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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Em 11 meses, taxa soma 8,74%, diz o IBGE; 8,50% serão atingidos só se houver deflação de 0,21% neste mês

Inflação até novembro já supera meta do BC

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,34% em novembro, pouco acima do 0,29% de outubro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No acumulado do ano, a inflação ficou, pela primeira vez, acima da meta do BC (Banco Central), de 8,50% para este ano. A taxa acumula alta de 8,74%.
A menos que haja forte deflação neste mês -de 0,21%, segundo cálculo do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)-, a meta de inflação de 2003 já foi estourada.
Não é, porém, um problema, segundo avaliação de especialistas ouvidos pela Folha. Isso porque a inflação está em trajetória firme de queda desde o final do primeiro semestre, convergindo para a meta de 2004. O ano de 2003 começou com taxas bem maiores -em janeiro, o IPCA ficou em 2,25%, embalado ainda pela crise cambial de 2002.
Em novembro, os principais impactos de aumento foram os reajustes dos ônibus urbanos no Rio e das loterias da Caixa Econômica Federal. Cada um contribuiu com 0,05 ponto percentual na inflação do mês. Pressionaram para baixo as menores variações dos alimentos -especialmente do frango- e a queda dos preços dos combustíveis.
Para Marcela Prada, da Tendências Consultoria, a inflação do mês ficou "muito perto" das projeções. "A inflação está sob controle, com os preços tendo variações pequenas", afirmou.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, o desaquecimento do consumo é um dos motivos para o controle da inflação nos últimos meses do ano. "A demanda enfraquecida por causa da renda em queda teve influência generalizada para puxar as taxas de inflação para baixo neste ano", disse.
Segundo a gerente, a estabilidade do dólar fez a inflação cair a partir de junho, mantendo taxas reduzidas por todo o segundo semestre.
Para Carlos Thadeu de Freitas Filho, da UFRJ, pela primeira vez neste ano a inflação dos preços livres (aqueles sujeitos à política monetária) convergiu para a meta de 2004: teve alta de 5,5% em 12 meses. Esse percentual é o ponto central da meta de 2004, que pode oscilar dois pontos para cima ou para baixo.
"A meta de 2004 está mais factível com o cenário de estabilidade cambial", disse Marcelo Cypriano, do BankBoston.

Tarifas
No acumulado do ano até novembro, o item ônibus urbano também foi o que mais pesou na inflação, com impacto de 0,91 ponto. Da inflação no ano, 3,53 pontos percentuais vieram de preços administrados e tarifas públicas, diz o IBGE. Os alimentos tiveram peso menor: 1,69 ponto.
Em 2003, dois grupos impediram uma alta ainda maior da inflação: alimentos e combustíveis. A gasolina subiu bem menos do que a inflação, com aumento de apenas 0,89% no ano.

Credibilidade
Na visão de Freitas Filho, ao não cumprir a meta, o Banco Central fica com a credibilidade arranhada e, com isso, perde força no combate à inflação. "O grande ganho do Banco Central é que as pessoas acreditem que ele vai reagir aos choques. Para isso, é preciso que ele tenha credibilidade."
Já Marcela Prada diz que o não-cumprimento da meta reflete uma questão pontual e não afeta a imagem do Banco Central.


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