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LUÍS NASSIF
Desafios da
política industrial
Nas discussões sobre a
nova política industrial,
predominaram duas linhas distintas de pensamento nos grupos
envolvidos. Do lado do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a ótica
da balança comercial. Foi o que
levou técnicos de lá a centrar fogo na construção de uma planta
de semicondutores. Do lado do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a ênfase na
tecnologia, nas apostas que o
país terá que bancar daqui a dez
anos.
Um dos principais pensadores
do tema inovação e tecnologia, o
grande formulador da política
científico-tecnológico do governo Fernando Henrique Cardoso,
o ex-secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia
Carlos Américo Pacheco está entre os que defendem a prospecção de novos setores.
Ele notou que, no debate sobre
semicondutores, pouca ênfase se
deu ao fato de que a única maneira de o país produzir os componentes será por meio de um
fornecedor mundial, com uma
planta "turnkey" (porteira fechada, como se diz) com praticamente nenhum impacto na absorção doméstica de tecnologia.
Pacheco admite a importância
para dar maior flexibilidade às
contas externas brasileiras, mas
insiste em que seria ilusório comemorar o crescimento das exportações desses bens como sinal
de mudança qualitativa no grau
de capacitação tecnológica da
indústria.
Diz ele que políticas de incentivo à inovação são centrais não
apenas para inverter eventuais
déficits setoriais da indústria como para manter ou ampliar a
competitividade mesmo nos segmentos que se revelam competitivos no plano internacional. Por
exemplo, desenvolvimentos futuros de novas técnicas de engenharia genética e biotecnologia
terão forte impacto na indústria
de celulose, papel e madeira, cujas vantagens, hoje em dia, são
decorrentes apenas do parque
florestal e das condições climáticas do país.
Ponto importante do debate
-produzido no âmbito do Conselho Temático de Tecnologia do
Projeto Brasil- é separar inovação de tecnologia. Inovação é
avanço incremental ou introduzido no elo da cadeia produtiva,
sempre diretamente ligado à
produção do bem. Exemplos são
as inovações no campo da distribuição e logística.
Para o reitor da Unicamp,
Carlos Henrique de Brito Cruz,
só se consegue inovação internalizando as pesquisas nas empresas, razão pela qual ele defende
que o governo utilize as verbas
do setor para dividir com empresas o custo de contratação de
pesquisadores.
O diretor da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das
Empresas Inovadoras), Olívio
Ávila, é da opinião de que, se fosse para escolher setores, deveriam antes se definir claramente
os critérios por meio de um debate amplo.
Para o economista João Furtado, da Unesp, o desafio será horizontalizar os avanços dos quatro setores priorizados pelo plano -software, semicondutores,
fármacos e bens de capital-,
planejando seus avanços para
outros da economia.
Todos são unânimes em constatar que, apesar dos avanços
conceituais, ainda não há nada
de concreto sobre as formas de
implementação da política.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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