São Paulo, sexta, 5 de setembro de 1997.



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APLICAÇÕES
Redução do juro de 0,5% para baratear financiamentos deveria ser cautelosa para não provocar fuga
Bancos sugerem cuidado com poupança

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

Haveria espaço para uma eventual redução dos juros da poupança, conforme o governo sugeriu na última quarta-feira, sem que isso provocasse uma fuga maciça de recursos da caderneta, que hoje tem um patrimônio de R$ 84 bilhões. Mas a medida requer cuidados.
Essa é a avaliação de especialistas do mercado financeiro, que consideraram que o governo realizou um "balão de ensaio" ao acenar com essa possibilidade.
"Balão de ensaio" é o jargão que define uma espécie de teste feito pelo governo. Ele lança uma informação sem grandes detalhes e que pode ser facilmente desmentida, se preciso, para colher as impressões do mercado.
Teria sido essa a idéia por trás das declarações feitas pelo recém-empossado diretor de Normas do Banco Central, Sérgio Darcy.
A intenção do governo, segundo especialistas, é clara: baratear o financiamento imobiliário feito com recursos da poupança, que começam a ficar elevados em um cenário de inflação em queda.
Os juros pagos ao poupador são de 6,17% ao ano mais TR (Taxa Referencial), contra 12% ao ano cobrados do mutuário no SFH. Bancos alegam que o custo chega a 9%.
O maior risco embutido na medida, segundo especialistas, seria tornar a caderneta de poupança desinteressante como investimento, o que provocaria uma migração ainda que gradual para outras aplicações. Neste caso, ocorreria o efeito inverso de reduzir a oferta crédito imobiliário.
Para Sergio Gabriele, diretor do Banco de Boston, o corte não poderia ser radical. Os juros poderiam cair de 6% para 5% ou, no máximo, 4% acima da TR. "Hoje a poupança está pagando os maiores juros reais dos últimos dois anos e há espaço para reduzir sem espantar o poupador", diz ele.
Para os executivos da área financeira do Banco Excel Econômico, a redução teria que ser gradual para não assustar. Um prazo "ideal" para adoção da medida seria por volta de março ou abril do próximo ano.
Vantagem no IR
Sergio Gabriele afirma que hoje o rendimento da caderneta de poupança está muito próximo ao dos fundos de renda fixa. "O que o rendimento publicado pelos fundos é bruto, sem o desconto do Imposto de Renda, enquanto a poupança é isenta do tributo", diz ele.
Em agosto, os fundos de 30 dias tiveram um rendimento líquido médio entre 1,15% e 1,20%, enquanto a poupança pagou 1,13%. No mês, a entrada líquida de recursos nas cadernetas foi de R$ 497 milhões. Com exceção de julho, a captação tem sido positiva nos últimos meses.
Para os profissionais do mercado, tomados os devidos cuidados para não prejudicar e afugentar o poupador, a medida é acertada.
Haveria estímulo à construção civil, vista como uma das melhores maneiras de alavancar o crescimento da economia do país hoje.
O setor faz uso intensivo de mão-de-obra, o que gera empregos, ao mesmo tempo em que não tem impacto negativo sobre a balança comercial, já que os materiais são de fabricação interna.
Os juros mais baixos teriam como efeito a redução da inadimplência do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), ao mesmo tempo em que estimularia a construção de novas unidades.
Para alguns analistas, o "balão de ensaio" saiu em má hora em razão da agitação dos mercados financeiros (Bolsas e câmbio).
Em uma coletiva à imprensa realizada após a sua posse na quarta-feira, Sergio Darcy afirmou que o BC estuda a possibilidade de reduzir o juro de 0,5% da caderneta.
Segundo suas palavras, "é preciso fazer uma análise da remuneração, comparando com os níveis de inflação. É preciso buscar uma redução de custos para o mutuário". Mas, afirmou, a medida, se adotada, será a médio e longo prazos.



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