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VINICIUS TORRES FREIRE
O mundo real ainda vai muito bem
Outubro mostra alta forte
da indústria, da produção de máquinas e reação em relação a bens importados
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A INDÚSTRIA foi muito bem em
outubro. Em termos anualizados (nos últimos 12 meses),
cresceu 5,28%, o melhor resultado
desde julho de 2005. A indústria de
máquinas, equipamentos e instalações produtivas, de bens de capital,
subiu 16,85% nesse período, melhor
marca desde fevereiro de 2005. Menos evidente, mas importante, é que
se reafirma a capacidade da indústria de recuperar terreno mesmo
diante da forte alta da importação.
Em 12 meses, a importação de
bens de capital cresceu 33%, o que
não se via desde os primeiros anos
do Plano Real. Parece ruim a importação de máquinas e equipamentos
crescer ao dobro da velocidade da
produção nacional. Mas, faz dois
anos, a importação crescia cinco vezes mais rápido.
Câmbio melhor, menos impostos,
transportes melhores etc., o blá-blá
habitual (chato, mas justificado), teriam resultado talvez em recuperação mais forte. "Talvez", pois a indústria brasileira de certos equipamentos não satisfaz a demanda de
vários setores industriais de ponta
nem tem a capacidade de oferecer
máquinas e equipamentos no ritmo
demandado por fábricas e construtoras. Em particular no setor de
construção, petróleo e eletricidade,
há espera de meses para a entrega de
equipamento pesado. A demanda
está forte. Basta ver que o crédito
imobiliário é ora 42% maior do que
o registrado no mesmo período do
ano passado (afora financiamento
direto de construtoras).
No caso dos bens intermediários
(insumos industriais, matérias-primas elaboradas etc.), também se vê
recuperação. No primeiro trimestre,
a importação de bens intermediários crescia entre cinco e seis vezes
mais do que a indústria de transformação. Agora, tal relação anda pela
casa de duas a três vezes. Ajudou o
fato de a indústria de transformação
ter dobrado o ritmo de crescimento
desde outubro do ano passado.
Além do mais, o próprio resultado
do crescimento da importação de
insumos neste segundo semestre,
que anda pela casa de 20% ao mês, é
sinal de que os industriais estão confiantes. O mesmo pode-se dizer do
consumo de bens de capital, ainda
que a maior parte do setor não tenha
voltado ao crescimento do final do
bom ano de 2004 -as exceções são
bens de capital para o setor agrícola,
que vivera feia recessão em 2005 e
em 2006, e os fornecedores do setor
elétrico. Mas, segundo cálculos dos
economistas do Bradesco, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (importação mais produção
doméstica, menos exportações) está
crescendo, em termos anualizados,
em média, a 30% ao mês neste segundo semestre (contra 17% da primeira metade do ano).
A massa salarial (medida pelo
IBGE) deve crescer neste ano perto
dos 6,4% de 2006. O consumo das
famílias deve crescer 30% mais do
que no ano passado. Não há inflação
de salários. Há o problema da alta
dos alimentos, de futuro incerto.
O problema estrutural mais imediato continua a ser o de energia,
embora seja preciso lembrar que a
situação fiscal ainda é ruim e corre o
risco de piorar e que o real está forte
demais. Mesmo não sonhando com
grandes mudanças, tais problemas
poderiam ser bem menores se o governo segurasse seus gastos. Mas o
besouro brasileiro ainda assim voa.
vinit@uol.com.br
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