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LUÍS NASSIF
A reciclagem da poupança
O grande salto da industrialização brasileira
ocorreu quando Getúlio Vargas resolveu a questão da volatilidade cambial e impôs controles de câmbio que, na prática, impediram a arbitragem
entre taxas de juros externas e
internas. Isso, mais uma reforma bancária eficiente, permitiu que a poupança dos rentistas fosse reciclada para a área
produtiva por meio do sistema
bancário da época.
Na opinião de Nelson Rocha,
presidente da BB DTVM -e
pessoa que casa conhecimento
de mercado com a visão histórica de quem passou pelo Cebrap (Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento)-, a
economia pode estar próxima
à inflexão registrada nos anos
30.
Há, em uma ponta, a indústria de fundos, com um papel
essencial a desempenhar. O setor administra uma poupança
equivalente a 40% do PIB. É
sofisticada e concorrencial, estão aqui os principais "players"
internacionais, e se transformou no maior ofertador de
"funding" da economia.
Nos últimos tempos, passou
por mudanças importantes.
Há um novo arcabouço legal,
separando o investidor qualificado, definido o grau de liberdade do gestor. Além disso, a
conta-investimento aumentou
a possibilidade de migração de
um fundo para outro, ampliando a competição. A nova
tributação, que entrará em vigor no próximo ano, estimulará as aplicações de longo prazo.
Hoje em dia, 15% dos ativos da
indústria estão em ações, 14%
das quais em aplicações de longo prazo. Em breve, tocados pela concorrência, os gestores terão que começar a se especializar em cadeias produtivas e
outros temas do mundo real.
No último ano, o total de
CDBs nas carteiras de fundos
cresceu quase 40%, o que demonstra duas tendências: a
maior disposição dos bancos
em ampliar o crédito e o maior
espaço aberto pela redução dos
títulos públicos, de 80% para
75% da carteira.
Como dar seguimento a essa
tendência? De um lado, é preciso que se crie horizonte de longo prazo em relação à inflação
e à sustentabilidade da dívida
pública. De outro, é fundamental que caia mais a taxa Selic.
Nesse ponto, entram dois
lances importantes. O primeiro, o conjunto de três reformas
essenciais para melhorar o ambiente microeconômico: a
aprovação das PPPs (Parcerias
Público-Privadas), a Lei de Falências e as mudanças na CLT
(Consolidação das Leis do Trabalho).
O segundo passo é avançar
na política econômica. No coração da área econômica, começam a ganhar espaço, ainda
que timidamente, duas mudanças importantes de enfoque. A primeira, entender que
não se pode jogar todo o peso
da política econômica nos juros. Há que distribuir melhor o
peso do ajuste com a política
fiscal e a cambial.
Passo relevante é passar a
considerar o conceito de superávit nominal (incluindo a
conta de juros) no acompanhamento dos indicadores macroeconômicos. Hoje em dia,
com 4,5% de superávit primário, 4,5% de crescimento e 9%
de taxa real de juros, não se sai
do lugar.
É importante que se dê visibilidade ao peso dos juros.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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