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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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LUÍS NASSIF

Presente de Natal

Por previsível , não diria que é inacreditável. Os tais analistas financeiros que prognosticavam o espetáculo do desenvolvimento depois que a inflação baixasse e o risco Brasil caísse começam a levantar todos os pretextos para explicar por que a inflação baixou e o risco está subindo. Miro, MST, boné do Lula, 20 anos sem investimento em infra-estrutura, vale tudo. Quando o Brasil estava "barato", Lula podia até dar palavras de apoio a Hugo Chávez, sem problemas.
Esse preâmbulo é necessário para dar o devido peso a essa degradação das expectativas do mercado. Assim como não tinha a menor importância na ida, o refluxo do "risco Brasil" também não tem a menor importância. São típicos movimentos de mercado, de venda na alta e compra na baixa.
Pelo contrário, agora começam a ser criadas condições para começar o segundo tempo de um jogo que ainda terá muitos tempos pela frente.
O ponto central é monitorar a desvalorização cambial. Em vez de interpretá-la como sinal de crise, celebrá-la como oportuna. Nenhuma empresa séria deste país, multinacional ou não, estava trabalhando com dólar abaixo de R$ 3,15 em dezembro. Para muitas, o dólar de equilíbrio seria R$ 3,40.
Assim como em 1994, depois que ocorre a valorização do câmbio há um prazo para os exportadores desarmarem suas estratégias de venda. Como investir no mercado externo leva tempo e demanda recursos, antes de realizar o prejuízo eles seguram as exportações, aguardando que volte o bom senso à área. Ainda existe bom saldo de exportadores nessa situação, o que significa que as exportações podem se recobrar da trombada, desde que o Banco Central passe a sinalizar de forma convincente o novo degrau do câmbio.
A segunda medida será afrouxar mais rapidamente o garrote que se abateu sobre a economia. Tem-se sobra de superávit e economia em deflação. Um monitoramento adequado e mais rápido da redução dos juros, do compulsório e superávit ajudará a salvar o Natal, invertendo essa vaga de pessimismo que se vê no horizonte.
A terceira medida será desfazer essa falsa impressão de descontrole social e do governo. Um dos ativos que o governo acumulou nesse período foi a constatação de que, em que pese o processo um tanto caótico de discussão interna, o comando está com o núcleo duro de poder -Dirceu, Palocci e Gushiken-, que acumulou credibilidade no período. Precisa apenas cair a ficha de Palocci sobre os rumos da política econômica e rechear o BC de mãos mais firmes e menos dogmáticas.
Finalmente, debelado o incêndio de curto prazo, tratar de montar a agenda de discussão das reformas. O ministério não ajuda, e não se conseguirá avançar em muitas frentes simultaneamente. Que se elejam, então, algumas delas como prioritárias e se tragam pessoas com capacidade operacional para tocar o planejado.
Nas próximas semanas, deverão ficar prontos os sistemas de indicadores de acompanhamento das ações de governo, a serem monitorados pela Casa Civil. Devem começar também as reuniões de planejamento estratégico no âmbito da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica.
Agora, o desafio é preparar o jogo para salvar o Natal e começar a colher em 2004.

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