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REUNIÃO EM BH
Banco aumenta categorias que podem receber crédito e quer elevar de 3% para 10% fatia concedida a empresas privadas
BID amplia empréstimo ao setor privado
MARCELO BILLI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento) se empenhará mais para aprovar empréstimos para o setor privado, que
representam hoje modestos 3%
da carteira do banco. Representantes dos 47 países-membros da
instituição aprovaram na reunião
que terminou ontem em Belo Horizonte a ampliação dos tipos de
projetos privados que podem ser
financiados pela instituição.
"A ampliação permitirá ao banco entrar em melhor sintonia com
as necessidades da região e melhorar sua capacidade de respostas", disse Luis Alberto Moreno,
presidente do BID. O banco foi
criado em 1959 para financiar
principalmente grandes obras de
infra-estrutura -usinas, estradas, sistemas de saneamento. Na
época, eram todos investimentos
realizados pelo setor público.
Em meados dos anos 50, grande
parte dos economistas que estudavam o desenvolvimento econômico acreditava que o problema
de países subdesenvolvidos era a
falta de capital. Instituições como
o BID e o Banco Mundial foram
criados para financiar obras públicas que aumentassem o estoque de capital -estradas, ferrovias etc- dos países pobres.
Depois os economistas descobriram que só capital não desenvolvia um país. Passaram a se
preocupar com educação, instituições e indicadores sociais. Assim, o BID criou novas linhas e
mudou suas diretrizes de atuação.
Hoje, financia desde ferrovias a
programas de modernização da
burocracia estatal.
Mas o banco continuou sendo
um financiador de governos, não
de empresas. E isso em período
em que os governos, com problemas fiscais crônicos, crescentemente passam a depender do setor privado para fazer esses investimentos. A aprovação da ampliação do que o BID chama de "mandato do setor privado" era um dos
assuntos mais caros ao Brasil.
Não foi aumentado o limite de
empréstimos ao setor privado,
que já era de 10% da carteira do
banco. Mas foi flexibilizada a regra para financiamentos ao setor.
"A incorporação de outros setores de atividade do setor privado e
a promoção de parcerias público-privadas [PPPs] são elementos
fundamentais das mudanças",
disse Moreno.
O Brasil queria ampliar o limite
de 10%. Mas prevaleceu a posição
dos EUA, de que somente poderia
discutir-se uma ampliação quando fosse usado o espaço atual. Só
3% da carteira está com o setor
privado hoje. De qualquer forma,
os americanos cederam em alguns pontos: mais setores serão
elegíveis para os empréstimos e
dois terços deles podem fazer parte de PPPs, outra demanda dos latino-americanos.
Perdão de dívidas
O que avançou muito pouco foi
a proposta de perdão da dívida
dos cinco países mais pobres da
região (Guiana, Honduras, Bolívia, Haiti e Nicarágua). Eles devem US$ 7 bilhões ao BID e o perdão giraria em torno de US$ 3,5
bilhões. Brasil, México e Argentina dizem ser "simpáticos" ao perdão, mas propõem que os países
ricos paguem a conta.
O máximo que os cinco países
conseguiram foi a aprovação da
criação de uma comissão para estudar formas de viabilizar o perdão. Na prática, o dinheiro sai de
um fundo, o FOE (Fundo de Operações Especiais), criado para financiar projetos exclusivamente
nestes países. O capital do fundo é
hoje de US$ 9,6 bilhões. O perdão
sem recapitalização significaria
uma redução que ronda os 30%.
"É fundamental que o FOE mantenha suas condições de operação", disse o ministro brasileiro
Paulo Bernardo (Planejamento),
que presidirá a comissão .
Outro problema, mais técnico,
preocupa os países latino-americanos de renda média, principalmente Brasil, Argentina e México.
O BID obedece a normas internacionais como qualquer outro
banco. Caso haja o perdão (na
prática um "default"), nada impede que esses países voltem para a
carteira do banco com novos projetos. A entrada de créditos de
menos qualidade exigiria ajustes
que poderiam levar, por exemplo,
à queda do rating do BID e ao aumento do custo de captação.
O peso maior acabaria recaindo
sobre os países de renda média,
que já subsidiam os mais pobres,
já que o BID não cobra taxas diferenciadas de seus membros.
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