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Presidente do Cade critica solução
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Voto vencido no julgamento
que determinou a desconstituição
da aquisição da Garoto pela Nestlé, o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), João Grandino Rodas, criticou ontem a decisão.
"A solução ultrapassou os limites da Constituição, na minha
opinião. Foi feita uma intervenção muito maior quando uma
menor seria possível", afirmou
Grandino à Folha. A declaração
provocou reação dos demais cinco conselheiros do Cade.
"O conselho reafirma a convicção quanto à plena constitucionalidade da decisão. A Constituição
estabelece o princípio da livre
concorrência como condicionante da ordem econômica impondo
por dever do Estado reprimir o
abuso do poder econômico", respondeu o conselheiro e relator do
caso, Thompson Andrade, em
nome dos outros integrantes.
Grandino, que chegou a comparar a decisão à "pena de morte",
disse que cumprirá "religiosamente" o que foi definido pelo
conselho. "A menos que venha
uma liminar judicial", ressalvou.
Ele disse que, se isso ocorrer, será uma das raras vezes que a Justiça suspenderá uma decisão principal do Cade. Hoje, há muitos casos em que o Judiciário intervém
em recursos obtidos pelas empresas contra aplicações de multa pelo conselho.
"A Constituição abriga o princípio da livre iniciativa, que é a base
da economia. Um grupo [o Cade],
por iluminados que sejam [os
conselheiros], não tem a possibilidade de fazer uma intervenção "ad
libitum" [à vontade] na concorrência", disse. "O que depreendo
da Constituição é que: o Cade pode intervir economicamente? Pode. É uma regra geral? Não. Não
cabe a ele interferir mais que o necessário na economia."
Os conselheiros do Cade, representados pelo relator, declararam
ainda que a Lei Antitruste estabelece como atribuição do conselho
analisar fusões, "devendo proibi-las quando imponham limitação
à livre concorrência". "E essa é a
hipótese em questão. Não foram
identificadas eficiências que justificassem a aprovação do caso. Haveria prejuízo ao consumidor",
afirmou Thompson.
Para o presidente do conselho,
uma alternativa "menos simplista" seria vender a marca Garoto
ou até produtos. "A pessoa está
com a perna cheia de feridas. Então o médico diz: "Vamos cortar e
está resolvido o problema". Não,
vamos tentar salvar a perna."
Grandino disse ainda que, se o
legislador quisesse transformar o
julgamento de fusões em algo
simples, teria criado um "número
mágico" para definir o nível máximo de concentração de mercado. "Aí a gente punha o número
no computador, e ele diria: "pode
a fusão" ou "não pode a fusão". Se
ele colocou pessoas julgando é
porque não se aplica automaticamente nada."
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