São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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Dividendo é atrativo após queda das ações

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

Nos Estados Unidos, eles sempre determinaram as aplicações em Bolsas. No Brasil, os dividendos (lucros distribuídos para os acionistas das empresas) nunca tiveram a mesma importância.
Mas a forte desvalorização das ações com a crise asiática -a queda da Bovespa foi de 21,4% desde 31 de julho de 97- acabou dando maior dimensão aos dividendos.
Suponha que uma empresa pague R$ 20 de dividendos em um ano. Se sua ação vale R$ 200, o dividendo é equivalente a 10%. Mas, se o papel cai para R$ 150, o dividendo passa a representar ganho maior, de pouco mais de 13%.
Na hipótese, os dividendos permanecem constantes em valor absoluto. O ganho, portanto, é relativo: o valor do dividendo em relação ao valor da ação.
Esse ganho decorre do descompasso entre o comportamento das ações e o desempenho das empresas: os lucros bateram as cotações.
Estudo da Economática obtido pela Folha mostra ganhos com dividendos superiores a 20% do valor das ações de 30 de junho de 97 a 30 de junho de 98.
"Os dividendos pagos pelas empresas no Brasil sempre foram mínimos. Mas a depreciação dos preços das ações tornou seus valores proporcionalmente atrativos", diz Carlos Augusto Levorin, o Utcho, sócio-diretor da Oryx Asset Management.
No estudo da Economática, o dividendo pago por 200 companhias abertas chegou a representar até 49,65% do valor da ação no dia 30 último. O estudo só considerou as ações mais negociadas na Bolsa de Valores São Paulo. Não participaram da pesquisa as ações não cotadas entre os dias 23 e 30 de junho.
O campeão foi o Banespa. Caso o lucro do Banespa se repetisse, quem comprasse sua ação ON no dia 30 último teria ganho de 49,65% em um ano, sem considerar a oscilação dos preços do papel. "No caso do Banespa, os resultados ficaram inflados pois o banco não publicou balanço nos últimos três anos", diz Fernando Exel, da Economática.
Esse não é o caso, no entanto, de empresas como a Fosfértil, Fertibrás e Polar, segunda, terceira e quarta colocadas, respectivamente. De 94 a 98, essas empresas pagaram bons dividendos proporcionalmente às cotações de suas ações. Fernando Exel destaca o Besc e o Banco América do Sul, que se mantiveram acima da média desde 94. A Copene, a Copesul, a Usiminas e a Ipiranga Refinaria também estão entre as preferidas.
As empresas que estão recomprando suas próprias ações também estão de olho nos dividendos, diz Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento. Pediram autorização para a recompra a Vale do Rio Doce, a Klabin, a Aracruz, a Coteminas, a Suzano, o Bradesco, o Itaú, a Manah, a Brahma, a Votorantim Celulose, entre outras.
"As companhias que realmente realizarem a recompra de seus papéis poderão repassar os ganhos com o investimento aos acionistas minoritários", completa Gilberto Faiwichow, sócio-diretor do Banco Rendimento. Algumas companhias abertas compram as ações e depois cancelam esses papéis. Dessa forma, passam a ter menos ações no mercado. O lucro a ser distribuído por ação cresce.
Há aquelas empresas, no entanto, que recompram suas ações e ficam com elas em carteira, absorvendo parte maior do próprio lucro. "Mesmo nesse caso o acionista minoritário pode ganhar. A empresa pode reinvestir os ganhos e ampliar seus lucros no futuro."
A Folha apurou que empresas que foram compradas pelos próprios clientes tendem a ter uma política mais agressiva de pagamento de dividendos.
Quando essa compra exigiu um endividamento grande por parte do comprador, a agressividade no pagamento de dividendos é ainda maior. Desta forma, é possível cancelar a dívida feita com maior rapidez.
O investimento em dividendos, segundo Levorin, deve ser feito só por quem tem condições de aplicar no longo prazo, no mínimo um ano. "Se a ação se valorizar muito, o investidor esquece o dividendo e vende o papel", diz ele.
Levorin indica a aplicação para fundos de pensão, que "necessitam de fluxo de caixa periódico para pagamento dos benefícios com a possibilidade de ampliação do patrimônio com ganhos de capital". O investimento em dividendos, diz ele, combina a segurança da renda fixa com os riscos e as possibilidades de ganhos de capital da renda variável.



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