São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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COMÉRCIO EXTERIOR
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Exportações crescem, apesar do câmbio

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

As exportações brasileiras estão crescendo neste ano e a boa notícia é que o país tem conseguido vender no exterior produtos mais elaborados, mesmo levando em conta uma defasagem cambial de 15% a 20%, segundo economistas.
Embarques de aviões, carros, ônibus, autopeças e até telefones celulares e televisores chegam a surpreender. No geral, as exportações de produtos manufaturados brasileiros subiram 15,8% de janeiro a maio, na comparação com igual período de 97 -de US$ 10,5 bilhões para US$ 12,2 bilhões.
Há casos em que as vendas no exterior aumentaram 720% no período, como as de celulares, de US$ 5 milhões para US$ 41 milhões. Sozinha, a Ericsson, que produz 1,5 milhão de aparelhos por ano, deve exportar 650 mil unidades neste ano, basicamente para países do Mercosul e Chile.
As exportações de TV subiram 400%, de US$ 2 milhões para US$ 10 milhões, e as de tubos de imagem, 84%, de US$ 13 milhões para US$ 24 milhões. É verdade que esses valores são baixos, mas, na análise de consultores em comércio exterior, é um bom sinal porque o Brasil não vendia lá fora esses produtos.
Os automóveis continuam tendo peso significativo na pauta de exportações, pois são estimulados pelo regime automotivo, que concede benefícios às importações de componentes, mas, em contrapartida, as empresas têm de cumprir metas de exportação. Nos primeiros cinco meses deste ano, as exportações de automóveis cresceram 124% sobre igual período de 97, de US$ 342 milhões para US$ 768 milhões.
Para especialistas em comércio internacional, uma das razões para o aumento das exportações de produtos manufaturados é que vender produto no exterior ficou mais rentável. Tudo começou em junho de 96, quando a desvalorização do real passou a ser maior do que a inflação das empresas.
A desvalorização do real em relação ao dólar em 96 foi de 8% a 9%. Os salários, que são custos para as empresas, permaneceram estáveis. Em 97, com inflação de 4,5% e desvalorização cambial de 7,6%, houve mais ganho para o exportador.
Neste ano, por esse raciocínio, os ventos continuam favoráveis aos exportadores. De janeiro a junho, a desvalorização cambial foi de cerca de 3,6%, e a inflação industrial, de aproximadamente 0,5%. "O exportador está recuperando mais um pouco neste ano e essa tendência deve se manter em 99", diz José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Diversificação
Empresas que conseguiram aumentar a produtividade (incorporada como se fosse uma desvalorização cambial), diz Castro, ganharam mais com as exportações, que também ficaram mais atraentes por causa da retração do mercado interno. "E o custo de movimentação de contêineres caiu em razão da concessão da administração portuária a empresas privadas."
A boa notícia na pauta de exportações brasileiras, segundo Ricardo Markwald, coordenador técnico da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), é que ela está mais extensa ou menos concentrada. "Embora liderada pelos veículos, o que se percebe é uma tendência de a exportação brasileira se tornar cada vez mais diversificada."
Isso, segundo ele, se deve ao desaquecimento da economia interna e aos mecanismos criados para favorecer o comércio exterior brasileiro, como seguro de crédito à exportação, de promoção à exportação, fundo de aval para pequenas e médias empresas e financiamento à exportação. "Esses instrumentos, quando estiverem em plena operação, vão propiciar o aumento das exportações."
Para Marcos Vinicius Pratini de Moraes, presidente da AEB, as exportações brasileiras, que somaram cerca de US$ 52,9 bilhões no ano passado, devem crescer 10% neste ano por causa dos produtos industrializados.
O que explica esse aumento, na análise de Pratini de Moraes, são investimentos das empresas em novas tecnologias, aumento de produtividade, além do crescimento das vendas de produtos brasileiros para o Mercosul, mercado já tão importante para o Brasil quanto os Estados Unidos.



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