São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Tiroteio na finança do mundo rico


Aperto de crédito e juros no interbancários estão altos no mundo rico, mas há sinais contraditórios na economia


OS MERCADOS estavam voltando ao normal, diz a mídia das Bolsas de Valores, que podem temporariamente flutuar na estratosfera mesmo quando ainda há tumulto, choro, ranger de dentes de desempregados e derivativos e empréstimos micados à solta pelo mercado. Quantos, de que valor e onde, ninguém sabe direito. E assim continua o tiroteio de dados parciais sobre a economia, que cada interessado emprega a seu bel interesse para justificar medidas de política monetária ou econômica.

Economia bege
O livro bege, os relatórios dos braços regionais do Fed, o banco central dos EUA, constata que, "afora o mercado imobiliário, o tumulto nos mercados financeiros pouco afetou a atividade econômica... apenas observou-se que o crédito ficou mais escasso também para os imóveis comerciais". Não foi pessimista, aliás, pelo contrário. Mesmo assim, as ações do Dow Jones caíram 1% e as S&P 500 recuaram 1,15%. Por quê?

Empregos em baixa?
Uma firma privada de consultoria, a Macroeconomic Advisers, baseada em amostragem de folhas de pagamento do setor privado americano, estima que no mês de julho houve o menor crescimento do número de empregos desde junho de 2003. Os dados oficiais de emprego saem amanhã. Se o mercado de trabalho estiver se deteriorando mesmo, pode haver gente a comemorar: poderia ser mais um impulso para o Fed cortar os juros. Mas é um presente estranho: é como ganhar um caminhão de brinquedos da Mattel fabricados na China.

Casas encalhadas
Segundo a Associação Nacional dos Corretores e Agentes Imobiliários dos EUA, as vendas de casas caíram 16,1% contra julho de 2006.

PIB encolhendo
Um relatório divulgado ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE um clube de três dezenas de países ricos) diz que é muito provável que os problemas no mercado imobiliário venham a provocar uma "desaceleração bastante significativa" nos EUA: em vez de crescer 2,1%, o PIB cresceria 1,9%. A princípio, parece um capricho decimal dos modelos de previsão macroeconômica. Mas a OCDE diz que essa previsão é otimista.

Foi engano
O Banco Central Europeu, depois de despejar bilhões de euros nos escaninhos dos bancos e de dizer que a situação crédito se acalmava, ontem voltou a reafirmar seu "compromisso com a normalidade dos fluxos de crédito". O fato é que os juros interbancários e o dos empréstimos de curto prazo via "commercial papers" ainda estão altos. Mais, os bancos vão ter de inscrever nos balanços várias operações com derivativos de crédito que faziam por meio de veículos de investimentos especiais, para não falar de empréstimos que concederam para aquisições e que não conseguem passar adiante (vão ficar também nos balanços), o que vai comprimir e encarecer a capacidade dos bancos de oferecer crédito.

vinit@uol.com.br


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