São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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LUÍS NASSIF

Desafios da política industrial

Nas discussões sobre a nova política industrial, predominaram duas linhas distintas de pensamento nos grupos envolvidos. Do lado do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a ótica da balança comercial. Foi o que levou técnicos de lá a centrar fogo na construção de uma planta de semicondutores. Do lado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a ênfase na tecnologia, nas apostas que o país terá que bancar daqui a dez anos.
Um dos principais pensadores do tema inovação e tecnologia, o grande formulador da política científico-tecnológico do governo Fernando Henrique Cardoso, o ex-secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia Carlos Américo Pacheco está entre os que defendem a prospecção de novos setores.
Ele notou que, no debate sobre semicondutores, pouca ênfase se deu ao fato de que a única maneira de o país produzir os componentes será por meio de um fornecedor mundial, com uma planta "turnkey" (porteira fechada, como se diz) com praticamente nenhum impacto na absorção doméstica de tecnologia. Pacheco admite a importância para dar maior flexibilidade às contas externas brasileiras, mas insiste em que seria ilusório comemorar o crescimento das exportações desses bens como sinal de mudança qualitativa no grau de capacitação tecnológica da indústria.
Diz ele que políticas de incentivo à inovação são centrais não apenas para inverter eventuais déficits setoriais da indústria como para manter ou ampliar a competitividade mesmo nos segmentos que se revelam competitivos no plano internacional. Por exemplo, desenvolvimentos futuros de novas técnicas de engenharia genética e biotecnologia terão forte impacto na indústria de celulose, papel e madeira, cujas vantagens, hoje em dia, são decorrentes apenas do parque florestal e das condições climáticas do país.
Ponto importante do debate -produzido no âmbito do Conselho Temático de Tecnologia do Projeto Brasil- é separar inovação de tecnologia. Inovação é avanço incremental ou introduzido no elo da cadeia produtiva, sempre diretamente ligado à produção do bem. Exemplos são as inovações no campo da distribuição e logística.
Para o reitor da Unicamp, Carlos Henrique de Brito Cruz, só se consegue inovação internalizando as pesquisas nas empresas, razão pela qual ele defende que o governo utilize as verbas do setor para dividir com empresas o custo de contratação de pesquisadores.
O diretor da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras), Olívio Ávila, é da opinião de que, se fosse para escolher setores, deveriam antes se definir claramente os critérios por meio de um debate amplo.
Para o economista João Furtado, da Unesp, o desafio será horizontalizar os avanços dos quatro setores priorizados pelo plano -software, semicondutores, fármacos e bens de capital-, planejando seus avanços para outros da economia.
Todos são unânimes em constatar que, apesar dos avanços conceituais, ainda não há nada de concreto sobre as formas de implementação da política.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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