São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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Movimento diário cai R$ 300 milhões em um ano

da Reportagem Local

As Bolsas de Valores se tornaram terreno fértil para operações do tipo "window dressing" depois de um ano de muita turbulência. Quando a moeda tailandesa, o baht, começou a deslizar, em 2 de julho de 97, o cenário era completamente diferente do atual.
O índice Bovespa estava prestes a bater em seu ponto máximo de valorização, 90% desde o início do ano. Havia um clima de euforia nas mesas de operações e os fundos de investimentos atraíam milhares de pequenos investidores, empolgados com os ganhos fáceis.
"As Bolsas já haviam subido muito, mas havia euforia, com muitas pessoas começando a investir em ações. Era o combustível perfeito para o desastre", diz Flávio Menezes, diretor de fundos do banco Patrimônio, associado ao banco norte-americano Salomom Brothers-Smith Barney.
Um ano depois, a situação das Bolsas é o retrato oposto do entusiasmo de 97. A Bovespa movimentava R$ 1,2 bilhão por dia e hoje gira R$ 895 milhões, aproximadamente R$ 300 milhões a menos do que há um ano.
Grandes investidores e marinheiros de primeira viagem perderam o ânimo com as Bolsas. Um estudo do banco Matrix com os 70 maiores fundos que investem em ações mostra que, em um ano, houve saída de recursos em nove meses, contra saldo positivo em apenas três meses.
"O fluxo foi negativo entre os investidores comuns e também entre os institucionais", diz Rodrigo Bresser, do Matrix. Só em junho, os saques superaram as aplicações em R$ 140 milhões.
O perfil dos investidores também mudou. "Antes o mercado era dominado por investidores institucionais, estrangeiros e administradores de fundos com visão mais técnica, de longo prazo. A influência deles hoje é igual a daqueles que buscam ganhar com a flutuação diária de preços", diz Walter Mendes, da Schroders.
Em um ano, o índice Bovespa caiu 30,49%. De acordo com a Economática, consultoria de dados financeiros, as ações das 200 maiores empresas negociadas na Bolsa de São Paulo valem R$ 230 bilhões, ou R$ 87 bilhões menos do que em julho de 97.
"O dinheiro está migrando para locais que os investidores consideram mais seguros, como a Europa e os Estados Unidos", diz Paulo de Sá, do Lloyds. Há seis meses, os fundos de investimentos em países emergentes registram saques maiores do que aplicações.
Ao final de um ano de queda, os preços das ações no Brasil voltaram a ser atraentes porque ficaram muito baixos. "Quando se analisa a qualidade das empresas dá para perceber que existem algumas ações que podem dobrar de preço", diz Flávio Menezes, do banco Patrimônio.
O que impede um melhor desempenho das Bolsas são as incertezas em relação ao cenário externo e a desconfiança em relação à economia brasileira. "O mercado está sem tendência definida. É um mercado de incertezas", diz Rodrigo Bresser, do Matrix.



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