São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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SIDERURGIA

Empresa é controlada hoje pelo grupo Vicunha; interessada quer ter acesso a fontes mais baratas de minério

Multinacional deve comprar controle da CSN

DA REDAÇÃO

DA SUCURSAL DO RIO

A siderúrgica anglo-holandesa Corus estaria prestes a concluir a aquisição do controle da CSN, atualmente nas mãos do grupo Vicunha, de acordo com reportagem do "Financial Times" de hoje. A Corus, interessada em ter acesso a fontes mais baratas de minério de ferro, já vinha estudando a compra da brasileira havia algum tempo.
De acordo com o jornal inglês, o negócio, que pode ser concretizado ainda na próxima semana, seria feito por intermédio da emissão de novas ações da Corus. Entre 30% e 40% do capital da anglo-holandesa ficaria com a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), num valor total de US$ 1,5 bilhão.
Com o negócio, a Corus praticamente não precisaria mais comprar minério de grandes grupos como Rio Tinto, BHP Billiton e Vale do Rio Doce (a maior mineradora do Brasil).
Segundo o jornal inglês, a Corus confirmou as conversas, mas a palavra final dependeria de "várias partes" e de "várias condições". Tony Pedder, diretor-executivo da siderúrgica, já teria vindo diversas vezes ao Brasil para tratar do possível negócio.
A CSN confirmou ontem que vem mantendo negociações com o grupo anglo-holandês Corus. A companhia não revelou, porém, que tipo de negócio está sendo realizado. Apenas informou que não existe até agora nenhum acordo assinado.
Em uma nota de apenas quatro linhas, a CSN informou que, "tendo em vista a estratégia de internacionalização de suas operações, vem mantendo conversações com diversas empresas, entre as quais o grupo Corus".
Segundo informações que circularam ontem no mercado de siderurgia, apesar da insistência da Corus, o acordo não deve envolver a venda do controle da CSN.
Além da oposição de Benjamin Steinbruch, dono da CSN, a venda do controle poderia esbarrar na dívida que o grupo Vicunha (controlador da companhia) tem com o BNDES, dizem especialistas do setor siderúrgico.
O débito (de cerca de US$ 600 milhões e contraído para realizar o descruzamento com a Vale do Rio Doce) tem como garantia as ações de controle da CSN.
Com isso, analistas acreditam que é mais provável que a Corus entre como acionista minoritária. Mas também não descartam a possibilidade de o grupo ficar com o controle da CSN, quitando a dívida com o BNDES. Só que isso exigiria um desembolso maior da anglo-holandesa.
Há pelo menos seis meses se especula sobre a entrada da Corus no capital da CSN, que vem registrando queda em seus lucros desde o ano passado devido à desvalorização cambial.
A ex-diretora-presidente da companhia Maria Sílvia Bastos Marques se opunha à idéia. Ela defendia que a empresa caminhasse sozinha em seu processo de internacionalização.
Essa atitude foi apontada na época como um dos motivos da saída da executiva, que deixou o comando da companhia no final do último mês de abril.
O descruzamento da Vale e da CSN ocorreu há dois anos. No acordo, o grupo Vicunha, além do controle da siderúrgica, ficou com a mina de Casa das Pedras. É justamente essa mina que estaria no centro dos interesses da Corus, porque, segundo o "Financial Times", faria com que a anglo-holandesa reduzisse drasticamente sua dependência do fornecimento de outras empresas.
Mas, de acordo com o jornal, um dos pontos que pode derrubar o negócio seria uma eventual ação da Vale do Rio Doce. A mineradora poderia contestar a venda aos estrangeiros com o argumento que a mina de Casa das Pedras só poderia ser utilizada para a produção da CSN.
No ano passado, a CSN vendeu quatro toneladas de aço, no valor total de R$ 3,3 bilhões.



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