São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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NAUFRÁGIO PLATINO

País faz protesto formal e entende já ter cumprido exigências para obter novo acordo com o Fundo

Argentina reclama ao FMI e quer acordo já

France Presse
Grupo de piqueteiros fecha a ponte Avallaneda, em Buenos Aires


JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino apresentou uma reclamação formal ao FMI (Fundo Monetário Internacional) contra o chefe da missão para o caso argentino, Anoop Singh, que teria supostamente distorcido informações sobre a posição dos bancos estrangeiros em relação ao decreto que flexibiliza o curralzinho.
A reclamação, ordenada pelo presidente Eduardo Duhalde, faz parte da estratégia do governo para começar a negociar rapidamente a liberação de um novo empréstimo com o FMI.
Mostra também o descontentamento de Duhalde com o diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, que na terça-feira havia dado claros sinais de que as negociações seriam lentas e que poderia haver novas condições para a ajuda.
A queixa foi apresentada pelo representante argentino no FMI, Guillermo Zocalli. Depois, o ministro Roberto Lavagna (Economia) também teria ligado para a vice-diretora-gerente do Fundo, Anne Krueger, dizendo que Singh teria colocado em risco as negociações com o Fundo ao informar erroneamente à diretoria da instituição que os bancos estrangeiros eram contrários à devolução dos depósitos congelados pelo curralzinho com bônus optativos.
Segundo o ministro, a ABA (associação que engloba os bancos estrangeiros) enviou uma carta de apoio ao plano para Singh, que, mesmo assim, teria dito que os bancos estrangeiros preferem a troca obrigatória dos bônus por depósitos e influenciado negativamente a percepção do projeto dentro do FMI.
Mas até a semana passada a ABA se mostrava publicamente contrária à opção oferecida por Lavagna. Questionada pela Folha se havia mudado de idéia, a associação não quis se pronunciar.
Além do questionamento formal, o secretário-geral da Presidência, Aníbal Fernández, disse ontem que governo já cumpriu todas as exigências do Fundo e que, por isso, seria hora de que "se cumpram as promessas que nos foram feitas e que venha a missão para discutir a carta de intenções" para o fechamento do acordo.
Até o governador de Córdoba, José Manuel de la Sota, que não costuma se mostrar favorável a Duhalde, saiu em defesa do governo. Segundo ele, o FMI não pode fazer mais exigências "porque o país não aguenta mais".
O Fundo, no entanto, se mostrou irredutível. O porta-voz para América Latina, Francisco Baker, afirmou que o FMI vai decidir na próxima semana quando vai enviar uma nova missão à Argentina. Ele confirmou que a missão será técnica, e não negociadora, como Köhler havia antecipado.
O presidente do Banco Central, Mario Blejer, confirmou ontem que pode deixar o cargo, mas apenas depois de cumprir três objetivos: fechar o acordo com o FMI, estabelecer metas para a emissão de pesos e finalizar a implementação do plano para flexibilizar curralzinho. Segundo ele, a data da saída ainda é incerta. "Fico ao menos até cumprir esses objetivos."
Segundo a imprensa local, Blejer quer garantir imunidade a seus atos enquanto esteve à frente do BC antes de renunciar.

Eleições
O Congresso deveria analisar ontem pela primeira vez a redução dos mandatos dos políticos argentinos. A Comissão de Assuntos Constitucionais do Senado marcou uma sessão para analisar sete projetos que poderiam antecipar a eleição presidencial marcada para 2003.



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