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LUÍS NASSIF
Fechem a Febem!
A prova maior do envelhecimento institucional, da falta de
solidariedade, do fracasso social
das instituições paulistas chama-se Febem. É demonstração
da falência absoluta não apenas do Executivo, como do Judiciário, do Ministério Público, do
sindicalismo que domina a instituição e de nós, da mídia.
A própria indicação do ex-presidente da OAB/São Paulo
Guido Andrade para dirigir o
órgão é reforço a essa tese. Coloca-se, agora, o destino de milhares de jovens nas mãos de pessoa sem nenhuma experiência
na área educacional que, à
frente da OAB, notabilizou-se
pelo corporativismo e pelo uso
abusivo de métodos políticos
nada louváveis nas campanhas
eleitorais, dono de um estilo
herdado de seus antecessores
que foi rejeitado pela própria
classe dos advogados nas últimas eleições. Quem é o patrono
dessa indicação?
Os especialistas são unânimes
em afirmar que estabelecimentos desse tipo não só não cumprem nenhum papel educativo
como ajudam a preparar menores para o crime. Há décadas a
Febem é uma chaga a depor
contra a falta de sensibilidade
do Estado.
As culpas são variadas. A começar pelo Executivo paulista,
que em nenhum momento resolveu encarar com firmeza as
resistências contra o fim do modelo. Se não encontrar uma solução até o fim do seu governo,
a Febem será o Carandiru de
Mário Covas.
Mas também é culpa do Poder
Judiciário. Quando colocado
ante um jovem infrator, o juiz
pode determinar penas alternativas ou recomendá-lo a instituições que tratem da sua reabilitação. Em qualquer cidade do
Estado o juiz local tem atribuição para exigir das autoridades
locais a solução do problema
dos seus menores. Poderia indicar instituições para a reabilitação desses menores, só que isso
dá trabalho. Mensalmente o
juiz precisaria acompanhar a
recuperação do jovem. Se um
desses jovens reincidisse, poderia ser criticado por sua comunidade. Para ter vida tranquila,
qualquer infração é motivo para juízes de todo o Estado mandarem o jovem para a Febem.
Depois, é só aguardar que complete a maioridade, porque aí
passa a ser problema de outra
jurisdição.
Essa mesma falta de cuidados
com o futuro dos jovens acontece com o Ministério Público estadual. Está em suas atribuições
exigir providências, batalhar
pelo fim do modelo, punir os
que transformam jovens infratores em criminosos. Nada é feito. Se montasse uma força-tarefa incumbida de cobrar providências das autoridades responsáveis, em dois tempos se teria uma solução.
Finalmente, considere-se as
forças que dominam o funcionalismo da Febem, um misto de
radicais de esquerda e truculentos de direita, que possuem uma
das médias salariais mais altas
do funcionalismo público e nenhum interesse no aprimoramento da instituição.
Tudo isso, somado, gerou um
inferno, onde a única educação
é para o crime. E vai-se dizer
que não existe uma força nesse
Estado capaz de romper com essa inércia? E vai-se dizer que é
impossível o Executivo sentar-se
com o Judiciário, o Ministério
Público e as organizações sociais, visando resolver essa chaga paulista?
Hoje em dia, há um conjunto
de instituições, religiosas ou civis, que recebem dinheiro público e têm estrutura para recuperar menores, de forma descentralizada. A não-solução do caso Febem será a prova maior de
que o envelhecimento das instituições paulistas tornou o Estado incapaz de resolver sequer
seus próprios problemas.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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