São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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LUÍS NASSIF

A reciclagem da poupança

O grande salto da industrialização brasileira ocorreu quando Getúlio Vargas resolveu a questão da volatilidade cambial e impôs controles de câmbio que, na prática, impediram a arbitragem entre taxas de juros externas e internas. Isso, mais uma reforma bancária eficiente, permitiu que a poupança dos rentistas fosse reciclada para a área produtiva por meio do sistema bancário da época.
Na opinião de Nelson Rocha, presidente da BB DTVM -e pessoa que casa conhecimento de mercado com a visão histórica de quem passou pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento)-, a economia pode estar próxima à inflexão registrada nos anos 30.
Há, em uma ponta, a indústria de fundos, com um papel essencial a desempenhar. O setor administra uma poupança equivalente a 40% do PIB. É sofisticada e concorrencial, estão aqui os principais "players" internacionais, e se transformou no maior ofertador de "funding" da economia.
Nos últimos tempos, passou por mudanças importantes. Há um novo arcabouço legal, separando o investidor qualificado, definido o grau de liberdade do gestor. Além disso, a conta-investimento aumentou a possibilidade de migração de um fundo para outro, ampliando a competição. A nova tributação, que entrará em vigor no próximo ano, estimulará as aplicações de longo prazo. Hoje em dia, 15% dos ativos da indústria estão em ações, 14% das quais em aplicações de longo prazo. Em breve, tocados pela concorrência, os gestores terão que começar a se especializar em cadeias produtivas e outros temas do mundo real.
No último ano, o total de CDBs nas carteiras de fundos cresceu quase 40%, o que demonstra duas tendências: a maior disposição dos bancos em ampliar o crédito e o maior espaço aberto pela redução dos títulos públicos, de 80% para 75% da carteira.
Como dar seguimento a essa tendência? De um lado, é preciso que se crie horizonte de longo prazo em relação à inflação e à sustentabilidade da dívida pública. De outro, é fundamental que caia mais a taxa Selic.
Nesse ponto, entram dois lances importantes. O primeiro, o conjunto de três reformas essenciais para melhorar o ambiente microeconômico: a aprovação das PPPs (Parcerias Público-Privadas), a Lei de Falências e as mudanças na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
O segundo passo é avançar na política econômica. No coração da área econômica, começam a ganhar espaço, ainda que timidamente, duas mudanças importantes de enfoque. A primeira, entender que não se pode jogar todo o peso da política econômica nos juros. Há que distribuir melhor o peso do ajuste com a política fiscal e a cambial.
Passo relevante é passar a considerar o conceito de superávit nominal (incluindo a conta de juros) no acompanhamento dos indicadores macroeconômicos. Hoje em dia, com 4,5% de superávit primário, 4,5% de crescimento e 9% de taxa real de juros, não se sai do lugar.
É importante que se dê visibilidade ao peso dos juros.

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Luisnassif@uol.com.br


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