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Dividendo é atrativo após queda das ações
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
Nos Estados Unidos, eles sempre determinaram as aplicações
em Bolsas. No Brasil, os dividendos (lucros distribuídos para os
acionistas das empresas) nunca tiveram a mesma importância.
Mas a forte desvalorização das
ações com a crise asiática -a queda da Bovespa foi de 21,4% desde
31 de julho de 97- acabou dando
maior dimensão aos dividendos.
Suponha que uma empresa pague R$ 20 de dividendos em um
ano. Se sua ação vale R$ 200, o dividendo é equivalente a 10%. Mas,
se o papel cai para R$ 150, o dividendo passa a representar ganho
maior, de pouco mais de 13%.
Na hipótese, os dividendos permanecem constantes em valor absoluto. O ganho, portanto, é relativo: o valor do dividendo em relação ao valor da ação.
Esse ganho decorre do descompasso entre o comportamento das
ações e o desempenho das empresas: os lucros bateram as cotações.
Estudo da Economática obtido
pela Folha mostra ganhos com dividendos superiores a 20% do valor das ações de 30 de junho de 97
a 30 de junho de 98.
"Os dividendos pagos pelas empresas no Brasil sempre foram mínimos. Mas a depreciação dos preços das ações tornou seus valores
proporcionalmente atrativos",
diz Carlos Augusto Levorin, o Utcho, sócio-diretor da Oryx Asset
Management.
No estudo da Economática, o dividendo pago por 200 companhias
abertas chegou a representar até
49,65% do valor da ação no dia 30
último. O estudo só considerou as
ações mais negociadas na Bolsa de
Valores São Paulo. Não participaram da pesquisa as ações não cotadas entre os dias 23 e 30 de junho.
O campeão foi o Banespa. Caso o
lucro do Banespa se repetisse,
quem comprasse sua ação ON no
dia 30 último teria ganho de
49,65% em um ano, sem considerar a oscilação dos preços do papel. "No caso do Banespa, os resultados ficaram inflados pois o
banco não publicou balanço nos
últimos três anos", diz Fernando
Exel, da Economática.
Esse não é o caso, no entanto, de
empresas como a Fosfértil, Fertibrás e Polar, segunda, terceira e
quarta colocadas, respectivamente. De 94 a 98, essas empresas pagaram bons dividendos proporcionalmente às cotações de suas
ações. Fernando Exel destaca o
Besc e o Banco América do Sul,
que se mantiveram acima da média desde 94. A Copene, a Copesul,
a Usiminas e a Ipiranga Refinaria
também estão entre as preferidas.
As empresas que estão recomprando suas próprias ações também estão de olho nos dividendos,
diz Rodrigo Moraes, do Banco
Rendimento. Pediram autorização para a recompra a Vale do Rio
Doce, a Klabin, a Aracruz, a Coteminas, a Suzano, o Bradesco, o
Itaú, a Manah, a Brahma, a Votorantim Celulose, entre outras.
"As companhias que realmente
realizarem a recompra de seus papéis poderão repassar os ganhos
com o investimento aos acionistas
minoritários", completa Gilberto
Faiwichow, sócio-diretor do Banco Rendimento. Algumas companhias abertas compram as ações e
depois cancelam esses papéis.
Dessa forma, passam a ter menos
ações no mercado. O lucro a ser
distribuído por ação cresce.
Há aquelas empresas, no entanto, que recompram suas ações e ficam com elas em carteira, absorvendo parte maior do próprio lucro. "Mesmo nesse caso o acionista minoritário pode ganhar. A
empresa pode reinvestir os ganhos
e ampliar seus lucros no futuro."
A Folha apurou que empresas
que foram compradas pelos próprios clientes tendem a ter uma
política mais agressiva de pagamento de dividendos.
Quando essa compra exigiu um
endividamento grande por parte
do comprador, a agressividade no
pagamento de dividendos é ainda
maior. Desta forma, é possível
cancelar a dívida feita com maior
rapidez.
O investimento em dividendos,
segundo Levorin, deve ser feito só
por quem tem condições de aplicar no longo prazo, no mínimo
um ano. "Se a ação se valorizar
muito, o investidor esquece o dividendo e vende o papel", diz ele.
Levorin indica a aplicação para
fundos de pensão, que "necessitam de fluxo de caixa periódico
para pagamento dos benefícios
com a possibilidade de ampliação
do patrimônio com ganhos de capital". O investimento em dividendos, diz ele, combina a segurança da renda fixa com os riscos e
as possibilidades de ganhos de capital da renda variável.
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