São Paulo, Segunda-feira, 06 de Dezembro de 1999


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CRIME EM MÔNACO
Procuradoria inicia investigação oficial; fitas de câmera interna do prédio serão analisadas
Banqueiro é enterrado hoje em Genebra

FÁTIMA GIGLIOTTI
enviada especial a Mônaco

Hoje o procurador-geral de Mônaco, Daniel Serdet, abre oficialmente uma informação judicial criminal (procedimento similar a um inquérito) sobre os fatos que levaram à morte de Safra e de sua enfermeira, Viviane Torrente.
O corpo de Edmond Safra, morto em um incêndio criminoso na madrugada de sexta-feira em seu apartamento no prédio Belle Epoque, situado em Montecarlo, Principado de Mônaco, seguiu ontem para Genebra, onde será enterrado.
Vizinhos ao velório da cidade, onde estaria o corpo de Safra depois de ser liberado na sexta à tarde pela polícia, após a autópsia que confirmou sua morte por asfixia, afirmaram que houve uma grande movimentação de carros e pessoas em frente ao local por volta do meio-dia.
O enterro de Safra acontece às 8h (horário de Brasília), no cemitério judaico Veyrier, na cidade suíça, depois de ser velado na sinagoga Beth Yacob. Mas, em Mônaco, o mistério que cerca a morte do banqueiro continua.
Serdet afirmou que ontem deveriam ser investigadas as fitas das câmeras internas do apartamento de Safra e do prédio Belle Epoque, das quais ele tomou conhecimento apenas no sábado. Os registros das câmeras externas ao prédio, analisados no sábado, nada revelaram.
Espera-se que essas fitas confirmem o depoimento do enfermeiro do banqueiro, que restabelece-se no hospital Princesa Grace de dois golpes de faca na coxa e no abdômen, recebidos supostamente por dois homens encapuzados, antes do início do incêndio.
A identidade do enfermeiro, um americano de 41 anos, é mantida em segredo pela procuradoria, por medida de segurança. Mas, até agora, a única fonte de informação sobre a presença dos dois agressores no apartamento é o depoimento do enfermeiro, porque nenhuma das provas materiais colhidas durante a investigação, até sábado, confirmavam o fato.
De qualquer maneira, como havia apenas três entradas para o apartamento do banqueiro, as escadas, o elevador e um acesso externo, que liga-se ao vizinho Hotel Hermitage, todas dotadas de sistemas de segurança extremamente sofisticados, o procurador Serdet declarou que vai investigar com Lily Monteverde, mulher de Safra, e os empregados do banqueiro como era feito o controle das chaves pela família.
Essa afirmação leva a crer que uma das hipóteses consideradas pela procuradoria de Mônaco na investigação é a de que o crime pode ter sido cometido com a colaboração de alguém do círculo de pessoas próximas a Safra.
Outra hipótese, mencionada sobretudo pela mídia inglesa, liga o crime à máfia russa. O jornal "Financial Times" afirmou que Safra teria se indisposto com membros da máfia russa porque o Republic Bank of New York, de propriedade do banqueiro, estaria ajudando as autoridades americanas a monitorar uma suposta lavagem de dinheiro feita pelos russos por meio de bancos estrangeiros.
O jornal inglês "The Independent" disse que fontes do meio bancário afirmaram que o banqueiro Safra sabia que sua vida estava em perigo. O procurador Serdet, no entanto, confirmou no sábado que não tinha conhecimento de que Safra tivesse sofrido ameaças de morte em Mônaco.
Contudo, a revista "Méditerranée", suplemento local do jornal "Le Figaro", que circula aos domingos na Riviera Francesa, faz um inventário da presença e atividade das máfias na Côte d'Azur francesa, onde situa-se o Principado de Mônaco. Na reportagem, afirma que a máfia russa desvia fundos do mercado imobiliário e das indústrias da região.
Outra hipótese que tem circulado na mídia desde sábado é a de que outras polícias estariam investigando a morte de Safra, além da procuradoria de Mônaco, como a francesa, inglesa e norte-americana. Mas Serdet, na tarde de sábado, em entrevista aos jornalistas internacionais que acompanham o caso, deixou claro que a investigação está sob a responsabilidade do Principado de Mônaco.
"Nós temos ligações com as polícias de todo o mundo e se elas tiverem informações a acrescentar à investigação que fazemos em Mônaco estamos prontos a recebê-las", respondeu Serdet a um jornalista que perguntou se o FBI estaria colaborando com a polícia local nas investigações.
O procurador declarou que as investigações, a partir de hoje, vão se concentrar em responder quatro perguntas essenciais: como aconteceu o crime, como os supostos agressores chegaram ao apartamento e saíram, como começou o incêndio e quais seriam os motivos do crime.
Mas há ainda uma quinta pergunta no ar. Por que Safra, depois de tomar conhecimento de que a polícia já estava no prédio e o autorizava a sair do banheiro -no qual se refugiou para se proteger dos dois agressores- e depois de receber um telefonema de sua esposa Lily confirmando a informação, não abriu a porta, que, segundo Serdet, estava trancada por dentro, e saiu do local?
Safra, um dos homens mais ricos do mundo, dono de uma fortuna estimada em U$ 3,3 bilhões, preocupava-se com sua segurança. Na sua mansão La Leopolda (leia texto nesta página), também situada em Mônaco, ele chegou a construir um abrigo antiatômico.
Suspeita-se que a família Safra tenha contratado ex-integrantes do Mossad (serviço secreto israelense) para fazer parte do corpo de segurança. O procurador Serdet, que não informou a nacionalidade do atual chefe de segurança do banqueiro, Samuel Cohen, disse não saber se ele fazia parte do Mossad.


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