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LUÍS NASSIF
Presente de Natal
Por previsível , não diria
que é inacreditável. Os tais
analistas financeiros que prognosticavam o espetáculo do desenvolvimento depois que a inflação baixasse e o risco Brasil
caísse começam a levantar todos os pretextos para explicar
por que a inflação baixou e o
risco está subindo. Miro, MST,
boné do Lula, 20 anos sem investimento em infra-estrutura,
vale tudo. Quando o Brasil estava "barato", Lula podia até
dar palavras de apoio a Hugo
Chávez, sem problemas.
Esse preâmbulo é necessário
para dar o devido peso a essa
degradação das expectativas
do mercado. Assim como não
tinha a menor importância na
ida, o refluxo do "risco Brasil"
também não tem a menor importância. São típicos movimentos de mercado, de venda
na alta e compra na baixa.
Pelo contrário, agora começam a ser criadas condições
para começar o segundo tempo
de um jogo que ainda terá
muitos tempos pela frente.
O ponto central é monitorar
a desvalorização cambial. Em
vez de interpretá-la como sinal
de crise, celebrá-la como oportuna. Nenhuma empresa séria
deste país, multinacional ou
não, estava trabalhando com
dólar abaixo de R$ 3,15 em dezembro. Para muitas, o dólar
de equilíbrio seria R$ 3,40.
Assim como em 1994, depois
que ocorre a valorização do
câmbio há um prazo para os
exportadores desarmarem
suas estratégias de venda. Como investir no mercado externo leva tempo e demanda recursos, antes de realizar o prejuízo eles seguram as exportações, aguardando que volte o
bom senso à área. Ainda existe
bom saldo de exportadores
nessa situação, o que significa
que as exportações podem se
recobrar da trombada, desde
que o Banco Central passe a sinalizar de forma convincente o
novo degrau do câmbio.
A segunda medida será
afrouxar mais rapidamente o
garrote que se abateu sobre a
economia. Tem-se sobra de superávit e economia em deflação. Um monitoramento adequado e mais rápido da redução dos juros, do compulsório e
superávit ajudará a salvar o
Natal, invertendo essa vaga de
pessimismo que se vê no horizonte.
A terceira medida será desfazer essa falsa impressão de descontrole social e do governo.
Um dos ativos que o governo
acumulou nesse período foi a
constatação de que, em que pese o processo um tanto caótico
de discussão interna, o comando está com o núcleo duro de
poder -Dirceu, Palocci e Gushiken-, que acumulou credibilidade no período. Precisa
apenas cair a ficha de Palocci
sobre os rumos da política econômica e rechear o BC de mãos
mais firmes e menos dogmáticas.
Finalmente, debelado o incêndio de curto prazo, tratar
de montar a agenda de discussão das reformas. O ministério
não ajuda, e não se conseguirá
avançar em muitas frentes simultaneamente. Que se elejam, então, algumas delas como prioritárias e se tragam
pessoas com capacidade operacional para tocar o planejado.
Nas próximas semanas, deverão ficar prontos os sistemas
de indicadores de acompanhamento das ações de governo, a
serem monitorados pela Casa
Civil. Devem começar também
as reuniões de planejamento
estratégico no âmbito da Secretaria de Comunicação de
Governo e Gestão Estratégica.
Agora, o desafio é preparar o
jogo para salvar o Natal e começar a colher em 2004.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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