São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mundos e fundos e Lula 2


Fundos de pensão prevêem investir mais em obras de infra-estrutura se seus sócios tiverem isenção de imposto

HÁ DINHEIRO privado à espera de condições mais favoráveis de investir em infra-estrutura. Alguns donos desse dinheiro querem isenção fiscal para investir em obras.
Os presidentes de dois dos três maiores fundos de pensão do país, Wagner Pinheiro (Petros) e Guilherme Lacerda (Funcef), dizem que, nos próximos quatro anos, os fundos poderiam transferir R$ 35 bilhões de investimentos em renda fixa para a renda variável. Isto é: grosso modo, desaplicar em títulos públicos para investir em obras.
O ativo de investimento dos fundos de pensão do país ronda os R$ 360 bilhões, 63% aplicados em renda fixa. Nos grandes fundos de pensão, papéis do governo levam algo entre 90% e 95% das aplicações em renda fixa. A idéia seria investir parte disso em ações ou fundos como os de infra-estrutura (FIPs), FIEEs etc.
A rentabilidade média dos fundos vai bem, entre 16% e 18%, mas começa a cair, na margem. Sua principal fonte de renda passou a murchar, pois os juros da dívida pública caem.
A fim de manter a rentabilidade, os fundos terão de assumir mais riscos em renda variável.
A isenção de imposto para aplicações em FIPs de infra-estrutura é o ponto um da "agenda do crescimento" da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base), que representa interesses de empresas de construção, energia, teles e indústria pesada. O ministro Guido Mantega diz que já aceitou a isenção do Imposto de Renda para FIPs no pacote Lula 2.
Os fundos de pensão já contam com isenção de imposto para investir em FIPs. Já estão em quase todos os fundos desse tipo, ainda um negócio novo e de apenas R$ 5 bilhões. Segundo Lacerda e Pinheiro, a isenção para outros investidores nacionais atrairia parceiros para novos negócios. Querem ainda que o governo permita mais participação dos fundos de pensão em uma empresa (de 20% para 25%), o que deve ocorrer, e o aumento do limite de aplicação em renda variável (ora em 50%, o que não deve acontecer).
Paulo Godoy, presidente da Abdib, estima que, com apoio fiscal, R$ 75 bilhões podem migrar dos fundos de pensão e de investimento para os FIPs nos próximos quatro anos. O patrimônio dos fundos de investimento é de R$ 900 bilhões, cerca de 60% dos quais em renda fixa, quase tudo em juros do governo.
"Claro que isso depende ainda do ambiente de negócios e da redução da incerteza jurídica. Não se investe por dez ou 30 anos, como em infra-estrutura, sem ter muita garantia para os contratos", diz Godoy.
A poupança brasileira em fundos é tão grande em relação ao PIB como em países ricos. Mas, no Brasil, a proporção do dinheiro aplicado em dívida pública é de duas a três vezes maior que no mundo rico. Motivo: dívida pública e juros altos.
Juros menos altos e a sofisticação do mercado criaram novidades na finança nacional. Vide aberturas de capital na Bovespa, captações no setor imobiliário e o início de fundos de empresas emergentes (FIEEs) e FIPs. Não se trata de exuberância: se fosse o caso, o país cresceria mais.
Mas há mais apetite para risco. Com gasto público e juro menor não seria preciso incentivo fiscal ("subsídio") para FIPs, diz gente do mercado financeiro com passagem pelo governo. Outros gestores, de perfil idêntico, acham que a carga fiscal afasta investidores; a renúncia a impostos que nem são arrecadados valeria a melhora da infra-estrutura.

vinit@uol.com.br


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