São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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POLÍTICA MONETÁRIA
Armínio Fraga afirma, em Londres, que reajuste de tarifas não inverterá tendência de queda dos índices
Alta de serviços não eleva inflação, diz BC

Ana Carolina Fernades - 7.mai.99/Folha Imagem
O presidente do BC, Armírio Fraga, que defendeu implantação de sistema de metas inflacionárias em seminário em Londres


SYLVIA COLOMBO
de Londres

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse ontem em Londres que está acompanhando o aumento dos preços de alguns serviços, como, por exemplo, telefones e energia elétrica, "mas não acredito que isso vá elevar a inflação", afirmou.
Fraga defendeu também a implantação do sistema de metas inflacionárias ("inflation targeting"), que será anunciado pelo ministro Pedro Malan (Fazenda) até o final deste mês.
Ainda com relação ao aumento dos preços dos serviços, Fraga afirmou: "É um elemento que vamos observar, mas não há nada que indique que isso vá reverter a atual trajetória da inflação".
Os institutos de pesquisa têm afirmado que o reajuste de serviços deverá impactar o índice de inflação neste mês. Em maio, tanto o IPC, medido pela Fipe, quanto o IGP, medido pela Fundação Getúlio Vargas, registraram deflação (0,37% e 0,29%, respectivamente).
O presidente do BC comentou também a recente recusa do Estado de Pernambuco em pagar sua dívida com a União e as turbulências na economia argentina.
"O objetivo da política monetária é combater a inflação, os fatores externos influenciam indiretamente. Esses fatos tiveram impacto no mercado, e isso não ajuda."

Aprendendo
O presidente do BC está em Londres participando de um encontro com outros 15 presidentes de bancos centrais, promovido pelo Banco da Inglaterra.
O seminário, com o tema "A escolha de metas de política monetária", é preparatório para a reunião geral do Banco Internacional de Compensações, que acontecerá na Suíça.
Fraga disse que seu principal interesse é "aprender de outros bancos centrais um pouco sobre independência operacional do órgão, "inflation targeting" e supervisão do setor financeiro".
"Estou muito confiante em que o sistema "inflation targeting" é bom". Quanto aos índices que definirão as metas para a inflação, Fraga afirmou ainda não haver consenso.
"Há muito debate sobre o assunto. Gostaria que se usasse mais de um índice, mas essa é uma decisão do Executivo e não do Banco Central."
Fraga afirmou que o sistema de "inflation targeting" mudará o funcionamento do BC. "A estrutura força a pesar vários aspectos e envolve um compromisso, mudando o BC como instituição."
Fraga disse que conversou com especialistas e o que ouviu sobre a implantação do sistema em outros países é que "uma vez atingindo certo grau de estabilidade, o sistema de "inflation targeting" ajuda a manter esse nível", completou.
Segundo ele, mesmo países que não adotam formalmente o "inflation targeting" têm outras maneiras informais de estabelecer parâmetros. "Estados Unidos, Alemanha e Japão não têm "inflation targeting" formal, mas operam como se tivessem, pois têm em seus estatutos um objetivo de estabilidade dos preços e têm independência operacional para fazer isso."
No caso do Brasil, segundo Fraga, a adoção do sistema vai encurtar o tempo necessário para adquirir credibilidade.


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