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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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COMENTÁRIO

BCE deveria ser audacioso

DO "FINANCIAL TIMES"

O BCE (Banco Central Europeu) raramente ofereceu tantas indicações de que está pronto para afrouxar a política monetária. A questão é determinar até que ponto seu conselho supervisor avançará hoje.
Desde sua última reunião, em 8 de maio, quando Wim Duisenberg, o presidente do banco, defendeu vigorosamente a manutenção da taxa de refinanciamento da zona do euro em 2,5%, muita coisa mudou. A inflação anualizada caiu a 1,9% na região, em maio, e está abaixo da referência de 2% estipulado pelo BCE pela primeira vez desde junho de 2002. As perspectivas econômicas se deterioraram. E o tom adotado pelos membros do conselho supervisor do BCE se abrandou.
Duisenberg admitiu nesta semana que "as pressões inflacionárias se reduziram significativamente". Otmar Issing, membro do conselho executivo do BCE, disse na semana passada que "a margem de manobra de política monetária mudou", depois da valorização cambial do euro. E, na semana anterior, Ernst Welteke, presidente do Bundesbank (banco central alemão), dissera aos ouvintes de um programa de rádio na Alemanha que "certamente discutiremos, na próxima reunião, se um novo corte na taxa de juros é necessário".
Infelizmente, mesmo que o corte na taxa de juros pareça certo, o BCE continua determinado a não reduzir sua taxa de referência em mais que meio ponto percentual. Os membros do conselho supervisor têm se esforçado por enfatizar que as taxas nominais de juros européias já estão muito baixas. O BCE rejeita, igualmente, qualquer responsabilidade pelas dificuldades de crescimento econômico da região. E insiste em que dispõe de "margem de segurança suficiente para se defender contra os potenciais riscos de deflação".
A Europa deveria se preocupar diante de tal complacência. As taxas nominais de juros podem estar em ponto histórico de baixa, mas a combinação de crescimento débil e de inflação muito baixa também não oferece precedente. Duisenberg está certo ao solicitar reformas tributárias em toda a Europa, mas precisa compreender que esse tipo de mudança demora e que os problemas associados ao processo são mais fáceis de absorver quando o crescimento e a inflação são mais elevados.
Os riscos de política monetária que afligem a Europa são altamente assimétricos. Uma postura monetária muito frouxa poderia deflagrar inflação moderada, mas uma política firme demais poderia rapidamente criar uma armadilha de liquidez na qual a política monetária perderia sua potência. O pior é que, diferentemente dos bancos centrais que cuidam de um único país, falta ao BCE a capacidade legal de combater os riscos de deflação com idéias políticas heterodoxas quando as taxas de juros tiverem caído a zero.
O "Financial Times" vem dizendo desde o começo de abril que o BCE deveria realizar um corte de um ponto percentual na taxa de juros. Os argumentos em favor de um corte dessa ordem só se fortaleceram de lá para cá. É hora de o BCE tomar medidas decisivas.


Tradução de Paulo Migliacci


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