco espaço para manobras individuais. Por isso, o corte na taxa
de juros é crucial. É o único instrumento que pode dar um ânimo para a economia nesse momento", avalia Christophe Duval-Kieffer, economista do Crédit
Suisse First Boston, em Londres.
Holger Fahrinkrug, economista
sênior do UBS Warburg, em
Frankfurt, também reitera o papel
de destaque da política monetária
do BCE nos rumos da economia
da UE, mas é mais cauteloso a respeito dos benefícios do corte.
"Um corte de 0,5 sozinho não
vai mudar as coisas dramaticamente. Mas é necessário fazê-lo.
Aliás, prevemos que, mais tarde,
será preciso fazer mais outro corte de 0,5, para contrabalançar a
deterioração monetária causada
pela apreciação do euro", afirma
Fahrinkrug.
Para potencializar os efeitos da
redução dos juros a médio e longo
prazos, os economistas também
recomendam reformas estruturais algo amargas.
No caso da Alemanha, elas passam pela flexibilização das leis trabalhistas e redução dos benefícios
sociais concedidos pelo Estado.
Porém, a economista do CER destaca que essa medida pode ter um
efeito recessivo. "Essas reformas
podem levar a uma queda da demanda doméstica a curto prazo",
pondera Barysh.
Impacto do euro forte
O discurso oficial dos dirigentes
da UE expressa tranquilidade
com relação à elevação do euro.
Porém, para boa parte dos analistas, é mais um fator no quadro
de deterioração dos indicadores
econômicos. A razão é que o comércio exterior da região, que poderia ser a via mais rápida para
sair da estagnação, é prejudicado.
Com a permanência do euro
forte em relação ao dólar, os produtos europeus tornam-se mais
caros e, por isso, menos atraentes.
"A apreciação do euro espreme a
margem de lucro dos exportadores e pode, com o tempo, reduzir a
sua fatia de participação no mercado internacional", diz Koen.
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