São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O mundo real ainda vai muito bem


Outubro mostra alta forte da indústria, da produção de máquinas e reação em relação a bens importados

A INDÚSTRIA foi muito bem em outubro. Em termos anualizados (nos últimos 12 meses), cresceu 5,28%, o melhor resultado desde julho de 2005. A indústria de máquinas, equipamentos e instalações produtivas, de bens de capital, subiu 16,85% nesse período, melhor marca desde fevereiro de 2005. Menos evidente, mas importante, é que se reafirma a capacidade da indústria de recuperar terreno mesmo diante da forte alta da importação.
Em 12 meses, a importação de bens de capital cresceu 33%, o que não se via desde os primeiros anos do Plano Real. Parece ruim a importação de máquinas e equipamentos crescer ao dobro da velocidade da produção nacional. Mas, faz dois anos, a importação crescia cinco vezes mais rápido.
Câmbio melhor, menos impostos, transportes melhores etc., o blá-blá habitual (chato, mas justificado), teriam resultado talvez em recuperação mais forte. "Talvez", pois a indústria brasileira de certos equipamentos não satisfaz a demanda de vários setores industriais de ponta nem tem a capacidade de oferecer máquinas e equipamentos no ritmo demandado por fábricas e construtoras. Em particular no setor de construção, petróleo e eletricidade, há espera de meses para a entrega de equipamento pesado. A demanda está forte. Basta ver que o crédito imobiliário é ora 42% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado (afora financiamento direto de construtoras).
No caso dos bens intermediários (insumos industriais, matérias-primas elaboradas etc.), também se vê recuperação. No primeiro trimestre, a importação de bens intermediários crescia entre cinco e seis vezes mais do que a indústria de transformação. Agora, tal relação anda pela casa de duas a três vezes. Ajudou o fato de a indústria de transformação ter dobrado o ritmo de crescimento desde outubro do ano passado.
Além do mais, o próprio resultado do crescimento da importação de insumos neste segundo semestre, que anda pela casa de 20% ao mês, é sinal de que os industriais estão confiantes. O mesmo pode-se dizer do consumo de bens de capital, ainda que a maior parte do setor não tenha voltado ao crescimento do final do bom ano de 2004 -as exceções são bens de capital para o setor agrícola, que vivera feia recessão em 2005 e em 2006, e os fornecedores do setor elétrico. Mas, segundo cálculos dos economistas do Bradesco, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (importação mais produção doméstica, menos exportações) está crescendo, em termos anualizados, em média, a 30% ao mês neste segundo semestre (contra 17% da primeira metade do ano).
A massa salarial (medida pelo IBGE) deve crescer neste ano perto dos 6,4% de 2006. O consumo das famílias deve crescer 30% mais do que no ano passado. Não há inflação de salários. Há o problema da alta dos alimentos, de futuro incerto.
O problema estrutural mais imediato continua a ser o de energia, embora seja preciso lembrar que a situação fiscal ainda é ruim e corre o risco de piorar e que o real está forte demais. Mesmo não sonhando com grandes mudanças, tais problemas poderiam ser bem menores se o governo segurasse seus gastos. Mas o besouro brasileiro ainda assim voa.

vinit@uol.com.br


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