São Paulo, quinta, 5 de novembro de 1998

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GREVE
Outros 13 foram feridos a bala
Canavieiro é morto em piquete em PE

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Goiana

Um trabalhador rural morreu e outros 13 foram feridos a bala durante conflito envolvendo policiais militares, seguranças contratados por usineiros e cortadores de cana-de-açúcar em greve, ontem em Goiana (PE).
O canavieiro Luiz Carlos da Silva, 27, foi atingido por um tiro na cabeça quando participava de piquete organizado pelo sindicato da categoria no engenho Terra Rica, na Zona da Mata (60 km de Recife).
A greve dos 132 mil cortadores de cana de Pernambuco entra hoje em seu quarto dia. Os trabalhadores reivindicam, entre outras coisas, aumento salarial de 31%.
Os produtores oferecem reajuste de 3,16%, mas condicionam o aumento a uma elevação na meta de corte da cana por dia de trabalho, de 2,4 toneladas diárias por lavrador, para 3,2 toneladas.
Segundo os grevistas, os 80 lavradores que estavam no local foram cercados e "recebidos a bala" por policiais e seguranças quando se aproximavam de um grupo de cerca de 150 canavieiros que trabalhavam no engenho.
"Foi um massacre", disse o tesoureiro do sindicato, João Martins Salustiano, 34. "Eles cercaram a gente pelo mato e fizeram uma emboscada", disse. Salustiano foi detido e liberado após prestar depoimento na delegacia.
A PM confirmou que quatro policiais estavam no local no momento do conflito, às 9h20, acompanhados de quatro seguranças da usina. Após o incidente, outros dez PMs -incluindo o comandante do batalhão- foram ao engenho.
"A usina sabia que os grevistas tentariam impedir o corte da cana e pediu nosso apoio", justificou o comandante, capitão Marcelo Renato da Silva. "Eles poderiam meter o facão em quem estava trabalhando", declarou.
O capitão nega que os policiais tenham encurralado os canavieiros e afirma que foram os lavradores que tentaram cercar e surpreender os PMs. "Eles eram muitos e não queriam conversar."
Ainda segundo o comandante, um dos seguranças da usina, armado com uma escopeta calibre 12, atirou para cima na tentativa de dispersar os trabalhadores rurais.
"Os cortadores estavam com foices e facões e vieram para cima", disse. Segundo o capitão, um dos soldados que estava no local "viu um revólver com os grevistas". Os canavieiros negam. Nenhuma arma de fogo foi apreendida.
O presidente da Contag (Confederação Nacional da Agricultura), Manoel Santos, disse que vai exigir a punição dos culpados. "Nunca vi policiais se unirem a capangas para massacrar trabalhadores em greve", afirmou.
A PM abriu sindicância interna para apurar o caso. Os policiais envolvidos não foram afastados do serviço. A Polícia Civil abriu inquérito, mas até o final da tarde de ontem nenhum dos PMs e seguranças envolvidos haviam sido interrogados. Seis horas após o conflito, o corpo do lavrador morto continuava no local.



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