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Pela 2ª vez, BC mantém juros em 11,25%
Copom aponta preocupação com crescimento da economia e o conseqüente impacto na inflação; decisão é unânime
Estimativa de analistas
é que taxa Selic só volte a ser
reduzida em abril; próxima reunião, em janeiro,
já terá novos diretores
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela segunda vez seguida, o
Banco Central optou por não
mexer nos juros básicos da economia, mantendo a taxa Selic
em 11,25% ao ano. A decisão, tomada ontem na última reunião
do ano do Copom (Comitê de
Política Monetária do BC), foi
adotada por unanimidade pelos diretores da instituição.
"Avaliando a conjuntura econômica e o cenário prospectivo
para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a
taxa Selic", informou o Banco
Central por meio de nota. Foi o
último encontro realizado pela
atual diretoria do BC.
Dos sete membros do Copom, dois já anunciaram suas
demissões e outras duas diretorias, que hoje são acumuladas
por uma mesma pessoa, voltarão a ser comandadas por diretores diferentes. Assim, a partir
da primeira reunião de 2008,
marcada para 22 e 23 de janeiro, o comitê passará a ser formado por oito pessoas, sendo
três os novos diretores.
A dúvida é sobre o efeito que
essa mudança pode ter sobre as
decisões de juros. Os três novos
diretores são funcionários de
carreira do BC, e, no mercado,
especula-se que isso possa ser
sinal de que a influência do presidente Henrique Meirelles vá
crescer. Esse raciocínio parte
do princípio de que diretores
sem muita experiência no mercado financeiro teriam o hábito
de acompanhar o voto de Meirelles nas reuniões do Copom.
Pesquisa feita pelo BC na
sexta passada com cerca de cem
analistas de mercado mostrava
que a expectativa é que os juros
só voltem a cair em abril, na
terceira reunião do Copom
marcada para 2008. Ao longo
de 2007, a taxa Selic acumulou
queda de dois pontos percentuais. A trajetória de queda, porém, foi interrompida em outubro, quando o BC pôs fim a uma
seqüência de redução dos juros
que durou dois anos.
O motivo para a manutenção
dos juros foi o receio de que a
economia possa estar crescendo num ritmo muito acelerado,
o que poderia causar um aumento da inflação no futuro.
Segundo o BC, esse temor é ainda mais justificado quando se
considera que a taxa Selic já foi
reduzida em oito pontos percentuais de 2005 para cá, pois,
na visão dos diretores da instituição, a economia brasileira
ainda não sentiu por completo
os efeitos dessa redução.
O BC afirma que o impacto
total de uma mudança nos juros pode levar até 15 meses para ocorrer. Nesse caso, o risco
seria continuar com a redução
dos juros para, dentro de alguns meses, perceber que o impulso dado à economia pelos
cortes anunciados ao longo de
2007 é ainda mais forte do que
se imaginava.
Com um crescimento mais
forte do que o esperado, as empresas poderiam não ser capazes de expandir sua produção a
tempo de atender o aumento
do consumo. Um dos indicadores acompanhados pelo BC para medir esse risco é o nível de
utilização da capacidade instalada da indústria, que no mês
passado chegou a 84,3%, segundo a CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
Isso significa que 84,3% de
todas as máquinas e equipamentos instalados no país estão em uso, nível mais alto registrado pela pesquisa desde
2003, num sinal de que a margem que as empresas têm para
expandir sua produção não é
muito grande.
Por outro lado, a alta do real
favorece as importações. Ou seja, mesmo que a indústria brasileira não fosse capaz de atender todo o aumento do consumo, parte da maior demanda
poderia ser atendida por mercadorias estrangeiras, aliviando pressões sobre a inflação.
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