São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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EVENTO

Trabalho será apresentado em nova versão do Fórum Nacional, que discutirá, na quinta-feira, os reflexos sociais do crescimento

Anos 70 e Real fizeram pobreza despencar, diz estudo

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Com o objetivo de debater principalmente os efeitos do crescimento sobre a redução da pobreza, o Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos) realizará na próxima quinta-feira um "mini" Fórum Nacional, e um dos trabalhos a serem apresentados revela que a expansão econômica dos anos 70 fez despencar o número de pobres no país. Segundo estudo da economista Sônia Rocha, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), obtido pela Folha, o percentual de pobres caiu de 68,4% da população em 1970 para 20,7% em 2002 (os dados são do IBGE).
Ao traçar uma perspectiva histórica, ela mostra que o efeito benéfico do crescimento aparece em dois momentos: na década de 70, quando o país crescia à "excepcional" taxa média de 8% ao ano, e com menos intensidade nos primeiros anos do Real.
"Embora o crescimento econômico não seja uma panacéia, garantir um ritmo sustentado de expansão da renda tornaria muito mais fácil estabelecer mecanismos de combate a pobreza", diz.
O Inae decidiu realizar essa versão reduzida do Fórum Nacional -que acontece anualmente em maio e é conhecido por seus debates econômicos- para comemorar os 50 anos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Por esse motivo, decidiu dar ênfase à discussão social.
Para Rocha, embora haja uma visão "saudosista" dos anos 70 (quando o país era principalmente rural), não resta dúvida de que a pobreza é menor hoje.
Em seu trabalho, Rocha compara a evolução da pobreza utilizando o padrão de consumo dos anos 70, corrigido pela inflação do período. Segundo ela, o nível de consumo aumentou desde então, mas só é possível fazer uma análise de longo prazo dessa forma.
Por esse critério, é considerada pobre uma família de São Paulo que tem renda per capita de R$ 142 -a linha de pobreza traçada pela especialista é regionalizada. Pelo atual padrão de consumo, apurado pela POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 1996, o percentual de pobres é de 34%.
De acordo com ela, o "excepcional" crescimento econômico dos 70 (8,6% ao ano) possibilitou o aumento do rendimento, o principal motor da queda da pobreza. Rocha ressalta, no entanto, que a elevação da renda fez crescer também a desigualdade de rendimentos entre as pessoas. A renda dos chamados não-pobres equivalia, em 1970, a 2,83 vezes o rendimento dos pobres. Em 1980, essa relação subiu para 5,20.

Cruzado e Real
Na época do Plano Cruzado, o controle de preços que resultou na redução temporária da inflação fez também cair a proporção de pobres, que chegou a 23,7% em 1986. Mas, com a volta da inflação já em 1987, o percentual voltou para a casa dos 30%. Um dos motivos dessa piora, segundo o trabalho, é o fato de a renda ter ficado estável de 1981 a 1990 devido à instabilidade econômica e à deterioração do mercado de trabalho.
Uma nova melhora na pobreza só voltou a acontecer nos primeiros anos do Plano Real -o número de pobres caiu de 30,4% em 1993 para 20,6% em 1995.
Rocha destaca que o Real melhorou a renda especialmente das parcelas mais pobres da população. O motivo é a chamada "âncora verde" (o comportamento moderado do preços dos alimentos).
A redução da pobreza nos primeiros anos do Real, diz Rocha, aconteceu apesar da piora do mercado de trabalho, que viveu período de ajuste com mais gente procurando trabalho e demissões por causa da modernização da indústria. A deterioração do emprego foi compensada, em parte, pelo menor crescimento demográfico.


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