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LUÍS NASSIF
A retórica da não-solução
O economista e empresário Cláudio Haddad tem
idéias que podem ser questionadas por estabelecer relações claras de causalidade. É um avanço
fantástico sobre os cabeças de
planilha.
Em seu último artigo no "Valor", Haddad investe contra a
proposta de política econômica
alternativa de baixar juros e desvalorizar o câmbio -receita que
teria garantido o crescimento
continuado da China-, em contraposição ao modelo atual de
real valorizado e juros altos.
Em sua opinião, há uma diferença básica entre a China e o
Brasil. A primeira tem poupança
alta e dívida baixa como proporção do Produto Interno Bruto; o
Brasil tem a situação inversa. O
que ocorreria em caso de implementação da nova proposta?
Com baixa poupança, não haveria recursos para investimentos
na produção e uma propensão
ao aumento da demanda. Com
câmbio desvalorizado, aumentariam as exportações. Essa combinação de crescimento da demanda interna e externa, sem
investimentos adicionais, não seria suportada pela capacidade
instalada no país, e o modelo se
inviabilizaria.
Ótimo! Raciocínio que pode ser
questionado ou apoiado por definir relações causais objetivas,
apesar de ter incorrido no paradoxo de Tostines: o Brasil tem dívida alta porque praticou juros
altos, e não o contrário.
Na visão de Haddad, a única
alternativa do país seria manter
juros altos e câmbio apreciado
enquanto a dívida pública não
for equacionada e a poupança
interna não aumentar. O país
não pode crescer enquanto tiver
dívida alta e não houver investimentos no setor produtivo; para
não crescer, há que manter juros
altos; com juros altos, a dívida
continuará crescendo e não haverá investimentos no setor produtivo. Brilhantemente, Haddad
produziu uma não-solução.
Despida das simplificações retóricas a que foi reduzida por
Haddad, a proposta alternativa
tem uma lógica que merece discussão mais aprofundada.
Ninguém está propondo juros
norte-americanos no Brasil por
passe de mágica. Há que ser um
processo gradativo acompanhado de um choque de gestão na
área pública que reduza os desperdícios nos gastos correntes
-e não nos investimentos.
Enquanto não há o ambiente
adequado à redução drástica de
juros, é preciso encontrar setores
em que a taxa de retorno seja superior às taxas de juros da economia, para mobilizar investimento produtivo. Esse setor seria o
exportador, caso houvesse um
choque de câmbio vigoroso e sustentado capaz de compensar a
falta de competitividade sistêmica da economia. Os investimentos começariam por esse setor
-como já ocorre com os agronegócios.
É tarefa fácil? É evidente que
não. Teria que haver um plano
de vôo, uma implementação segura, sinalizando para o mercado a redução consistente da dívida pública e a segurança para investimento em setores exportadores. Seus formuladores teriam
que provar serem possíveis cortes
drásticos de gastos públicos em
um país com demandas gigantescas na área social.
É uma discussão difícil que não
comporta as simplificações com
que vem sendo tratada.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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