São Paulo, sexta-feira, 06 de setembro de 2002

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VEÍCULOS

Alta de preços em agosto supera o ganho obtido com o imposto menor; novos aumentos podem estar a caminho

Reajuste dos carros come redução do IPI

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço do carro já aumentou no final de agosto, logo após a decisão do governo de reduzir a carga de impostos para a indústria automotiva. E novos aumentos devem ocorrer.
A Anfavea, entidade que representa 25 indústrias do setor automotivo, admitiu ontem a possibilidade de reajustes neste mês. Mais do que isso: o aumento, segundo a Folha apurou, deve se concentrar nos carros populares como parte de uma estratégia do setor de forçar a migração de consumidores dos modelos baratos para os mais caros.
A indústria quer que aqueles que pretendem comprar carros de 1.000 cilindradas gastem um pouco mais e adquiram carros de porte médio. Dentro desse "pacote incentivo" discutido há meses pelo setor para motivar a migração, foi debatida em agosto a hipótese de os reajustes se concentrarem nos modelos populares.
Pensando nisso, no início de agosto já foi determinada pelo governo, a pedido das empresas, a redução menor no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os carros populares. A alíquota desses modelos caiu de 10% para apenas 9%.
Já nos automóveis a gasolina (com motores acima de 1.000 e até 2.000 cilindradas), a taxa caiu bem mais, de 25% para 16%. Com isso, o preço dos carros de maior porte está mais interessante.
Agora, a notícia da alta no preço dos automóveis (principalmente os populares) neste mês pode facilitar ainda mais a venda dos carros mais caros, e que dão maior margem de lucro às montadoras.

Popular mais caro
A Anfavea não confirma que existe a intenção da indústria de elevar os preços, principalmente dos populares. "A forma como os aumentos serão feitos será definida pelas indústrias", afirma Ricardo Carvalho, presidente da entidade. Mas os aumentos até já ocorreram nessa categoria. A Anfavea não informou também a taxa média de reajuste do setor.
Segundo levantamento da Folha em três revendas, com a tímida queda no IPI para os populares o preço do Gol 1.0 caiu, em média, 1,2% nas lojas. Mas, mesmo assim, hoje ele custa 0,8% (de R$ 15,75 mil para R$ 15,92 mil) a mais do que em julho por causa do reajuste das montadoras no final de agosto. Ou seja, em algumas lojas o "efeito IPI" já foi "comido" pelos aumentos do mês passado.
Além do aumento em agosto, reajustes podem ocorrer neste mês por causa da escalada do dólar. "Olha, a vida continua. As montadoras estão em extrema competição e agirão com cautela, mas também com a cautela possível", disse Carvalho. "É evidente que há muita pressão sobre os custos, já que os insumos em geral são dolarizados. Precisamos reparar essa perda", afirma.

Migração já começou
A entidade confirma o interesse do setor em facilitar a migração de consumidores de carros populares para os mais caros. Alguns números comprovam que esse movimento até já começou.
Dados da associação mostram que, em janeiro, 76% da venda total era obtida com a comercialização de carros de 1.000 cilindradas. Cerca de 22% eram dos carros de 1.000 a 2.000 cilindradas. Os acima dessa potência eram responsáveis por 1,9% das vendas.
Em julho, as taxas estavam em 74%, 25,3% e 0,7%, respectivamente. Em agosto, os populares já perderam participação, ficando com 67,2% das vendas. Os modelos de 1.000 a 2.000 cilindradas alcançaram 31,6% do total.


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