|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O modelo chinês
O crescimento acelerado da economia chinesa
não é meramente resultado de
um planejamento objetivo que
lhe permitiu ser o grande sorvedouro de investimentos
mundiais: mais que isso, é condição fundamental para que
não estoure o barril de pólvora
do país.
A estratégia de abertura adotada pelo Partido Comunista é
excepcional, uma obra de reforma de Estado única no século. Só que depende do fator
tempo. E por tal se entenda
preparar a economia para absorver um contingente de 900
milhões de chineses do velho
país para o novo em construção. Se o novo não crescer em
ritmo suficiente, será sufocado
pelo velho.
O "milagre chinês" começou
com a abertura da economia
em 1978, depois da fase terrível
da Revolução Cultural. A partir dos anos 80 houve forte movimento de estudantes em direção principalmente aos EUA.
Ao mesmo tempo, o governo
definiu cinco regiões para começar a liberalização da economia, criar o espírito empreendedor e testar o ritmo da
abertura. Essa experiência permitiu a atração dos primeiros
capitais, de chineses que haviam se exilado após a revolução maoísta.
Depois, a manutenção do
câmbio substancialmente desvalorizado visou preparar o
país para atrair investimentos
voltados para o mercado externo, que pudessem se beneficiar
do baixo custo dos salários baixo, principalmente, em função
dos baixos encargos que incidem sobre a mão de obra.
A grande explosão chinesa se
deu nos anos 90, quando China, Índia e Brasil passam a
atrair a atenção do mundo pelo potencial de crescimento do
mercado interno. Depois de o
Real ter incorporado milhões
de brasileiros ao mercado de
consumo, o sonho brasileiro foi
abortado pelos excessos das política monetária e cambial do
primeiro governo FHC. Ali se
perdeu o bonde, e ali a China
começou a colocar em movimento o seu comboio, aproveitando em sua plenitude os
grandes rearranjos ocorridos
nas multinacionais e no processo de fragmentação das cadeias produtivas.
A China se abriu para o
mundo sem ter regulamentação, sem ainda haver fé plena
na irreversibilidade da abertura econômica. Os capitais acorreram em manada, de olho no
mercado potencial.
O que caracteriza o modelo
chinês é o absoluto pragmatismo. Fixaram-se no país mais
bem sucedido do mundo -os
EUA- e mandam para lá centenas de missões para replicar
os modelos vitoriosos.
Mas o que caracteriza a sua
ação é uma corrida ansiosa
contra o tempo, que muitas vezes resulta em modelos institucionais tortos, que acabarão
desmoronando mais cedo ou
mais tarde em muitos setores.
Hoje a China tem um mercado de consumo moderno, com
cerca de 60 a 70 milhões de
consumidores de alto poder
aquisitivo; tem novos empreendedores, que surgiram
após 1978, selvagens e predadores como toda economia de
mercado nova; tem o PCC, firme e coeso, mas tem centenas
de milhões de miseráveis que,
mais cedo ou mais tarde, vão
começar a pressionar, em função da disparidade de renda
que não havia antes.
Amanhã falaremos sobre os
desafios do modelo chinês.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica: Brasileiro Próximo Texto: Trabalho: Proposta prevê dedução no IR de gasto com doméstica Índice
|