São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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ENTENDA O QUE ACONTECEU

O que é um fundo de investimento?
Um fundo é como um clube. Um grupo de pessoas que decide investir em algo -pode ser em uma fábrica, na construção de uma casa, na compra de ações ou títulos- se une, cada um contribui com uma quantia em dinheiro e o fundo faz o investimento

Como entrar para um fundo?
Na prática, as pessoas delegam a decisão de onde investir para os bancos, que têm profissionais especializados para fazê-lo. O cliente do banco então compra uma cota do fundo. Se ele compra R$ 100 de um fundo de R$ 1.000, ele tem direito a 10% do patrimônio do fundo

O que define o rendimento do investimento?
O rendimento será definido pela variação do patrimônio do fundo. Imagine que o cliente do exemplo anterior tenha comprado a cota de um fundo que aplicou os R$ 1.000 do patrimônio em ações da Petrobras. Se as ações subirem 20%, o patrimônio do fundo sobe para R$ 1.200. O cliente aplicou R$ 100 e pode resgatar R$ 120. Se as ações caírem 20%, o patrimônio cai para R$ 800 e o cliente pode resgatar R$ 80. Claro, ele terá que pagar uma taxa ao banco pela administração do fundo, que varia de acordo com o tipo de investimento e com a instituição

O mesmo ocorre com os fundos DI?
Sim. Todos os fundos estão sujeitos a variações negativas no valor do patrimônio e, portanto, existe um risco de que o investidor perca dinheiro aplicando num fundo DI. O risco de perder dinheiro num fundo DI é menor do que o de aplicar em ações, por exemplo, mas existe

O que é um fundo DI?
O DI é o que os analistas chamam de fundo referenciado. Um fundo referenciado tenta fazer seu patrimônio variar de acordo com a variação de um ativo, ao qual ele passa a ser atrelado. Assim, um fundo referenciado câmbio, varia de acordo com a taxa de câmbio. O DI é atrelado à taxa de juros

Como os fundos DI ficam atrelados à taxa de juros?
Para que a variação do patrimônio dos fundos DI acompanhe a variação da taxa de juros, quase todo o patrimônio desses fundos -cerca de 80%- é aplicado em títulos do governo, como as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro). A emissão de LFTs é a forma que o governo usa para captar recursos. Os juros pagos pelo governo -a taxa básica de juros é definida pelo Banco Central e está hoje em 18,5%- garantem a rentabilidade dos fundos. Os fundos DI também investem em papéis de empresas privadas. Cerca de 20% do patrimônio dos DI é composto por debêntures (titulo de dívida) de empresas que têm uma boa avaliação de crédito

Por que os fundos perderam dinheiro?
O valor de qualquer título oscila de acordo com as expectativas que o mercado tem sobre a empresa ou instituição que emitiu o título. Se você tem um título do governo brasileiro de R$ 100 e acha que o governo não vai pagá-lo, você poderia estar propenso a vendê-lo por R$ 80 se alguém estivesse disposto a comprá-lo por esse valor. Muitos investidores temem que, com uma vitória da oposição nas eleições presidenciais, o governo renegocie as dívidas ou dê algum tipo de calote. Devido a esse receio, o valor dos títulos começou a cair no mercado. Foi essa queda que afetou o resultado dos fundos: o valor das LFTs oscilou para baixo no mercado e o Banco Central obrigou os bancos a ajustar o valor dos fundos ao valor que estava sendo pago pelos títulos no mercado

As perdas podem ocorrer novamente?
Sim. A partir de agora, toda vez que a cotação dos títulos cair, os bancos terão que ajustar o patrimônio dos fundos. O contrário também pode ocorrer: se o valor de mercado das LFTs subir, o mesmo ocorre com o patrimônio dos fundos DI. A obrigatoriedade do ajuste a mercado, nome dado à operação, deixa claro que, apesar de ser um dos investimentos mais seguros no mercado brasileiro, o fundo DI também oferece um risco aos investidores, ainda que pequeno

Devo tirar o dinheiro do fundo DI?
Consultores aconselham os cotistas a não sacarem o dinheiro que têm investido nos fundos. Quem sacar agora perderá definitivamente e pode não conseguir recuperar as perdas colocando o dinheiro em outros tipos de investimento

Quais as alternativas ao fundo DI?
POUPANÇA - A opção mais segura é a poupança. Mas é preciso lembrar que nesse caso o investidor não vai recuperar o dinheiro que perdeu no fundo DI. Além disso, a poupança é a aplicação que tem o menor rendimento e, em alguns meses, pode perder para a inflação

RENDA VARIÁVEL - Os investimentos de renda variável, como os fundos de ações e os cambiais, são opções mais arriscadas. Esses fundos, no entanto, oscilam muito e, no curto prazo, podem ter perdas bem maiores que as do fundo DI. É preciso lembrar que o patrimônio dos fundos cambiais também é composto por títulos do governo e que o risco de crédito, ou seja, a desconfiança de que o governo pode dar o calote, também afeta negativamente seu resultado

CDB - A outra alternativa são os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Os CDBs são usados pelos bancos para captar recursos. Funcionam como um empréstimo, você entrega uma quantia para o banco, que lhe paga juros. Nesse caso, no entanto, a viabilidade do investimento depende da quantidade de dinheiro aplicada e do prazo: os juros pagos para pequenas quantias são menores e se o prazo é curto -um mês por exemplo- o investidor paga CPMF toda vez que vai renovar a aplicação

Como saber se vale a pena trocar de investimento?
Um primeiro passo é pedir orientação ao banco do qual você é cliente. Os administradores dos fundos devem fornecer todas as informações necessárias para a decisão: qual o risco de investir, qual o rendimento esperado, quais as taxas envolvidas. Os sites dos bancos também trazem informações sobre o perfil de cada investimento

Se eu deixar o dinheiro já investido num fundo DI posso recuperar as perdas?
Sim. Mas isso dependerá do humor do mercado e da política de rolagem da dívida das LFTs. Se o Banco Central conseguir contornar a crise de confiança e o valor dos títulos voltar a subir, os fundos poderão recuperar as perdas. Vale lembrar que a regra que obrigou os bancos a ajustar o valor de seus fundos para baixo vale também para o contrário: nos dias em que a cotação da LFT subir, as cotas dos fundos também terão uma valorização



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