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OPINIÃO ECONÔMICA
Segunda-feira ao sol
GESNER OLIVEIRA
Sem uma estratégia de crescimento sustentado, os trabalhadores brasileiros estarão condenados a passar por muito tempo a "Segunda-Feira ao Sol", como no belo filme de Fernando
León de Aranoa, mas sem uma
rede de proteção mínima a que
tem acesso o desempregado europeu.
Os números do desemprego são
dramáticos. Um em cada cinco
trabalhadores da região metropolitana de São Paulo está desocupado. Na média das seis maiores
regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, a taxa de desemprego atingiu 12,9% em outubro,
contra 11,2% de outubro de 2002 e
10,5% no momento do início do
governo Lula.
A recuperação em curso não é
suficiente, por si mesma, para inverter essa situação. Embora haja
sinais de melhora na disposição
das empresas em contratar mais,
o emprego só vai crescer de forma
expressiva se as empresas apostarem em uma retomada duradoura da atividade econômica.
O PIB deve crescer em torno de
4% em 2004, mas nada garante
que o emprego cresça em uma
proporção razoável. Isso exige
uma elevação do investimento,
que, por sua vez, requer regras estáveis e transparentes, aliadas a
uma estratégia clara de crescimento, hoje inexistente.
O programa de geração de emprego do PT durante as últimas
eleições presidenciais já era irrealista ao prometer a criação de 10
milhões de empregos nos quatro
anos de governo. Diante dos números de 2003, tornou-se espetacularmente irrealista!
O programa "Mais e Melhores
Empregos 2002", publicado pela
campanha do presidente Lula,
prometia um crescimento anual
médio do PIB de 5% ao ano durante seu mandato. Considerando a expectativa do Ipea divulgada nesta semana de crescimento
de 0,2% em 2003, seria necessária
uma expansão de 6,7% anuais
nos três anos restantes do atual
governo para atingir a hipótese
de crescimento de 5% que estava
por trás dos 10 milhões de empregos.
Esse número de 6,7% equivale a
2,5 vezes a média de crescimento
do período posterior ao Plano
Real e é quase o dobro da taxa de
expansão que vários analistas
projetam para o PIB potencial
brasileiro na próxima década,
considerando os atuais entraves
ao desenvolvimento.
Isso sem contar o fato de que,
entre dezembro de 2002 e outubro
de 2003, o número de desempregados aumentou em 648 mil nas
seis regiões metropolitanas da
Pesquisa Mensal de Emprego do
IBGE. Fazendo uma extrapolação simples dessa perda para o
conjunto do país e seguindo a metodologia do documento de campanha do PT, chega-se à conclusão de que o Brasil teria de crescer
a um ritmo anual de 7,9% nos
próximos três anos para cumprir
as promessas de campanha no tocante à geração de empregos!
Mas nem esse espetáculo de
crescimento que o Brasil não tem
conseguido nas últimas duas décadas resolveria o pesadelo da segunda-feira para os trabalhadores brasileiros. Nenhum programa de geração de empregos pode
repousar exclusivamente sobre o
crescimento da economia.
E, de fato, de acordo com o programa do PT, 4,7 milhões dos 10
milhões de empregos prometidos
viriam de duas outras fontes. Seriam gerados 3,2 milhões pela redução da jornada de trabalho e
1,47 milhão por uma suposta mudança no padrão dos gastos públicos.
No entanto, nada mudou em
relação aos gastos do governo que
indicasse um maior coeficiente de
emprego. Se algo ocorreu, foi no
sentido contrário. A política fiscal
continua voltada para a elevação
da carga tributária, que, por sua
vez, deprime o crescimento, sem
atentar para a urgente racionalização das despesas do setor público.
No tocante à redução da jornada de trabalho, o tema simplesmente saiu da pauta política.
Trata-se de mais um descumprimento das promessas de campanha, mas que veio para o bem,
pois a experiência na Europa e na
França em particular não recomenda esse tipo de providência
como fonte de criação de mais
postos de trabalho.
Sem uma estratégia de crescimento e sem um programa
abrangente de geração de emprego, o governo deixará os trabalhadores caminhando nas nuvens
à procura de um lugar ao sol no
cada vez mais competitivo mercado de trabalho.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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