São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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VIZINHO

Críticos questionam eficácia do controle de preços

Apesar de proibição de exportação, carne puxa inflação na Argentina

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Mesmo com a exportações do produto proibidas desde 13 de março para forçar a queda do preço interno, a carne na Argentina subiu 3,4% em março e contribuiu para que a inflação geral do mês no país alcançasse 1,2%.
O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) foi divulgado ontem pelo instituto oficial. Embora represente uma alta em relação a fevereiro (quando a inflação foi 0,4%), o número foi menor do que o de março do ano passado, que chegou a 1,5%.
O primeiro trimestre fechou com alta acumulada de 2,9%, menor que os 4% do mesmo período de 2005, dado comemorado pelo governo por "quebrar a expectativa" de escalada da inflação.
Os itens que mais impulsionaram a alta do mês passado foram educação ( 9,5%) e vestuário (6,1%).
O preço maior de artigos escolares e roupas já era, porém, esperado pelo governo e pelo mercado, por conta da volta às aulas e da mudança da estação.

Queda-de-braço
No caso da carne, o aumento é uma derrota do governo e adiciona tensão à queda-de-braço entre a Casa Rosada e produtores e frigoríficos. A exportação foi proibida, salvo os cortes de alta qualidade da cota destinada à Europa, para aumentar a oferta interna.
A medida tem gerado protestos diários de pecuaristas e empresários do setor, respondido por movimentos sociais que apóiam o presidente Néstor Kirchner. Kirchner convocou um boicote ao produto e há propagandas da Presidência na TV com o mesmo mote: "Se o preço não baixar, não compre carne".
Com a restrição da venda ao exterior, o preço no principal mercado de abates caiu, mas a queda não chegou ao consumidor. O aumento médio de 3,4% da carne -um corte popular como a carne picada subiu 6,1%- impactou na cesta básica de alimentos, que avançou 1,8%.
A alta da cesta básica e de alimentos e bebidas em geral (1,5%) também lança dúvidas sobre a estratégia de combater a inflação com controle de preços, já que há acordos do governo com empresas e supermercados para congelar o valor de mais de 200 produtos, de biscoitos a azeite.
Para integrantes do Ministério da Economia, os acordos têm funcionado porque, do contrário, os números do primeiro trimestre já projetariam uma inflação maior que 12%, a meta de 2006. Defendem que as medidas tomadas controlam a alta sem deprimir a economia.
A expectativa do mercado internacional, porém, é outra. Em relatório divulgado na terça-feira na reunião do BID (Bando Interamericano de Desenvolvimento), em Belo Horizonte, o IIF (Instituto Internacional de Finanças, na sigla em inglês), que reúne os principais bancos do mundo, prevê uma inflação de 14,9% para 2006 e de até 18% no ano que vem caso o governo mantenha apenas a estratégia atual.
O IIF defende que o governo Kirchner aplique um "ajuste monetário" e critica a atitude "agressiva" da Casa Rosada com empresários. Para o instituto, há um risco de a alta provocar "uma espiral salarial".
Além de negociar diretamente com empresas os acordos de preço, Kirchner também entrou na questão dos salários. Ontem, em negociação com a direta participação do presidente argentino, o sindicato dos caminhoneiros, um dos mais influentes do país, conseguiu reajuste de 19% e os trabalhadores voltaram ao serviço depois de cinco dias de greve.
O presidente do sindicato, Hugo Moyano, que também lidera a principal central trabalhadora, pedia 28% de reajuste, mas depois de ser recebido por Kirchner na Casa Rosada acabou aceitando a proposta de 19%, em duas parcelas (abril e julho).


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