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APLICAÇÕES
Redução do juro de 0,5% para baratear financiamentos deveria ser cautelosa para não provocar fuga
Bancos sugerem cuidado com poupança
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
Haveria espaço para uma eventual redução dos juros da poupança, conforme o governo sugeriu na
última quarta-feira, sem que isso
provocasse uma fuga maciça de recursos da caderneta, que hoje tem
um patrimônio de R$ 84 bilhões.
Mas a medida requer cuidados.
Essa é a avaliação de especialistas
do mercado financeiro, que consideraram que o governo realizou
um "balão de ensaio" ao acenar
com essa possibilidade.
"Balão de ensaio" é o jargão que
define uma espécie de teste feito
pelo governo. Ele lança uma informação sem grandes detalhes e que
pode ser facilmente desmentida, se
preciso, para colher as impressões
do mercado.
Teria sido essa a idéia por trás
das declarações feitas pelo recém-empossado diretor de Normas do Banco Central, Sérgio
Darcy.
A intenção do governo, segundo
especialistas, é clara: baratear o financiamento imobiliário feito
com recursos da poupança, que
começam a ficar elevados em um
cenário de inflação em queda.
Os juros pagos ao poupador são
de 6,17% ao ano mais TR (Taxa Referencial), contra 12% ao ano cobrados do mutuário no SFH. Bancos alegam que o custo chega a 9%.
O maior risco embutido na medida, segundo especialistas, seria
tornar a caderneta de poupança
desinteressante como investimento, o que provocaria uma migração ainda que gradual para outras
aplicações. Neste caso, ocorreria o
efeito inverso de reduzir a oferta
crédito imobiliário.
Para Sergio Gabriele, diretor do
Banco de Boston, o corte não poderia ser radical. Os juros poderiam cair de 6% para 5% ou, no
máximo, 4% acima da TR. "Hoje a
poupança está pagando os maiores
juros reais dos últimos dois anos e
há espaço para reduzir sem espantar o poupador", diz ele.
Para os executivos da área financeira do Banco Excel Econômico, a
redução teria que ser gradual para
não assustar. Um prazo "ideal"
para adoção da medida seria por
volta de março ou abril do próximo ano.
Vantagem no IR
Sergio Gabriele afirma que hoje o
rendimento da caderneta de poupança está muito próximo ao dos
fundos de renda fixa. "O que o
rendimento publicado pelos fundos é bruto, sem o desconto do
Imposto de Renda, enquanto a
poupança é isenta do tributo", diz
ele.
Em agosto, os fundos de 30 dias
tiveram um rendimento líquido
médio entre 1,15% e 1,20%, enquanto a poupança pagou 1,13%.
No mês, a entrada líquida de recursos nas cadernetas foi de R$ 497
milhões. Com exceção de julho, a
captação tem sido positiva nos últimos meses.
Para os profissionais do mercado, tomados os devidos cuidados
para não prejudicar e afugentar o
poupador, a medida é acertada.
Haveria estímulo à construção
civil, vista como uma das melhores
maneiras de alavancar o crescimento da economia do país hoje.
O setor faz uso intensivo de
mão-de-obra, o que gera empregos, ao mesmo tempo em que não
tem impacto negativo sobre a balança comercial, já que os materiais são de fabricação interna.
Os juros mais baixos teriam como efeito a redução da inadimplência do Sistema Financeiro da
Habitação (SFH), ao mesmo tempo em que estimularia a construção de novas unidades.
Para alguns analistas, o "balão
de ensaio" saiu em má hora em razão da agitação dos mercados financeiros (Bolsas e câmbio).
Em uma coletiva à imprensa realizada após a sua posse na quarta-feira, Sergio Darcy afirmou que
o BC estuda a possibilidade de reduzir o juro de 0,5% da caderneta.
Segundo suas palavras, "é preciso fazer uma análise da remuneração, comparando com os níveis de
inflação. É preciso buscar uma redução de custos para o mutuário".
Mas, afirmou, a medida, se adotada, será a médio e longo prazos.
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