São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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Argentina deve voltar ao FMI em 2005

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A Argentina suspendeu o atual acordo com o FMI até a conclusão da reestruturação da dívida pública, mas pretende voltar ao organismo de crédito no ano que vem. Ainda que critique a política do Fundo no país nos anos 90, o governo de Néstor Kirchner sabe que ainda não pode prescindir da instituição, pois necessita do dinheiro para pagar dívidas.
"Ainda bem que me reuni com os representantes de Deus, porque daqui a pouco vou me encontrar com o representante do diabo", disse Kirchner na semana passada a um grupo de bispos, antes de receber o diretor-geral do FMI, Rodrigo Rato.
Apesar de contar com um câmbio equilibrado atualmente (cerca de três pesos por dólar), superávit fiscal de 4% do PIB projetado para o ano e inflação controlada, diferentemente do Brasil, a Argentina não pode dispensar o FMI porque tem que garantir a sustentabilidade do pagamento da dívida.
O país está em moratória com os credores privados desde dezembro de 2001, mas não com os organismos internacionais, para quem deve cerca de US$ 150 bilhões. Mesmo antes de voltar a pagar aos credores privados, o governo precisa do dinheiro do Fundo para pagar juros a esses organismos. No mês passado, a Argentina teve que recorrer às reservas internacionais para quitar parte dos juros que deve ao Fundo, que se negou a liberar a terceira parcela do acordo de US$ 13,8 bilhões assinado em setembro de 2003 porque o país não cumpriu as metas da carta de intenção.
"O FMI não tem nenhum direito de dizer como a Argentina deve conduzir sua política em matéria de serviços públicos. A única coisa que eles têm que fazer é observar o tipo de câmbio. E o da Argentina está equilibrado, e o governo também tem superávit fiscal. O FMI deveria dar-se por satisfeito. Pode fazer comentários, mas não exigência", disse Eduardo Conesa, professor de macroeconomia da Universidade de Buenos Aires, embora concorde que o país ainda precisa do Fundo.
Essa é a razão da crise entre a Argentina e o Fundo. O FMI admitiu que foi longe demais ao apoiar a política econômica dos anos 90, mas o governo quer que ele ajude o país sem impor regras.
"Um maior esforço fiscal vai produzir efeitos sociais, porque o país não poderá baixar o desemprego e empregar recursos na solução de problemas sociais", disse Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), que apóia a decisão da Argentina de afastar o Fundo durante as negociações com os credores. "Em 1987, o Brasil também negociou a moratória sem acordo com o FMI."


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