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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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Dívida atrasada e burocracia param BNDES

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) enroscou-se na inadimplência de US$ 415 milhões da norte-americana AES com seus cofres e ainda não deslanchou no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As aprovações de novos projetos caíram 66% nos dois primeiros meses do ano (último dado disponível) em relação ao mesmo período de 2002.
Carlos Lessa, presidente do banco estatal que é praticamente a única fonte de financiamentos de longo prazo do país, afirma que o principal motivo para a retração é a carência de projetos na fila para aprovação. "No dia 23 de dezembro a diretoria anterior fez um esforço gigantesco e aprovou mais de 70 operações. Praticamente aprovou tudo que estava mais ou menos maduro", disse.
Setores técnicos do banco ouvidos pela Folha têm pontos de vista diferentes de Lessa. Eles vêem lentidão mesmo. Para uns, motivada simplesmente pelo período de aprendizado das novas chefias, que foram praticamente todas trocadas. Para outros, estaria havendo um reexame excessivamente rigoroso, com viés de suspeição, dos projetos herdados da gestão passada.
Essa prática estaria reduzindo o número de processos examinados nas reuniões semanais de diretoria a um terço do que seria normal. Lessa não contesta o reexame, mas afirma que não se trata de suspeição.
"Na hora em que o Brasil passa a pensar mais com a categoria desenvolvimento, e que cai em plano menos relevante a categoria investimento [do BNDES", é muito natural que esse sinal, emitido pela administração da República, esteja produzindo uma atitude de renovado interesse sobre os projetos em carteira", argumentou.

Reforma administrativa
Lessa disse também que a origem da reforma administrativa que ele fez no banco nas primeiras semanas da sua gestão, considerada por seus críticos outra das causas da morosidade nas ações atuais, foi justamente ele ter recebido "dezenas de queixas de empresários" sobre a demora no tempo de análise de projetos do banco. A atual gestão prometeu reduzir esse tempo à metade.
O presidente do BNDES confirma que o caso AES tem sido outro fator de perturbação sobre o fluxo normal de trabalhos do banco, e insinua que casos parecidos podem estar para eclodir.
"No plano externo a grande preocupação nossa tem sido ligada a operações herdadas do processo de privatização. Muitas delas, em razão de vicissitudes várias, se apresentam com aspectos inquietantes para o banco", disse.
O caso AES, empresa que deve ao BNDES US$ 1,131 bilhão apenas pela compra de ações da Eletropaulo, é o que emergiu até agora. Lessa disse que não pode citar outros porque "os quadros ainda não se explicitaram".
Os problemas estariam ligados à falta de exigência de "garantias colaterais" nas operações. No caso AES, as garantias são, basicamente, ações da própria Eletropaulo. "Tudo isso nos deu muito trabalho e nos tomou muito tempo", afirmou.



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