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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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VIZINHO EM CRISE

BC não sabe valor exato da conta nem quem pode ser beneficiado

Dolarizar depósitos pode custar até US$ 20 bilhões

Enrique Marcarian/Reuters
Correntistas argentinos comemoram a decisão que considerou ilegal a pesificação dos depósitos


DE BUENOS AIRES

O Banco Central argentino estima que a dolarização de depósitos vá custar ao governo cerca de US$ 10 bilhões. Analistas prevêem cifras maiores, de mais de US$ 20 bilhões. Mas nem o governo nem os bancos sabem o tamanho do rombo com o qual terão que lidar.
A Justiça decidiu ontem que a pesificação é inconstitucional, mas deu um prazo de dois meses para que o governo e a Província de San Luís (ganhadora do processo) negociem a devolução dos recursos. Caso não cheguem a um acordo no prazo, a Corte se reunirá novamente e decidirá o prazo e a forma de pagamento. Assim, a decisão de como devolver os recursos ficará para o próximo governo da Argentina, que deve assumir em maio.

Dúvida
Como os juízes não definiram o prazo nem a abrangência da decisão, não se sabe exatamente quem se beneficiará do precedente. Hoje, há correntistas que sacaram parte dos recursos pesificados, outros que os trocaram por títulos do governo e há quem, desde o início do ano, entrou com processo judicial para receber em dólares, e não em pesos.
Ontem, os analistas argentinos não sabiam dizer se a decisão era retroativa -ou seja, beneficiaria todos os correntistas, sem distinção- ou apenas os que ainda tem recursos presos nos bancos, o que dificulta o cálculo do impacto da decisão.

Comemoração
Os argentinos com dinheiro congelado nos bancos comemoraram. Milhares de correntistas foram à Suprema Corte e, depois de anunciada a decisão, fizeram uma passeata no centro financeiro de Buenos Aires. "Nunca mais veremos um ataque aos direitos dos cidadãos [como a pesificação"", disse o líder dos manifestantes, o ator e comediante Nito Artanza.
Quem não comemorou foram os devedores dos bancos, que temem que as instituições possam exigir que eles paguem suas dívidas, agora em pesos, de acordo com a cotação do dólar atual. Os bancos negam que recorrerão à Justiça para exigir o pagamento em dólares. As instituições esperam que o governo crie algum tipo de compensação, provavelmente por meio de emissão de títulos públicos, que seriam entregues aos correntistas.
Hilda Grumpich, presidente da ADA (Associação de Devedores Argentinos), disse que os devedores não aceitarão a redolarização das dívidas e convocou uma marcha "contra a dolarização" para a próxima terça-feira. (MB)


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