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OPINIÃO ECONÔMICA
O presente do Dia das Mães
BENJAMIN STEINBRUCH
Nem a velhinha de Taubaté, a
sempre crédula personagem
criada por Luis Fernando Veríssimo, poderia prever no fim do ano
passado tudo o que está ocorrendo agora na economia brasileira.
Tínhamos um presidente eleito
com forte apoio popular e com
propostas sérias, mas pairava
grande incerteza sobre a capacidade de aplicação do programa
do partido que estava indo para o
poder, por conta de suas posições
historicamente radicais.
Além disso, o novo governo herdava uma série de problemas
conjunturais. A inflação estava
em alta e o IGP-M chegara a superar 5% em novembro. O dólar
ameaçava ultrapassar a casa dos
R$ 4, a credibilidade brasileira no
exterior estava a zero e a captação de recursos se tornara quase
impossível.
Para complicar, o cenário internacional era ameaçador. Com a
invasão do Iraque tida como certa, os preços do petróleo se aproximavam de US$ 40 o barril e a economia americana caminhava para a recessão. Temia-se que o petróleo pudesse chegar a US$ 60
quando a guerra explodisse.
Passaram-se quatro meses e o
cenário mudou. A economia
americana ainda rateia, mas a
Guerra do Iraque acabou e o petróleo já caiu para perto de US$
23.
No flanco interno, há uma sequência de boas notícias. A inflação caiu para 0,92% em abril e
mantém tendência de baixa, até
porque a Petrobras reduziu os
preços dos derivados de petróleo.
O dólar baixou tanto que até já
preocupa os exportadores -o
câmbio favorável foi o principal
fator que levou ao superávit de
US$ 5,2 bilhões na balança comercial no primeiro quadrimestre. Nas contas públicas, o superávit primário subiu para R$ 22 bilhões até abril, R$ 7,4 bilhões
além do prometido ao FMI.
No flanco externo, o Brasil recuperou credibilidade. Na semana
passada, pela primeira vez em
um ano, a República lançou bônus no mercado internacional.
Vendeu US$ 1 bilhão, com vencimento para 2007, mas teve ofertas
de investidores para até US$ 6 bilhões. O mercado externo reabriu-se também para empresas
estatais e privadas.
Some-se a isso o presidente Lula
ter conseguido encaminhar ao
Congresso os textos das duas
principais reformas constitucionais, a tributária e a previdenciária. Lula ostenta um invejável
apoio popular e empresarial. Seus
índices de aprovação, aliás, são
maiores entre os dirigentes empresariais (72%) do que na população em geral (51%), outra informação que surpreende até a velhinha de Taubaté.
Apesar dessas notícias boas, o
Brasil não está feliz. O índice de
felicidade continua em baixa por
uma razão simples: os empregos
não surgiram. Na Grande São
Paulo, estão desempregados
19,7% da população economicamente ativa -cerca de 1,8 milhão
de pessoas. Ainda que a boa safra
agrícola amenize um pouco o desemprego no interior, a situação
não é muito diferente no resto do
país.
O risco que corre o presidente
Lula é o mesmo que complicou o
governo passado, o de achar que
sua obrigação é cuidar apenas do
sucesso dos índices macroeconômicos, na suposição de que isso
possa levar naturalmente ao crescimento e à ampliação de empregos.
Para promover crescimento, é
preciso ter vontade e coragem política, fazer planejamento, oferecer crédito, conceder incentivos e,
sobretudo, baixar juros. A série de
boas notícias, começando pela
queda da inflação, abre espaço
para que o Banco Central convoque imediatamente reunião extraordinária do Copom para promover uma redução importante
na taxa básica de juros, hoje em
26,5%.
A redução dos juros teria efeito
imediato no câmbio e poderia interromper a preocupante tendência de valorização do real em relação ao dólar.
A queda do dólar, aliviada um
pouco ontem, não pode persistir,
porque trará problemas reais para a balança comercial a médio
prazo, pelo seu impacto negativo
nas vendas externas. Programas
de exportações precisam ter consistência e não podem ser uma
sanfona, que ora amplia e ora
contrai sua área de abrangência.
O câmbio, usado corretamente,
tende a ser um instrumento de
crescimento econômico. Experiências de outros países, como Japão, Coréia do Sul e China, já
provaram que a depreciação da
moeda local estimula ao mesmo
tempo as exportações, a atividade
interna e a substituição de importações.
Com todo o clima favorável, o
Banco Central não tem mais nada a esperar para baixar os juros.
Seria um presente de Dia das
Mães.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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