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Anistia de ICMS rende R$ 2 bi a São Paulo
Com descontos de até 90% nas multas e de 50% nos juros, empresas pagam metade do que deviam e saem da lista de inadimplentes
Governo diz que perdão de débitos é vantajoso ao Estado, que pode recuperar recursos mais rapidamente e ter contas reequilibradas
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A anistia de até 90% nas multas e de 50% nos juros concedida às empresas que têm dívidas
de ICMS já rendeu à Fazenda
paulista R$ 2,06 bilhões em outubro e em novembro deste
ano. Se tivessem pago o valor
total dos débitos com o fisco, as
empresas teriam desembolsado cerca de R$ 4 bilhões.
Além de equilibrar as contas
do Estado, que chegou a prever
déficit de R$ 1,2 bilhão para
2006, esse dinheiro possibilitará que o governador eleito, José
Serra (PSDB), comece sua gestão com caixa mais folgado.
A anistia às empresas que
têm débito de ICMS, editada
em 29 de setembro, vale até o
dia 22 deste mês. Quem quitou
dívida em outubro obteve redução de 90% no valor da multa.
Em novembro, o desconto caiu
para 80% e, neste mês, para
70%. O deságio nas taxas de juros é de 50%.
Henrique Shiguemi Nakagaki, coordenador da Administração Tributária, diz que o fato de
as empresas terem pago 50%
da dívida não quer dizer que o
Estado perdeu R$ 2 bilhões
com a anistia. É que, quando
autuadas, as empresas também
têm descontos nas multas, dependendo do período em que
quitam os seus débitos.
"Se não fosse a anistia, provavelmente, essas empresas estariam devendo R$ 4 bilhões para
a Fazenda, e sem perspectivas
de quitarem seus débitos."
Pedidos para a anistia de dívidas de ICMS, segundo informa o coordenador da Administração Tributária, vieram de
várias entidades empresariais,
como a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São
Paulo) e o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), e de deputados.
As indústrias de alimentos
foram as que mais pagaram dívidas de ICMS com a anistia
-depositaram R$ 313,4 milhões nos cofres da Fazenda.
Outros setores que quitaram
débitos foram: comércio atacadista (R$ 181,6 milhões), indústria de bebidas (R$ 166,2 milhões), comércio varejista (R$
161,4 milhões), supermercados
(R$ 153, 2 milhões) e indústria
plástica (R$ 131,2 milhões).
Nakagaki informa que o Estado fica com 75% do valor arrecadado -ou R$ 1,74 bilhão. O
restante fica com os municípios. Do dinheiro arrecadado
pelo Estado, 30% vão para a
educação, 12% para a saúde e
13% para pagar dívidas com o
governo federal, como determinam legislações federal e estadual. "Esse é um dinheiro que
está, em parte, carimbado."
"Não há dúvida de que, com
essa arrecadação adicional, vamos conseguir equilibrar o Orçamento do Estado de São Paulo para este ano. Soma-se a isso
o esforço que fizemos para cobrar também as dívidas de IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores]", diz. No Orçamento do Estado, a previsão era arrecadar
R$ 4,8 bilhões com IPVA neste
ano. A expectativa agora é arrecadar cerca de R$ 5,6 bilhões.
"Com arrecadação adicional,
o Estado pode ainda acelerar
pagamento de obras e pagar
precatórios [créditos que pessoas físicas e jurídicas têm com
o Estado por determinação da
Justiça]", diz Adriano Queiroga, coordenador-adjunto da
Administração Tributária.
Para cumprir regra da Constituição, segundo informa Clovis Panzarini, consultor especializado na área tributária, o
governo é obrigado a gastar o
que arrecada no mesmo ano.
"Lembro que, em 1999, uma
anistia do mesmo tipo encheu
os cofres da Fazenda paulista.
Para cumprir uma regra constitucional, o governo deu um
abono para professores. Não
que eles não mereçam. Será
que neste ano vai acontecer a
mesma coisa?", pergunta.
Especialistas em tributação
ouvidos pela Folha entendem
que a anistia a devedores de
impostos é bem-vinda quando
há desequilíbrio nas contas do
Estado e quando são baixas as
perspectivas de pagamento de
dívidas pelos contribuintes.
Procurada, a Secretaria do
Planejamento (que define o
destino dos recursos) informou, por meio de sua assessoria, que não tinha sido informada pela Fazenda paulista sobre
a arrecadação com a anistia.
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