São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007

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Pela 2ª vez, BC mantém juros em 11,25%

Copom aponta preocupação com crescimento da economia e o conseqüente impacto na inflação; decisão é unânime

Estimativa de analistas é que taxa Selic só volte a ser reduzida em abril; próxima reunião, em janeiro, já terá novos diretores

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela segunda vez seguida, o Banco Central optou por não mexer nos juros básicos da economia, mantendo a taxa Selic em 11,25% ao ano. A decisão, tomada ontem na última reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), foi adotada por unanimidade pelos diretores da instituição.
"Avaliando a conjuntura econômica e o cenário prospectivo para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic", informou o Banco Central por meio de nota. Foi o último encontro realizado pela atual diretoria do BC.
Dos sete membros do Copom, dois já anunciaram suas demissões e outras duas diretorias, que hoje são acumuladas por uma mesma pessoa, voltarão a ser comandadas por diretores diferentes. Assim, a partir da primeira reunião de 2008, marcada para 22 e 23 de janeiro, o comitê passará a ser formado por oito pessoas, sendo três os novos diretores.
A dúvida é sobre o efeito que essa mudança pode ter sobre as decisões de juros. Os três novos diretores são funcionários de carreira do BC, e, no mercado, especula-se que isso possa ser sinal de que a influência do presidente Henrique Meirelles vá crescer. Esse raciocínio parte do princípio de que diretores sem muita experiência no mercado financeiro teriam o hábito de acompanhar o voto de Meirelles nas reuniões do Copom.
Pesquisa feita pelo BC na sexta passada com cerca de cem analistas de mercado mostrava que a expectativa é que os juros só voltem a cair em abril, na terceira reunião do Copom marcada para 2008. Ao longo de 2007, a taxa Selic acumulou queda de dois pontos percentuais. A trajetória de queda, porém, foi interrompida em outubro, quando o BC pôs fim a uma seqüência de redução dos juros que durou dois anos.
O motivo para a manutenção dos juros foi o receio de que a economia possa estar crescendo num ritmo muito acelerado, o que poderia causar um aumento da inflação no futuro. Segundo o BC, esse temor é ainda mais justificado quando se considera que a taxa Selic já foi reduzida em oito pontos percentuais de 2005 para cá, pois, na visão dos diretores da instituição, a economia brasileira ainda não sentiu por completo os efeitos dessa redução.
O BC afirma que o impacto total de uma mudança nos juros pode levar até 15 meses para ocorrer. Nesse caso, o risco seria continuar com a redução dos juros para, dentro de alguns meses, perceber que o impulso dado à economia pelos cortes anunciados ao longo de 2007 é ainda mais forte do que se imaginava.
Com um crescimento mais forte do que o esperado, as empresas poderiam não ser capazes de expandir sua produção a tempo de atender o aumento do consumo. Um dos indicadores acompanhados pelo BC para medir esse risco é o nível de utilização da capacidade instalada da indústria, que no mês passado chegou a 84,3%, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Isso significa que 84,3% de todas as máquinas e equipamentos instalados no país estão em uso, nível mais alto registrado pela pesquisa desde 2003, num sinal de que a margem que as empresas têm para expandir sua produção não é muito grande.
Por outro lado, a alta do real favorece as importações. Ou seja, mesmo que a indústria brasileira não fosse capaz de atender todo o aumento do consumo, parte da maior demanda poderia ser atendida por mercadorias estrangeiras, aliviando pressões sobre a inflação.


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