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DIAGNÓSTICO & RECEITA
Discurso flatulento
OSIRIS LOPES FILHO
Pretende o governo federal
perpetuar a Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Para
tanto, informa-se que o novo
texto da sua proposta, que
tarda a ser apresentada oficialmente no vernáculo, vai
contê-la.
Em verdade, ela não destoa
das monstruosidades que têm
sido anunciadas, como balões
juninos -são infladas pela
propaganda oficial, alcançam
vôo sob a admiração de observadores esperançosos, mas seu
tempo de sustentação é limitado, como a ventosidade estrepitosa dos traques.
Tenta-se disfarçar o seu
odor putrefacto, com finalidades altruístas e nobres, como o
financiamento da saúde. A
realidade é que ela não tem
servido efetivamente a tal objetivo, seja pelos desvios de
aplicação permanentes, seja
porque o social neste governo
é matéria apenas de retórica,
sem sinceridade e eficácia,
discurso flatulento e demagógico.
Alguns comentaristas conseguem enxergar pelo menos algumas virtudes na CPMF. Ela
seria insonegável e pegaria
necessariamente os sonegadores. História de carochinha.
Não há tributo insonegável.
Há sempre a possibilidade de
fuga ao pagamento do tributo
devido, se esse é o objetivo do
sonegador. Além disso, as instituições financeiras deste
país, incumbidas de zelar pela
correção dos recolhimentos da
CPMF, não são instituições
tão idôneas como tem sido
alardeado.
Os escândalos dos bancos
Econômico, Nacional e Bamerindus, e das instituições financeiras envolvidas na maracutaia dos precatórios, estão a demonstrar a fragilidade dessa argumentação.
Argumenta-se que o tributo
pega a economia informal e a
criminosa. Essa seria uma virtude capital. Talvez. É uma
questão de credulidade.
Quando o montante do tributo for considerável, as negociações far-se-ão no exterior, utilizando-se recursos lá
existentes ou mesmo aqui,
empregando-se o dólar ou outra moeda conversível disponível.
Mesmo os sacoleiros ou ambulantes dificilmente serão
alcançados, pois a dinâmica
do seu negócio leva à imediata conversão dos seus lucros
em novos estoques sem transações bancárias.
Mas, como sempre, inescapável a tal incidência monstruosa, pagarão os contribuintes corretos. Essa, a terrível repetição de espoliação
tributária, promovida, insistentemente, pelo governo
FHC.
Osiris de Azevedo Lopes Filho, 58, advogado, é professor de Direito Tributário da
Universidade de Brasília e ex-secretário da
Receita Federal.
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