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CRIME EM MÔNACO
Procuradoria inicia investigação oficial; fitas de câmera interna do prédio serão analisadas
Banqueiro é enterrado hoje em Genebra
FÁTIMA GIGLIOTTI
enviada especial a Mônaco
Hoje o procurador-geral de Mônaco, Daniel Serdet, abre oficialmente uma informação judicial
criminal (procedimento similar a
um inquérito) sobre os fatos que
levaram à morte de Safra e de sua
enfermeira, Viviane Torrente.
O corpo de Edmond Safra, morto em um incêndio criminoso na
madrugada de sexta-feira em seu
apartamento no prédio Belle Epoque, situado em Montecarlo,
Principado de Mônaco, seguiu
ontem para Genebra, onde será
enterrado.
Vizinhos ao velório da cidade,
onde estaria o corpo de Safra depois de ser liberado na sexta à tarde pela polícia, após a autópsia
que confirmou sua morte por asfixia, afirmaram que houve uma
grande movimentação de carros e
pessoas em frente ao local por volta do meio-dia.
O enterro de Safra acontece às
8h (horário de Brasília), no cemitério judaico Veyrier, na cidade
suíça, depois de ser velado na sinagoga Beth Yacob. Mas, em Mônaco, o mistério que cerca a morte
do banqueiro continua.
Serdet afirmou que ontem deveriam ser investigadas as fitas
das câmeras internas do apartamento de Safra e do prédio Belle
Epoque, das quais ele tomou conhecimento apenas no sábado.
Os registros das câmeras externas
ao prédio, analisados no sábado,
nada revelaram.
Espera-se que essas fitas confirmem o depoimento do enfermeiro do banqueiro, que restabelece-se no hospital Princesa Grace de
dois golpes de faca na coxa e no
abdômen, recebidos supostamente por dois homens encapuzados, antes do início do incêndio.
A identidade do enfermeiro, um
americano de 41 anos, é mantida
em segredo pela procuradoria,
por medida de segurança. Mas,
até agora, a única fonte de informação sobre a presença dos dois
agressores no apartamento é o depoimento do enfermeiro, porque
nenhuma das provas materiais
colhidas durante a investigação,
até sábado, confirmavam o fato.
De qualquer maneira, como havia apenas três entradas para o
apartamento do banqueiro, as escadas, o elevador e um acesso externo, que liga-se ao vizinho Hotel
Hermitage, todas dotadas de sistemas de segurança extremamente sofisticados, o procurador Serdet declarou que vai investigar
com Lily Monteverde, mulher de
Safra, e os empregados do banqueiro como era feito o controle
das chaves pela família.
Essa afirmação leva a crer que
uma das hipóteses consideradas
pela procuradoria de Mônaco na
investigação é a de que o crime
pode ter sido cometido com a colaboração de alguém do círculo de
pessoas próximas a Safra.
Outra hipótese, mencionada sobretudo pela mídia inglesa, liga o
crime à máfia russa. O jornal "Financial Times" afirmou que Safra
teria se indisposto com membros
da máfia russa porque o Republic
Bank of New York, de propriedade do banqueiro, estaria ajudando as autoridades americanas a
monitorar uma suposta lavagem
de dinheiro feita pelos russos por
meio de bancos estrangeiros.
O jornal inglês "The Independent" disse que fontes do meio
bancário afirmaram que o banqueiro Safra sabia que sua vida estava em perigo. O procurador
Serdet, no entanto, confirmou no
sábado que não tinha conhecimento de que Safra tivesse sofrido
ameaças de morte em Mônaco.
Contudo, a revista "Méditerranée", suplemento local do jornal
"Le Figaro", que circula aos domingos na Riviera Francesa, faz
um inventário da presença e atividade das máfias na Côte d'Azur
francesa, onde situa-se o Principado de Mônaco. Na reportagem,
afirma que a máfia russa desvia
fundos do mercado imobiliário e
das indústrias da região.
Outra hipótese que tem circulado na mídia desde sábado é a de
que outras polícias estariam investigando a morte de Safra, além
da procuradoria de Mônaco, como a francesa, inglesa e norte-americana. Mas Serdet, na tarde
de sábado, em entrevista aos jornalistas internacionais que acompanham o caso, deixou claro que
a investigação está sob a responsabilidade do Principado de Mônaco.
"Nós temos ligações com as polícias de todo o mundo e se elas tiverem informações a acrescentar
à investigação que fazemos em
Mônaco estamos prontos a recebê-las", respondeu Serdet a um
jornalista que perguntou se o FBI
estaria colaborando com a polícia
local nas investigações.
O procurador declarou que as
investigações, a partir de hoje, vão
se concentrar em responder quatro perguntas essenciais: como
aconteceu o crime, como os supostos agressores chegaram ao
apartamento e saíram, como começou o incêndio e quais seriam
os motivos do crime.
Mas há ainda uma quinta pergunta no ar. Por que Safra, depois
de tomar conhecimento de que a
polícia já estava no prédio e o autorizava a sair do banheiro -no
qual se refugiou para se proteger
dos dois agressores- e depois de
receber um telefonema de sua esposa Lily confirmando a informação, não abriu a porta, que, segundo Serdet, estava trancada por
dentro, e saiu do local?
Safra, um dos homens mais ricos do mundo, dono de uma fortuna estimada em U$ 3,3 bilhões,
preocupava-se com sua segurança. Na sua mansão La Leopolda
(leia texto nesta página), também
situada em Mônaco, ele chegou a
construir um abrigo antiatômico.
Suspeita-se que a família Safra
tenha contratado ex-integrantes
do Mossad (serviço secreto israelense) para fazer parte do corpo
de segurança. O procurador Serdet, que não informou a nacionalidade do atual chefe de segurança
do banqueiro, Samuel Cohen, disse não saber se ele fazia parte do
Mossad.
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