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RECEITA ORTODOXA
Para diretor-adjunto, país tem "muitas prioridades em gastos" para levar em conta antes de decidir por aperto maior
FMI questiona aumento do superávit fiscal
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Brasil viveu ontem a insólita
situação de ter tido questionada
pelo próprio FMI (Fundo Monetário Internacional) a necessidade
de o que o país aumente o atual
nível de superávit fiscal para reduzir o seu endividamento.
Ao mesmo tempo, o governo
brasileiro afirmou que um eventual aumento do superávit "não
atrapalharia" o crescimento projetado para os próximos anos.
Charles Collyns, diretor-adjunto do FMI responsável pelo Brasil,
afirmou que o país tem "muitas
prioridades em gastos", principalmente na área de infra-estrutura. "Há uma série de fatores que
o governo tem de levar em conta
antes de tomar uma decisão nesse
sentido [de aumentar o superávit]", disse.
Collyns fez a afirmação em resposta a pedidos de economistas e
banqueiros em seminário em
Washington para que o Brasil
amplie em 2005 a atual meta de
superávit primário, de 4,5% do
PIB (Produto Interno Bruto), para pagar seu endividamento.
O aumento dessa meta levaria a
uma redução mais rápida da dívida, mas diminuiria ainda mais a
capacidade do governo de investir, que é o que o FMI questiona.
"Há muitas prioridades em gastos, como os investimentos públicos em infra-estrutura. Eles são
necessários para que não se forme
um gargalo nas exportações por
causa da falta de portos ou de problemas com o transporte interno,
por exemplo. Existem também
outros objetivos sociais do governo", afirmou Collyns.
Presente ao encontro, o secretário do Tesouro brasileiro, Joaquim Levy, disse que "o Brasil não
está correndo para aumentar o
superávit primário". Mas, segundo ele, mesmo uma elevação da
meta no ano que vem "não atrapalharia" as atuais perspectivas
de crescimento do país.
De acordo com projeções do
FMI apresentadas ontem, o tamanho da dívida brasileira como
proporção do PIB deve cair dos
atuais 54,1% para 45% em cinco
anos, caso o Brasil cresça 3,5% ao
ano até 2009. Segundo o FMI, essa
é uma previsão "conservadora",
pois o crescimento pode ser
maior que 3,5% anuais previstos.
"O mais importante agora é colocar a ênfase no crescimento,
com as reformas necessárias, que
é o que o governo parece estar fazendo", disse Collyns.
Levy disse que o governo ainda
está "preocupado com a meta [de
superávit] deste ano". "Veremos
a do ano que vem quando chegarmos lá." O secretário do Tesouro
disse também que o governo tem
um "compromisso claro" de não
aumentar mais a carga tributária,
fato que poderia dificultar um esforço fiscal maior.
Os pedidos para que o Brasil
economize mais para reduzir seu
endividamento foram encabeçados pelo presidente do Itaú, Roberto Setubal, pelo ex-economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff,
hoje na Universidade de Harvard,
e por Paulo Leme, diretor da
Goldman Sachs.
Rogoff afirmou que, para estar
"seguro", o Brasil terá de reduzir
seu endividamento como proporção do PIB dos atuais 54,1% do
PIB para 35% ou mesmo 25%.
"O benefício de pagar o endividamento mais rápido seria enorme aproveitando o extraordinário cenário econômico que temos
hoje", disse Rogoff.
Embora Collyns tenha dito ser
difícil ao FMI "encontrar buracos" na situação macroeconômica brasileira, ele admitiu que "há
sempre risco de reversão na dinâmica do endividamento" devido
ao tamanho da dívida do Brasil.
Para Setubal, o atual nível de superávit ""já vai dar sustentabilidade ao crescimento e recolocar,
com o tempo, o país em uma situação mais confortável para receber investimentos. Mas poderíamos chegar lá mais rápido."
Setubal afirmou que a medida
também ajudaria a reduzir mais
rapidamente as taxas de juro.
Confrontado com o pedido de
aumento do esforço fiscal, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que "banqueiro sempre quer mais". "O importante é que o atual nível de superávit é claramente sustentável."
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