|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A volta dos velhos sofismas
No primeiro governo FHC, o debate sobre política cambial foi monopolizado por
economistas que criaram um sem-número de sofismas para sustentar a apreciação do real. Erraram redondamente, arrebentaram o país e não foram punidos, nem sequer como consultores. Continuaram com plena
liberdade para emitir opiniões
erradas reiteradamente, sem serem cobrados por seus erros de
análise.
Agora, voltam os mesmos sofismas, as mesmas meias verdades sobre o câmbio, em um quadro em que não existe mais nem
pensamento monolítico nem ingenuidade na imprensa para
acolher esses sofismas.
Tomem-se alguns sofismas que
acabam conquistando a parte
mais leiga da mídia, montados
todos eles em cima de meias verdades (uma das formas sofisticadas da mentira).
Sofisma 1 - Qualquer desvalorização cambial vai resultar em
exigências de descontos nos preços por parte dos compradores
que, na prática, anularão o reajuste.
Há casos, de fato, de compradores que exigirão descontos
parciais, beneficiando-se de parte do ganho do exportador. O sofisma consiste em mencionar o
fato e não esclarecer que afeta
apenas parte pequena das exportações.
Se fosse honesto, o analista
mostraria, de um lado, quanto
as exportações aumentam com o
câmbio menor. Depois, descontaria o quanto do ganho é anulado com descontos. Finalmente,
apresentaria o resultado líquido, que seria o seguinte: praticamente todos os países que desvalorizaram suas moedas apresentaram crescimento das exportações e do superávit comercial.
Logo, houve ganho líquido.
Sofisma 2 - No mundo moderno, o câmbio não faz diferença
nas exportações. O que conta é a
busca da inovação tecnológica.
Nenhum país emergente consegue criar inovação tecnológica
do nada e de tal nível que permita entrar no mercado sem apelar
para preço. Se tivesse esse poder,
não seria emergente, mas desenvolvido.
Como a Coréia se tornou potência industrial e tecnológica?
Primeiro fabricando produtos
mais baratos para concorrer
com produtos mais avançados,
mas de preços mais altos. Só depois de ganhar músculos é que
passou a competir com inovação
de ponta. A própria Itália viu
um movimento extraordinário
de busca de inovação por parte
de pequenas empresas. Mas o
movimento só se converteu em
explosão de exportações quando
o câmbio foi desvalorizado.
Sofisma 3 - A situação do câmbio não está afetando as exportações porque elas são contratadas com meses de antecedência,
em cima de uma expectativa de
dólar médio. Se as exportações
continuam crescendo, mesmo
ante a expectativa de um dólar
menos valorizado, é porque o
câmbio é considerado favorável
pela maioria dos exportadores.
Raciocínio perfeito para uma
conclusão errada. Se a defasagem é de meses, é óbvio que o ritmo das exportações atual reflete
as expectativas dos agentes econômicos de quatro ou cinco meses atrás, quando se acreditava
em um dólar acima de R$ 3,30.
Só daqui a quatro ou cinco meses é que as exportações refletirão as novas expectativas em relação ao dólar.
Se não desabarem, apresentarei minhas desculpas pela coluna, por erro de avaliação. Se o
dólar continuar caindo e as exportações desabarem, espero
que esses analistas tenham a honestidade da autocrítica pública.
E-mail-
luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Publicidade: Juíza do Rio suspende propaganda da Vivo Próximo Texto: Telefônica diz aceitar alta menor de tarifa Índice
|