São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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CONCORRÊNCIA

Governador em exercício entrará com ação civil pública contra a decisão de cancelar a compra da Garoto pela Nestlé

Governo do ES entrará na Justiça contra veto

ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo do Espírito Santo anunciou ontem que entrará com uma ação civil pública contra a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que cancelou anteontem a compra da Chocolates Garoto pela Nestlé.
Em nota oficial, o governador em exercício, Lelo Coimbra (PSB), afirmou que "o Espírito Santo também sairá perdendo com a proibição da venda, já que a empresa deixará de investir no Estado". Coimbra se reuniu ontem com o presidente nacional da Nestlé, Ivan Zurita, o diretor institucional da empresa, Carlos Faccina, e os secretários estaduais Ricardo Ferraço (Agricultura) e Sebastião Barbosa (Comunicação).
No encontro, Zurita informou que a Nestlé vai interromper os investimentos de cerca de US$ 150 milhões no Estado, em razão da decisão do Cade. Os recursos seriam destinados para a instalação de uma unidade de produção de café solúvel no ES, além da ampliação da produção e exportação dos produtos para a Páscoa da fábrica da Garoto em Vila Velha.
Zurita disse que a Nestlé pretendia exportar para mais de 40 países produtos como batons de chocolate e tabletes produzidos pela fábrica capixaba. Um contrato de venda de aproximadamente 5.000 toneladas de bombons para os EUA foi cancelado e os planos de expansão foram suspensos.
O presidente da Nestlé também se reuniu com funcionários da Garoto. Segundo o Sindi Alimentação (Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação), o clima é tenso na fábrica. Os empregados temem uma demissão em massa. A Garoto gera 3.000 empregos diretos e 12 mil indiretos.
Zurita não foi localizado ontem pela Agência Folha para dizer qual a posição que a Nestlé deverá adotar a partir de agora. Sua assessoria de imprensa, em São Paulo, não tinha informações.
Por pressão da bancada do Espírito Santo, o Senado vai cobrar explicações do Cade sobre a decisão de reprovar a compra da Garoto pela Nestlé. Os conselheiros do Cade serão convidados pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) a darem explicações sobre a proibição, em audiência pública com a participação de representantes do sindicato dos trabalhadores da Garoto e de advogados das duas empresas.
A decisão foi considerada "estapafúrdia, absurda, ilegal e imoral" pelo senador Gerson Camata (sem partido-ES), para quem a proibição vai "arrasar" a economia do Estado. "Ao impedir a compra, dois anos após a operação, o Cade deu recado aos investidores estrangeiros de que não vale a pena investir no Brasil e não há regras para os investimentos."
"Essa decisão é uma idiotice. Faltou bom senso. Vamos realizar a audiência pública e os próprios conselheiros podem recuar", defendeu Fernando Bezerra (PTB-RN), relator da medida provisória que autoriza o Cade a contratar pessoal técnico por tempo determinado, sem concurso público, aprovada ontem.
"Não é possível um órgão do governo tirar emprego. Vou trabalhar para reverter a decisão", afirmou Romeu Tuma (PFL-SP).
Partiu de Camata a proposta da audiência pública, imediatamente aceita pelo presidente da CAE, Ramez Tebet (PMDB-MS), que se disse "indignado" com a decisão.
O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), criticou a "morosidade" da decisão do Cade, mas disse que precisava conhecer melhor as razões técnicas.


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