São Paulo, quarta, 5 de agosto de 1998

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MERCADO TENSO
Dow Jones caiu 3,41% por conjunção de fatores, como incerteza sobre a Ásia e sobrevalorização de ações
Bolsa de NY tem pior queda desde outubro

ALESSANDRA BLANCO
de Nova York

A Bolsa de Nova York teve ontem sua pior queda desde outubro do ano passado, quando estourou a crise asiática. O índice Dow Jones, que reúne as 30 ações mais negociadas, caiu 3,41%, ou 299,43 pontos, fechando a 8.487,31 pontos. Isso representa também sua terceira maior queda em pontos desde que foi criado, há 102 anos.
Em 27 de outubro de 1997, a queda foi de 554,26 pontos, ou 7,18%. O índice eletrônico Nasdaq também caiu ontem 3,5%, fechando a 1.785,68 pontos.
Os motivos são variados, mas sem nenhuma novidade: a incerteza quanto à economia do Japão; os impactos da crise asiática na performance das empresas norte-americanas, que vêm divulgando nas últimas semanas lucros abaixo do esperado para o segundo trimestre; as novidades no escândalo sexual envolvendo o presidente Bill Clinton; e mesmo uma supervalorização das ações, provocadas por uma euforia no mercado que levou o Dow Jones a bater o recorde de 9.337,97 em 17 de julho.
Com os números de ontem, o Dow Jones caiu 9% em relação a julho e, segundo um dos maiores otimistas no mercado financeiro, o diretor de pesquisas tecnológicas da Prudential Securities, Ralph Acampora, pode chegar a um descenso de 15% ou 20% no período.
As declarações de Acampora foram um dos motivos que aprofundaram a queda no final da tarde.
A empresas financeiras tiveram as maiores quedas. As ações do Citicorp caíram 9-5/8, para 154, as do Chase Manhattan Corp., 5-3/16, para 69-5/8, e as do J.P. Morgan, 5-5/8 para 116-7/8.
"A crise asiática, que ainda produz efeitos nos EUA; muitas ações supervalorizadas, um excesso de consumo dos norte-americanos que não permite baixar as taxas de juros como os investidores esperavam, sob risco de inflação; dólar muito forte; e queda nas exportações. Tudo afeta a lucratividade das empresas e causa essa fraqueza no mercado", disse John Lonsky, economista-chefe da Moody's.
Para Peter Coolidge, investidor-sênior da Brean, Murray & Co., o mercado "simplesmente não pode aguentar hoje". "Há uma semana o mercado vem muito fraco e hoje (ontem) foi demais. Nenhum comprador veio. Os motivos são os mesmos de uma semana atrás, só que simplesmente, ele não pode aguentar", disse.
Coolidge prevê mais quedas, tão profundas quanto a de ontem, para hoje. "Eu diria que, nestas condições, o mercado só reage quando chega ao pior, e ainda não chegou. Acho que chegará amanhã no meio do dia. Nossa queda provocará queda na Ásia e na Europa, que provocará novamente nossa queda. Depois, o mercado deverá se recuperar um pouco até o final do dia, mas é difícil prever", disse.
Lonsky também acredita que o mercado deverá tomar um fôlego nos próximos dias, mas não o suficiente para compensar as perdas dos últimos três dias. Para ele, os efeitos da crise asiática devem afetar a bolsa de Nova York e também os mercados da América Latina até o final deste ano.
"O último trimestre deve trazer uma melhora nas exportações, mas uma estabilidade só deverá ocorrer a partir de então. Um dos problemas é que os investidores esperavam um corte da taxa de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central), só que o Fed não acredita que o mercado está sofrendo o suficiente para isso e não há qualquer previsão."



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