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LUÍS NASSIF
O mau negócio da Cteep
O julgamento da apelação de ação sobre dívida da Cteep seria um dia depois do leilão. A lógica seria adiá-lo
Na semana passada, escrevi uma
coluna em cima dos primeiros números divulgados sobre o leilão de venda da Cteep
(Transmissão Paulista). Como se recorda, houve apenas dois candidatos, saindo vencedora a Interconexión Eléctrica, empresa colombiana, pagando R$ 38,09 por lote de mil
ações, ou R$ 1,19 bilhão pelos 36%
que o Estado de São Paulo tinha na
companhia. Havia algumas inconsistências tanto nos números quanto no meu raciocínio.
No último exercício, de 2005, a
Cteep distribuiu R$ 239 milhões em
forma de juros sobre capital próprio
e R$ 97,3 milhões em forma de dividendos -total de R$ 336 milhões,
referentes ao exercício de 2005. Como o lucro foi de R$ 468 milhões, a
distribuição correspondeu a 72% do
lucro -incompreensível para uma
companhia que, por ser estatal, contava apenas com a reaplicação de lucros para investir.
Como o Estado de São Paulo tinha
36% do capital, seu ganho foi de R$
168,5 milhões -recebeu R$ 121 milhões em dinheiro e o resto ficou na
conta lucro acumulado. O dinheiro
vai para essa conta quando a empresa não tem planos de investimento
para absorvê-lo. De quando foi privatizada até hoje, a empresa tem R$
500 milhões em lucro acumulado.
Vamos agora às contas sobre o valor pago pela empresa:
1. O comprador pagou R$ 1,19 bilhão pelos 36% do Estado. Por lei,
deverá pagar o equivalente a 80%
pela parte dos minoritários ordinaristas (donos de ações ON), de acordo com o mecanismo do "tag along".
Se todos exercerem seu direito, o valor total da companhia sairá por R$
2,9 bilhões -valor superestimado,
porque as ações PN (preferenciais
nominativas têm valor menor).
2. Se o lucro de 2005 foi de R$ 468
milhões, significa que o P/L (relação
Preço/Lucro) é de apenas seis anos.
Ora, nesse setor, devido ao capital
intensivo e aos baixos riscos de investimento, o P/L costuma ser significativamente maior, de 10 a 12
anos. A remuneração da empresa é
assegurada anualmente pela Aneel.
3. Por outra medida, o EBITDA
(valor de mercado + dívida líquida
sobre geração de caixa) da companhia é de apenas 3,7 vezes, contra
uma média de 5 para o setor como
um todo, incluindo aí geradores
(que tem margem de risco maior) e
distribuidores.
Por que o leilão atraiu tão poucos
compradores, então? A principal razão é que, desde 1999, quando houve
a cisão do sistema elétrico paulista,
ficaram pendências não resolvidas
no ar. Uma delas, uma dívida de R$
370 milhões com a Eletrobrás, debitada à Eletropaulo. A empresa conseguiu, no indefectível Tribunal de
Justiça do Rio, ser excluída da cobrança, jogando a conta para a
Cteep. O julgamento da apelação pelo Superior Tribunal de Justiça seria
um dia depois do leilão. A lógica seria adiar o leilão por alguns dias. Alguns candidatos a comprador entraram na Justiça pedindo o adiamento
do leilão até que a ação fosse julgada.
Não conseguindo, não participaram.
Houve o leilão, sem muita divulgação, com incertezas no ar e apenas
dois candidatos. No dia seguinte
saiu a sentença do STJ, favorável à
Cteep, ao anular a decisão do TJ fluminense.
Blog: www.luisnassif@uol.com.br
Luisnassif uol.com.br
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